A Viajante - A Resistência Se...

By autoratamiresbarbosa

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⚠ Atenção, este é o segundo livro da triologia "A Viajante". A sinopse pode conter spoilers! ⚠ Sem a ajuda de... More

Sobre o livro
Dedicatória
Epígrafe
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60

Capítulo 53

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By autoratamiresbarbosa

Na segunda, todos os estudantes da I.E.T só comentavam sobre as notas das provas que iriam ser entregues naquele dia. Camila não se sentia tão ansiosa como no ano anterior, mas se dissesse que não estava nem um pouco, seria mentira. E por ter estudado menos, sentia medo de reprovar.

— Estou com medo de repetir. — Lucas comentou em meio ao falatório dos alunos, na sala de aula.

— Se repetir, vai ser culpa sua. — Paty afirmou. — Não é como se eu não tivesse te ajudado. Quem ficou preocupado em ficar tendo dor de cotovelo não fui eu.

— Olha, eu não faço mais isso, e você sabe. Me esforcei o máximo que eu pude nessas provas! Além disso, pelo menos posso passar com a média seis, esse ano.

— Silêncio, pessoal! — A voz de Lia foi escutada vindo da frente da sala, e todos se calaram no mesmo instante. — Estou com as notas de vocês aqui, e irei chamar seus nomes para entregá-lo. — Ela fez uma pausa. — Venice Scarlett.

Venice se levantou e caminhou lentamente até Lia, parecendo apreensiva. Ao pegar a folhar e olhar seu conteúdo, ela finalmente suspirou e sorriu, caminhando rapidamente até Melina e dando pulinhos, em seguida.

— Christian Godoy. — E após Lia pronunciar o nome, o garoto de cabelos ruivos, que havia sido o representante no ano letivo anterior, se levantou de sua mesa no final da sala e foi até ela, pegando confiantemente sua folha sem nem ao menos olhar e indo se sentar, em seguida.

— Nossa. — Lucas pareceu surpreso. — Ele nem parecia preocupado com as notas.

— Christian é um dos melhores alunos da sala. Sempre tira as maiores notas da turma. — Paty comentou. — Depois de mim, é claro.

— Lucas... Monteiro. — Lia disse hesitantemente o nome, e ao fazer isso, lançou um rápido olhar a Lucas, antes de desviá-lo no mesmo instante.

Camila pôde sentir a tensão vindo de seu amigo. O viu levantar hesitantemente e ir em direção a Lia. Como se nem ao menos nunca tivessem se falado na vida, ela apenas o entregou o papel, sem dizer mais nenhuma palavra. Então, ele virou e se sentou, e olhar para o conteúdo da folha, ele sorriu.

— Consegui. Eu passei de ano! Eu sou demais! — Lucas disse animadamente.

— Eu sabia que iria conseguir! — Henrique sorriu.

— Melina Mudry. — Lia proferiu.

Camila assistiu Melina levantar de sua cadeira e ir pegar sua folha. Ao fazer, olhou para conteúdo e sorriu, enquanto voltava ao seu lugar.

— Advinha que vai ir para o terceirão! — Disse à Venice, e as duas deram gritinhos.

— Ótimo, aquelas duas de novo na nossa sala, ano que vem. — Paty bufou.

— Melina parece estar tentando mudar por causa da Leonie. — Camila argumentou. — E bem, eu não diria o mesmo de Venice, mas parece que ela está arrependida. Pelo menos um pouco.

— Não estou muito convencida.

— Leyla Scarlett. — E ao ser chamada, Camila se levantou e foi até Lia. Quando o fez, viu a menina lhe lançar o mesmo olhar do dia da prova de Química. Não pôde deixar de sentir-se desconfortável. Era um fato que Lia sabia que ela estava escondendo alguma coisa. Porém, desde que ela não soubesse exatamente o que, estava tudo bem.

Apenas tentou ignorar, pegou seu papel e se sentou. Ao fazer, olhou para conteúdo, e viu que não era tão diferente da que obteve no ao anterior, com exceção das notas. Ao lado do nome da escola, que ficava no alto da folha, centralizada, havia o brasão de duas espadas azuis da família Bennist.

Instituição de Ensino de Telúria.

Resultado das notas dos Exames prestados pelo(a) Aluno(a): Leyla Scarlett Brugière

Biologia: 6,5

Educação Física: 9,0

Filosofia: 8,5

Física: 6,0

Geografia: 8,0

História: 9,0

Literatura: 7,0

Matemática: 6,0

Português: 7,0

Sociologia: 8,0

Química: 10,0

O(a) aluno(a) está:

Aprovado(a)

Conseguiu se sentir feliz ao saber de seu resultado. Não havia se esforçado tanto quanto no ano anterior, porém, mesmo assim, havia conseguido se sair bem e isso a confortou, de alguma maneira.

— Como se saiu? — Paty lhe perguntou.

— Bem, até. Eu esperava coisa pior.

— Eu sabia que ia se sair bem. — Henrique sorriu, antes de se levantar para pegar sua folha, quando seu nome foi chamado por Lia.

— Você já tem ideia de quando vai ir ver os Viajantes? — Paty sussurrou em seu ouvido. — Hoje já é segunda, e é o último dia de aula.

— Não. — Respondeu no mesmo tom. — Vou ver com Dian quando formos liberados, se ele possui alguma informação.

— Como foi? — Lucas perguntou a Henrique, se sentou ao seu lado.

— Me saí normal. Não esperava uma nota alta. — Ele riu. — Já é o suficiente.

— Patrícia Narciso. — Lia a chamou depois de ter pronunciado mais alguns nomes, e Paty se levantou e caminhou confiantemente até ela. Após pegar seu papel, se sentou e passou o olho por ele. Ao fazer, sua expressão mudou para uma de espanto.

— I-isso é... isso é impossível!

— O que aconteceu? — Lucas se curvou para frente, tentando ver o conteúdo da folha que Paty segurava. Porém, ela apenas a puxou para baixo, tentando esconder. — Hum? — Ele pareceu confuso.

— Não olhem. I-isso é uma vergonha!

— O que é uma vergonha, Paty? — Camila perguntou.

Ela levantou sua folha e a colocou de cabeça para baixo, sobre a mesa. Em seguida, a arrastou lenta e hesitantemente na direção de Camila, que pegou o objeto e a virou. Henrique e Lucas se empoleiraram para frente para conseguirem ver também. Inicialmente, parecia ser a mesma folha que recebera, a única diferença eram as notas e o nome.

Instituição de Ensino de Telúria.

Resultado das notas dos Exames prestados pelo(a) Aluno(a): Patrícia Narciso Días

Biologia: 10,0

Educação Física: 10,0

Filosofia: 10,0

Física: 10,0

Geografia: 10,0

História: 10,0

Literatura: 10,0

Matemática: 9,5

Português: 10,0

Sociologia: 10,0

Química: 9,5

O(a) aluno(a) está:

Aprovado(a)

— Ainda não entendi.

— Como não? — Paty puxou o papel de sua mão, parecendo chateada e constrangida. — Precisa ter algo errado. Nove e meio? Isso não está certo!

— Você sabe que o Samuel faz isso porque ele não gosta que você o questione. — Henrique falou.

— Não estou falando de Química! — Ela bufou. — É minha nota em Matemática.

— Está assim por causa da sua nota em Matemática? — Lucas pareceu incrédulo. — Sério, você já viu a minha? Quem dera eu tirasse isso tudo.

— Não aceito isso! Tem que ter algo errado.

Quando foram liberados, Paty insistiu que iria até a sala dos Professores para resolver a questão de sua nota de Matemática. Camila, Lucas e Henrique resolveram ir junto, e durante todo o caminho, tentaram lhe dizer que não havia anda demais com sua nota. Camila particularmente não conseguia entender.

— Ah! — Ouviu Henrique exclamar quando chegaram no salão, e se virou para olhá-lo. Ele encarava ansiosamente o celular. — Eu preciso fazer uma coisa. Podem indo na frente. — O garoto apenas se virou e saiu andando na direção oposta.

Camila ficou tentada em saber o que havia acontecido. Pela expressão e reação dele, pareceu ter sido algo importante. Porém, apenas seguiu seu caminho com Paty e Lucas, torcendo para que não fosse nada de ruim.

Ao chegarem em frente à porta do local, Paty deu algumas batidas e esperou. Durante esse momento de espera, Camila não pôde deixar de lembrar da sua ida até lá para ver Anna Anorié. A primeira e última vez antes de ela ser morta por Daniel.

Balançou a cabeça em uma tentativa de afastar tais pensamentos. Havia sido uma época ruim, sim, mas não se comparava com a que estava enfrentando agora. Algumas pessoas perderam a vida, inclusive a própria Leyla, que só estava viva agora por conta da abertura do Portal. Porém, o destino de mais pessoas estava em jogo agora. Precisava focar no presente.

Passados alguns segundos, a porta se abriu, revelando o rosto de uma mulher negra de cabelos crespos e cheios. Ele encarou os quatro a sua frente com impaciência.

— Ótimo, nem depois das entregas das notas temos paz. — Ela bufou. — O que querem?

— Preciso falar com o Professor Paulo, de Matemática. — Paty respondeu.

— Ah...! Certo, fiquem aqui. — Ela fechou a porta, e após um tempo, ela se abriu outra vez.

Camila viu um senhor calvo, onde os poucos cabelos que restavam lhe eram grisalhos. O mesmo homem que os lecionavam Matemática todas as terças e quintas. Ele olhou confuso para os quatro alunos parados ali.

— Pois não, jovens?

— Estou aqui para falar com o senhor sobre a minha nota. Sou Patrícia Narciso, da 2000A.

— Ah! Claro, uma das melhores alunas de toda a I.E.T, senão a melhor! — Ele sorriu. — Os Professores falam muito bem de você.

— Ah... obrigada pelo elogio, Professor. — Ela pareceu sem jeito. — Mas já que estamos falando isso, creio que vá concordar que há um erro com minha nota.

— Deixe-me ver. — Ela entregou o papel o homem, e ao pegar, ele apenas sorriu, a entregando a folha de volta. — Sua nota foi muito boa, parabéns. Mas onde está o erro?

— Como assim "onde"? Por que nove e meio?

— Espere um momento. — Ele voltou para a sala, e ao voltar depois de quase dois minutos, tinha consigo uma outra folha, que Camila supôs ser a prova corrigida de Paty. — Você errou uma questão.

Assistiu o rosto de Paty ficar pálido, e ela arregalou os olhos.

— E-eu... eu... errei?

— Sim. Bem, a reposta era 8x, mas você esqueceu de pôr o x. Tecnicamente você acertou, só foi uma pequena falta de atenção. — Ele riu. — Infelizmente tive que dar como errado, mas você se saiu muito bem. Eu não vejo uma nota tão alta assim há... vinte anos, na minha matéria. — O Professor pareceu pensativo, e seu semblante mudou para um triste. — Tive uma aluna muito inteligente.

— O que houve com ela? — Camila não conseguiu segurar a tentação de perguntar. Pela reação do homem, essa garota não parecia ter apenas saído da escola.

— Hum... nada que seja importante lhe dizer. — Não pôde deixar de se sentir desapontada com a resposta. Ah, e também tive sua tia como minha aluna. Como pude esquecer? Ela também era brilhante! Uma verdadeira gênia! Acho que foi a melhor aluna que tive. — Ele pareceu se recuperar do que quer que fosse que estava pensando e apenas sorriu. — Bom, espero vê-los ano que vem. Claro, se eu for o Professor de vocês novamente. Raramente dou aulas para o terceiro ano. Mas quem sabe. — O Professor apenas entrou, fechando a porta em seguida.

— I-isso... não acredito nisso... E-eu... eu errei. — Paty disse de repente, o que fez todos a olharem. — Eu errei. Eu nunca tirei menos que dez em uma prova de Matemática. E já faz muito tempo que não tenho uma nota menor que isso.

— Mas você tirou nove e meio em Química também. — Camila contra-argumentou. — Por que está triste apenas com Matemática?

— Porque é diferente! Eu sei que eu me sairia bem em Química caso eu fizesse uma prova descente. Mas... mas eu falhei em Matemática.

— É uma nota ótima. — Lucas tentou a consolar. — Você se saiu muito bem!

— Não, não me saí! — Sua voz estava trêmula. — Parece que estou perdendo o jeito. Primeiro foi na teoria de Dian, e agora, nisso!

— Quem é Dian? — Ele pareceu confuso.

Então era sobre isso. Paty ainda se sentia mal por ter errado aquele dia, e juntando com o fato de não ter se saído como pretendia na prova, foi algo que a fez se sentir assim. De algum jeito, a entendia. Não ficava assim por notas de prova, muito menos por teorias e deduções suas, mas sim, sobre não conseguir resolver nada a sua volta. Sentia-se inútil por não conseguir resultados melhores. Talvez não fosse tão diferente com ela. Apenas as circunstâncias que eram outras.

— Paty, é impossível não errar algumas vezes. — Começou. — Você acertou bastante coisa na sua teoria, e tirou uma nota bem alta. Na verdade, você se saiu bem em tudo. É normal não sermos cem por cento, às vezes. O que importa é darmos o nosso melhor, e pelo menos tentar.

— Mas é a única coisa que sempre fui boa. — Ele se encostou na parede, abaixando a cabeça. — Se eu não conseguir fazer nem isso, vou ser uma completa inútil.

— Você é ótima, Paty. Sem você, eu não teria feito nenhum avanço. Na verdade, nem sei se eu estaria viva. Sem suas deduções e conselhos sobre as tentativas de assassinato, eu teria sido bem mais descuidada na mansão e poderia ter sido morta. — Se aproximou dela. — Você não é boa só em uma coisa. Todo mundo possui vários talentos. Você é muito mais que inteligente. É uma ótima amiga, e sempre ajuda todos que consegue. Você aceitou a me ajudar mesmo... com aquilo tudo.

— É verdade, você sempre ajuda a gente. — Lucas comentou. — Se não fosse por você tirando nossas dúvidas, provavelmente já teríamos repetido. Você é a pessoa mais inteligente que eu conheço. E daí se não conseguiu uma nota máxima em uma matéria chata? Isso não anula o quão incrível você é.

— Acham isso mesmo? — Ela levantou a cabeça para olhá-los, e Camila percebeu que seus olhos estavam vermelhos e marejados. — Devem me achar uma idiota por ficar triste por esse tipo de coisa.

— Claro que não. Todo mundo tem suas inseguranças. — Camila afirmou. — Mas posso te afirmar que mesmo que você tire a menor nota possível nas provas, você continuaria sendo inteligente. Não é uma nota escolar que define quem você é, nem as suas capacidades.

— Eu tento pensar assim também. — Paty deu um sorriso quase imperceptível e olhou para cima, parecendo tentar segurar as lágrimas. — Obrigada. De verdade.

— Estamos aqui para isso. — Lucas foi até ela e abriu os braços e a envolveu.

— O que está fazendo? — Ela pareceu confusa.

— Estou dando um abraço na minha amiga, porque não quero vê-la chorar.

Ela pareceu sem jeito, mas apenas retribuiu o abraço. Os dois ficaram assim por alguns segundos, antes de Paty desfazer o abraço.

— Acho que já está bom. Obrigada, Lucas.

— Não precisa agradecer. Seu lindo e magnífico par do baile está aqui para isso. — Ele sorriu convincentemente, e Paty riu. — Fico feliz que eu tenho conseguido arrancar um sorriso seu. Você é bonita demais, assim como o seu sorriso. Você devia de mostrar ele mais vezes.

Ao dizer isso, Camila não pôde deixar de se sentir surpresa com as palavras, e Paty pareceu ter a mesma reação e pareceu sem jeito.

— Bom, devemos ir logo. — Ela saiu andando apressadamente, sendo seguida pelos outros dois.

Quando os três chegaram no salão, Camila viu um rosto familiar sentado em dos bancos que ficavam no canto do salão. Era Henrique, e estava sozinho. Lembrou-se de alguns momentos atrás, quando ele havia recebido algo em seu telefone e pareceu ansioso. Por que ele não fora encontrá-los? Teria acontecido alguma coisa?

— Vão indo na frente, preciso fazer uma coisa antes.

Paty pareceu confusa, diferente de Lucas, que só a olhou e continuou seu caminho. Porém, apesar disso, ela apenas assentiu e seguiu o garoto em direção à escadaria de pedra. Camila caminhou na direção de Henrique, que pareceu nem ter a notado se aproximando. Ele estava olhando para baixo, mais especificamente, para seu celular que estava com a tela apagada.

— Henrique? — Começou, e ele a olhou com surpresa. — Está tudo bem?

— Está sim, eu só... — Ele suspirou. — É complicado.

— Pode me dizer. Você conversou comigo durante todo esse tempo, sempre que estive mal. Está na minha vez de te ajudar.

— São só meus pais. — Ele começou após alguns segundos. — Eu não os vejo há muito tempo. Mais especificamente, desde que voltei para Telúria. Eles tinham me prometido vir me visitar nas minhas férias, mas... cancelaram. Disseram que estarão muito ocupados com o trabalho.

— Por que não vai você visitar eles? — Perguntou enquanto se sentava ao seu lado.

— Eu sugeri isso, mas disseram a mesma coisa, que estariam ocupados. — Ele crispou os lábios. — Às vezes sinto que eles nem sentem saudades. Sempre sou eu quem ligo ou envio mensagem. Nem sequer se importaram quando eu disse que voltaria para cá. Eu sempre me senti muito sozinho, e só queria que eles... — Viu uma lágrima descer por seu rosto, e ele rapidamente a limpou.

Não soube o que falar ou fazer. Nunca soube do problema de Henrique com seus pais, apesar de já ter uma boa relação com ele há bastante tempo. Sempre falou apenas de si. Havia sido egoísta com ele; não havia visto como Henrique precisava de ajuda.

— Você já tentou falar com eles sobre?

— Já. Mas sempre ignoram ou fingem que não sabem do que estou falando. Acho que não tem muito o que fazer. Eu só sinto falta de estar com eles. Bem, eu os amo, apesar de tudo.

— Relacionamentos são bem complicados, principalmente com pessoas muito importantes para nós. — Não pôde deixar de lembrar de sua situação com Tiago. — Somos facilmente machucados.

— Eu e meus pais não temos uma relação muito boa, mas sei que fazem o que podem por mim, do jeito deles. E bem, se algum dia eles perceberem os erros que estão cometendo e estiverem dispostos a mudar, eu vou estar aqui para dar outra chance a eles.

— Mas e se... se eles tivessem te magoado muito. Magoado de uma forma que te deixou muito mal. Ainda iria perdoá-los?

— Claro. Você mesma me ensinou isso. As pessoas merecem uma segunda chance, principalmente se o motivo da mudança for nós.

Uma segunda chance. Assim como Paty, Henrique achava a mesma coisa. Sentia falta de Tiago, e tudo o que queria era abraçá-lo novamente. Porém, tinha medo e mágoa, e não conseguia decidir o que fazer. Não sabia o que aconteceria, se tentasse, mas tinha medo de que fosse algo ruim.

— Não teria medo de se magoar?

— Eu tive com Lucas, mas estava disposto a tentar apesar disso, pois ele era importante para mim. Por algumas pessoas, valem a pena.

— Bom — Disse após um tempo. —, eu vou estar aqui sempre que quiser conversar. Você não está sozinho, Henrique. — Colocou sua mão sobre a dele. — Estou aqui para você. Agora você tem uma amiga.

— Eu sei disso. Obrigado, eu digo o mesmo. — Ele apenas sorriu e a olhou nos olhos. Camila retribuiu, fitando os olhos verdes de Henrique, e sentiu seu rosto queimar após alguns segundos.

— É melhor irmos. — Camila se levantou rapidamente. Tinha que cortar esse sentimento. Sabia que acabaria com os dois machucados, ou pior. Poderia acontecer algo grave a Henrique, e não queria isso e jeito nenhum.

Henrique apenas assentiu e se colocou de pé também. Os dois começaram a caminhar em direção ao lado de fora da propriedade.

De repente, Camila avistou um garoto de óculos parado perto do Portal do saguão. Era Dian, que parecia estar procurando alguém. Talvez ele tivesse algo importante a dizer.

— Vou ter que resolver uma coisa, antes. — Parou abruptamente. Henrique fez o mesmo. — Nos vemos no baile.

— Aconteceu algo?

— Não, não. É apenas algo que preciso resolver.

— Ah... certo. — Ele pareceu confuso, e ao mesmo tempo, desapontado, por algum motivo. — Tudo bem, até o dia do baile, então. — O viu retomar seu caminho, até sumir de vista, e caminhou na direção de Dian, que não pareceu ter a notado desde então.

— Ah! — Dian suspirou quando ela se aproximou. — Que bom, pensei que já tivesse ido embora. Você não respondia às minhas mensagens.

— Desculpa, tive que ir fazer uma coisinha. O que aconteceu? Alguma novidade sobre Kari?

— Eles querem que todos se reúnam novamente lá, hoje, no mesmo horário.

— Hoje? Mas... por que tão em cima da hora?

— Decidiram quando iremos ir invadir a O.P.U. Vamos repassar todos os detalhes.

Sentiu seu coração dar um pulo. Haviam decido... então significa que seria em breve. No fundo, não sabia se estava pronta para o que iria acontecer, mas não tinha outra escolha se quisesse sobreviver e proteger todos que lhe eram importantes, não é?

— Certo. Iremos agora.

— Isso que eu ia te perguntar. E o seu motorista?

— Bom, não tenho escolha, temos que estar lá em uma hora. E isso é bem mais importante do que um possível castigo. E mesmo que eu fique novamente sem meu celular, eu dou um jeito.

O encontro que teria hoje com os Viajantes seria o mais decisivo de todos, e não podia deixar de ir por causa de Bartolomeu, nem que as coisas piorassem para o lado dela. Já não tinha mais o que dar errado. O que quer que acontecesse, ela tinha que priorizar a vida da Camila, não a de Leyla.

— Tudo bem, se você diz. — Os dois caminharam para fora do saguão, e ao chegarem perto dos arbustos perto da grade, sem nem esperar, Camila passou sua mochila por ele, seguido de seu corpo. Não se importava se alguém veria. Era o último dia de aula, e talvez, nem voltasse para fazer seu terceiro ano. A invasão da O.P.U, tinha muitas chances de dar errado.

Dian pareceu ter tido o mesmo pensamento, visto que também não pareceu sei importar tanto em passar pela grade na frente dos alunos, que os olharam com confusão.

Enquanto caminhava até o ponto de ônibus, Camila pensava nas possibilidades. Aquele seria o dia em que tudo já estaria feito, e o próximo encontro que tivessem, seria para determinar o futuro dos Viajantes. E de repente, uma sensação família se apoderou dela. A mesma que teve no ano anterior, quando achou que iria ser morta por Daniel.

Queria fazer tantas coisas, e novamente, corria o risco de não poder fazer nada disso. Não havia conseguido ir a um planetário, mesmo querendo muit0, e tinha chances de nunca conseguir. Sentiu seus olhos queimarem no mesmo instante. Por mais que estivesse preparada para invadir a O.P.U, não estava para morrer. Mas era um risco que precisava correr, e não podia voltar atrás. Todos ali dependiam disso. Era a única esperança que tinham.

Quase uma hora depois, chegou em frente à pequena casinha em Bolmer. Camila abriu o portão que estava encostado, e subiu a passos apressados a escadinha estreita. Quando abriu a porta da sala, viu que o local estava cheio de rostos familiares, que conversavam ansiosamente entre si, e não parecerem terem notado sua presença.

— Só faltava vocês. — Kari disse enquanto se levantava do sofá, e no mesmo instante, todas as vozes se calaram. — Vamos ao que interessa. Está na hora de agir.

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