A última risada que dei ao lembrar do que havia acontecido foi cerca de cinco minutos atrás antes de entrar no meu apartamento e dar de cara com a Maria de malas prontas pra ir embora e agora estamos em uma discussão interminável.
Rafaela: ah Maria, faz o que você quiser!
Maria: Eu não quero ir embora.
Rafaela: então não vai -grito e vou pro meu quarto.
Odeio dramas, se ela realmente quisesse ir embora já teria ido e nem teria esperado eu voltar.
Vou pro meu quarto e tranco a porta, me atiro na cama e pego no sono.
Acordo são cerca de 14h, levanto devagar e vou me arrumar pra reunião com Luan e Sorocaba.
Saio de casa atrasada e pego um táxi próximo a minha casa. E vou pro café onde marcaram nosso encontro.
Desço correndo do táxi pois estou atrasada trinta e cinco minutos, avisto Luan e Sorocaba de longe e aceno para os dois, corro até eles e quando me aproximo dou um beijo no rosto do Luan e sento ofegante.
Os dois riam baixinho, num primeiro instante penso ser de mim mas ai me foi por conta do que acabei de fazer.
Ah, o beijo no rosto!
Rafaela: pensei que éramos pra ser naturais -me encolho
Sorocaba: ta certo! -riu.
Luan: atrasada como sempre!
Rafaela: ah, qual é. Uns minutinhos só
Luan: trinta e cinco!
Rafaela: tu contou? -rio
Sorocaba: cada minuto.
Foi a vez do Luan se encolher, achei fofo o constrangimento dele e o fato de ter contado cada minuto. Sorrio fraco pra ele e ele me devolve o sorriso um pouco tímido.
Passamos o restante da tarde conversando, Sorocaba propôs que Luan e eu gravassemos uma música juntos e não posso mentir, não achei uma ideia tão ruim. Só me senti mal pelo fato de ser só eu, sem a banda. Mas como seria um dueto romântico, entre os supostos namorados pensei que não seria tão estranho assim.
Luan me deu uma carona até em casa depois de desistir da ideia de irmos jantar juntos. Não quis pois estava cansada e amanhã teria mais um ensaio com os meninos. Contei ao Luan tudo o que aconteceu e ele ficou surpreso com a minha atitude mas não decepcionado, pensei que ele acharia que fui arrogante mas não, parece que levou aquilo com mais naturalidade que eu. Talvez eu não estivesse tão errada!
Entro no apartamento e tudo está silêncio, Maria não deve estar em casa e depois de muito tempo me sinto a vontade pra me atirar no meu próprio sofá. Fecho os olhos e repasso lentamente meu dia na minha cabeça, a tempestade logo de manhã e em seguida a calmaria da tarde. Nunca pensei que diria isso, mas me sinto mais a vontade com o Luan que com os meninos.
Sou despertada do meu momento reflexão com o meu celular berrando, atendo e em seguida ouço a voz do Gustavo um pouco aflita ao fundo.
Gustavo: você está em casa?
Rafaela: estou! Ta tudo bem?
Gustavo: ta sim, vou dar uma passadinha ai pra a gente conversar pode ser?
Rafaela: aham
Gustavo: ta bom Rafa, tchau
Desligo o celular. Ainda não me acostumei com o cinismo na voz do Gustavo ao me chamar de Rafa. Não que ele não se importasse comigo, mas ele nunca foi tão carinhoso assim. Sempre me tratou formalmente mas parece que depois que eu comecei a namorar o Luan, ele mudou comigo.
Me surpreendo como a ideia "namorar o Luan" soa natural pra mim. Acho que minha amizade com ele nos ajudou a tornar tudo isso mais aceitável a nós.
A campainha toca e eu vou atender, Gustavo entra todo sem jeito olhando para os lados, observando cada canto do meu pequeno apartamento desajeitado. Deve causar estranhesa nele uma pessoa morar num lugar tão pequeno comparado a sua casa.
Rafaela: fala o que tu quer.
Gustavo: eu vim conversar com você um negócio bem sério
Rafaela: senta ai
Ele senta no sofá virado pra mim. Cruza os grandes dedos sob seu colo e me olha de soslaio.
Rafaela: fala logo.
Gustavo: depois de todo o acontecido hoje...
Rafaela: ah não vai me dar bronca né -o interrompo, levanto do sofá e paro de frente pra ele.
Gustavo: calma Rafa -ri- senta ai
Me sento lentamente ao seu lado.
Gustavo: depois de todo o acontecimento hoje os meninos tiveram uma reunião -pausa- pra tratar sobre você.
Reviro os olhos e ele continua.
Gustavo: já quero que você saiba que eu não concordo com a opinião deles. Acho um ato extremo e desnecessário.
Rafaela: fala logo, para de enrolar.
Gustavo: eles decidiram tirar você da banda