WILLIAM
A respiração de Lucy tranquilizou-se, até ficar regular, então eu soube que ela havia adormecido. Beijei-lhe os cabelos e a apertei mais contra mim, parecia que por mais que estivéssemos o mais próximos possível, não era o suficiente. Não consegui dormir, então deixei minha mente voar para a direção que ela quisesse. Eu não sabia o que estava sentindo. Esse foi o primeiro tópico que surgiu. O que eu estava fazendo? Por que eu estava fazendo isso? Porque eu estava fazendo coisas que eu tinha me proibido de fazer? Eu estava quebrando todas as regras que eu tinha meticulosamente planejado e seguido a risca.
Não me lembro quando isso começou mas algumas coisas, as do topo da lista, eram nítidas. Primeiramente, eu tirei sua virgindade, algo que eu prometi para mim mesmo que não faria nem por todo tesouro do mundo e acreditem, eu tinha recebido propostas com recompensas bem próximas a isso. Segundo, ela é a filha de um duque. UM DUQUE. Nunca foi de meu feitio me envolver com garotas de boa família, aquelas que sempre sonham com o marido perfeito, casamente e blá blá blá; a maioria eram mulher bem vividas e que sabiam as condições para dormir comigo: sem esperanças, sem apego e apenas uma vez. Era apenas sexo e cada um seguia o seu caminho.
Continuando...
Terceiro, ela não precisou nem mesmo insistir naquela festa para que eu viesse embora, eu cedi facilmente e quando chegamos aqui, eu praticamente tinha rastejado para que ela ficasse comigo; e na mesma noite eu rejeitei uma mulher bonita e que eu conhecia há muitos anos, a qual eu sabia tudo sobre. E por último, mas não menos preocupante, aqui estou eu, deitado na cama com uma mulher nua e não estamos fazendo nada malicioso e pervertido. Estamos apenas deitados aqui, Lucy adormecida em meus braços, como um casal. Casal? Eu tenho que tirar essas merdas da minha cabeça. Lucy moveu-se e logo seus olhos meigos estavam me encarando.
- Boa tarde, bela adormecida - falei, não conseguindo reprimir um sorriso e beijei-lhe a testa.
- Você ainda está aqui - ela murmurou, sua voz embargada pelo sono.
- Sim, ainda estou - as comissuras dos meus lábios ergueram-se ainda mais - você deve estar faminta - falei quando me lembrei que ela não havia comido nada.
- Eu poderia comer um boi - ela falou e seu estômago roncou confirmando o que ela dizia.
- Já notei - falei rindo e me levantei, coloquei minha cueca e uma bermuda.
- Quantas horas? - Lucy perguntou, sentando-se na cama e esfregando os olhos.
- 1:00 p.m. Você dormiu bastante.
- Ai céus, preciso ir - começou a juntar suas coisas e se vestir.
- Como assim? - perguntei - Não vai não.
- Sim, Júlia deve estar preocupada porque ainda não voltei - ela já tinha seu vestido posto, faltando apenas as sandálias.
- Ela sabe que você está comigo - me aproximei dela, rodeei sua cintura com os braços e selei seus lábios laconicamente.
- Mas mesmo assim... - ela parou quando uma batida soou do lado de fora. Só poderia ser Nina, ninguém mais nos procuraria aqui.
- Eu atendo - sussurrei e caminhei até a porta. Bem, definitivamente não era quem eu pensei que fosse.
- É, Lucy... - comecei encarando com olhos grandes a pessoa do outro lado.
LUCIANA
Sentei-me na cama enquanto William caminhava para atender a porta.
- É, Lucy... - ele começou e seus olhos estavam arregalados como pratos, franzi o cenho e me coloquei de pé.
- Prazer em revê-lo - antes que eu pudesse alcançar a porta, o convidado inesperado pulou com um sorriso enorme no rosto, abraçou William e o beijou em cada lado de sua face. E na verdade, era a convidada.
- Diana? - escapou como um grito da minha garganta antes que eu pudesse reprimi-lo - o que diabos você está fazendo aqui?
- Também estou feliz em vê-la, maninha - ela largou William e voltou sua atenção para mim, rodeando-me com os braços, tirando-me o ar dos pulmões - e pare de blasfemar, não é legal para uma garota.
- Devia ver o que ela disse mais cedo - William falou ao meu lado e eu finquei o cotovelo em suas costelas - Ai! - reclamou, esfregando o local.
- O que ela disse? - Di inclinou-se e sussurrou para o homem ao meu lado como se fosse um complô; William sorriu e se aproximou mais dela.
- Ela disse... - cravei novamente em suas costelas - Ai! Você tem que parar com isso.
- Desculpe-me, tem vida própria - dei um sorriso irônico e olhei para Diana com uma sobrancelha arqueada - enfim, o que está fazendo aqui?
- Bem, eu liguei para seu celular e sua amiga Júlia me disse onde você estava e aqui estou eu.
- Ex-amiga - falei irritada - eu não queria que você se envolvesse na minha bagunça - a abracei apertado.
- Eu sou sua irmã e eu queria estar com você, já não aguentava mais ficar sozinha naquela casa.
- Papai vai ficar uma fera - comentei.
- Ele já está dando ataques há muito tempo - ela disse rindo.
- É, eu deveria deixar vocês a sós? - William pigarreou e disse para que notássemos que ainda continuava ali.
- Não, nossa conversa acabou - falei e ri - e agora temos que voltar.
- Para onde? - Di perguntou, confusa.
- Estamos ficando um tempo na casa da Júlia e agora temos que voltar - eu a empurrei em direção à porta enquanto ela olhava sobre seu ombro.
- Tchau, Will, foi bom vê-lo - gritou e logo estava lá de fora.
- Desculpe-me por sair assim, mas tenho que ir - falei para William e antes que eu pudesse ir, ele segurou em minha mão.
- Volte mais tarde - pediu com a voz mansa.
- Hoje não dá - apontei com a cabeça para Diana, que tinha encontrado Jack lá fora.
- Tudo bem - suspirou derrotado, puxou-me de uma vez e me beijou, sua língua mostrando presença em minha boca rapidamente e então nos separamos.
- Tchau - falei em seu ouvido e sorri.
- Tchau - retribuiu e devolveu-me o sorriso.
Mais uma semana havia transcorrido e eu ainda estava tentando convencer Diana a voltar para casa, mas dizer que ela era teimosa como uma mula seria uma ofensa às pobres mulas. Eu havia visto William apenas duas vezes e rapidamente, ouvindo em seguida de Diana e Júlia, às vezes até mesmo da mãe da Ju, o quanto ele era bonito e as táticas para atrai-lo e prendê-lo como um animal, preferencialmente na cama.
- Eu não vou persegui-lo como uma psicopata - estava falando para as duas mexeriqueiras de plantão, deitada na cama e o braço sobre meus olhos.
- E por que não? - Diana perguntou naturalmente enquanto avaliava o estado de suas unhas perfeitamente polidas.
- Por que... - repeti para mim mesma - que tipo de pergunta é essa?
- Sabe que a vadiazinha o roubará se não fizer algo, não é? - Júlia apontou, referindo-se à Nina.
- Sim, ela está de olho nele e sabe, eles são muito próximos - Diana concordou.
- E conhecem um ao outro há muito tempo - Júlia acrescentou e aquele assunto estava começando a me dar nos nervos.
- Bem - falei em um tom irritado - se ele ficar com ela, quer dizer que não gosta de mim e estará fazendo-me um enorme favor - apontei ficando em pé - acho que deveríamos dar umas voltas.
- Sim, não aguento mais ficar em casa. Ficarei raquítica assim - Diana ficou em pé em um pulo e já estava com a mão na maçaneta.
- Raquitismo? Júlia perguntou franzindo o cenho.
- Claro, tipo sol, vitamina D, raquitismo - falou como se fosse óbvio e assim saímos.
- Acho que deveria visita-lo - Júlia comentou, dando de ombros.
- Na casa de sua mãe? Ficou louca? - arregalei os olhos e estremeci com a ideia - pensará que... eu e ele...
- Possuem mais do que um romance casual? - Diana intrometeu-se e eu a fuzilei com os olhos por seu comentário desnecessário.
Não que ela estivesse mentindo, eu também não sabia o que eu e William tínhamos e matava-me pensar que era apenas uma transa casual para ele; mas ele ainda não tinha mencionado nenhum avanço, nenhum namoro ou nem mesmo uma ficante fixa.
- Enfim, sim, na casa da mãe dele, diga que é apenas uma amiga de longo tempo e passou para vê-lo - Júlia continuou seu pensamento anterior.
No começo pareceu-me uma ideia absurda e William possivelmente a odiaria, mas agora talvez ele gostasse de me ver lá e poderíamos definir o que tínhamos.
- Tudo bem e onde fica? - suspirei, derrotada.
- Não muito longe - Ju falou com animação exalando por cada poro de seu corpo e seguimos caminho para a casa da senhora Drake. O lar dos Drake era uma pequena casa com aparência vistosa, porém parecia-me um tanto rústica, pintada com um tom próximo ao salmão ou cor da pele, a porta era de madeira e as janelas combinavam.
- É aqui - Júlia falou sem distanciar os olhos da casa por um momento, mas logo voltou-se para mim e sorriu - agora precisamos ir, não é Diana? - pegou minha irmã pelo cotovelo e já ia afastando-se.
- O quê? - soltei, horrorizada - não ficarão comigo?
- Claro que não, vocês precisam de privacidade - Diana resmungou.
- E acha que teremos isso na casa de sua mãe? Nada disso, vocês ficam.
- Vocês precisam se resolver e para isso precisam conversar a sós - com isso Júlia e Diana partiram, deixando-me em frente a casa da mãe de William com uma bela cara de tacho. Virei-me e me aproximei da porta.
- Ai, que ótimo - murmurei e cocei a cabeça, confusa se deveria mesmo fazer algo como isso. Respirei fundo e bati na porta, depois de alguns segundos uma mulher surgiu.
- Pois não? - ela perguntou com um sorriso simpático. Com certeza era a mãe de Will. Tinha os mesmos cabelos áureos, os mesmos olhos azul piscina e nesse momento eu pensei que William teve uma puta sorte por ter puxado sua mãe no quesito beleza, pois seu pai era feio como a peste.
- O que deseja querida? - perguntou a mulher, tirando-me dos meus pensamentos sobre sua aparência e a beleza de William.
- Olá, eu sou Luciana - estendi a mão.
- Nicole - ela limpou a mão no avental e balançou a minha com a sua.
- É, eu sou amiga do seu filho, William, e gostaria de vê-lo, ele está? - perguntei sem rodeios. Em uma de suas visitas à mim, Will tinha me contado que sua mãe morava na cidade e que passaria os dias com ela.
- Oh, não, mas entre e espere - afastou-se da porta para me dar passagem.
- Não, eu volto depois então - a ideia de ficar em um mesmo ambiente, com a mãe de William me avaliando, deixava-me um pouco desconfortável, então rechaçar a proposta foi fácil.
- Eu insisto, logo ele estará de volta - me proporcionou um sorriso tão genuíno e amigável que quando me vi já estava dentro da casa e olhando por dentro parecia tão confortável e acolhedora.