Capítulo 17

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Novamente o Natal se aproximava, e dessa vez, iria passar na mansão Scarlett. Tentou falar com Ximú sobre passar com ela, que recusou, dizendo que seria perigoso para Camila. Era seu segundo Natal naquele mundo, porém, o primeiro naquela mansão enorme. Isso a fazia se questionar sobre quantos Natais teria que passar naquele local, e sentia que estava perdendo as esperanças que tinha.

Havia dito uma vez que gostaria de ir para um universo paralelo, e seu pedido havia se concretizado. Porém, desejava voltar para o seu mundo agora; para seu corpo. Por que isso não se concretizava também?

Desceu a escadaria, se sentindo entediada e procurando, inutilmente, uma maneira para passar o tempo. Havia entrado de férias na sexta, dia dezenove. No dia seguinte, já seria a véspera. Porém, não estava nem um pouco animada.

Se lembrou do Natal em que passou na casa de Heliberto, no ano anterior. Apesar de ter sido o dia em que descobriram sobre a existência de uma organização secreta que queria mata-los e de que o carro preto era de Henry, foi mais fácil lidar com tudo, pois estavam juntos. Agora, passavam novamente por um momento difícil — se não pior —, porém, separados. Ou no caso, ela separada deles.

Assim que chegou no final da escadaria, viu uma cena que a deixou confusa: Venice estava parada no saguão, à frente de Carla. Ao perceberem sua presença, as duas olharam em sua direção. Camila notou que o olho de Venice ainda estava um pouco roxo, porém, não tanto quanto antes.

— O que está fazendo aqui, Venice?

— O imbecil do seu tio deixou a cria dele comigo, de novo. — Carla respondeu por ela. — Sua prima vai passar o Natal com a gente.

— É que ele foi resolver umas coisas da empresa da nossa família. — Venice respondeu.

— Você por acaso acha que eu não sei? — Carla perguntou rispidamente.

— N-não é isso. — Venice se encolheu, parecendo intimidada. — Eu só achei...

— Não me importa o que você achou. De qualquer forma, não sei por que ele ainda faz isso. Você tem dezesseis anos. Pensei que não precisasse de uma babá.

— E-eu não preciso. — A menina pareceu envergonhada. — Mas olhe pelo lado bom, eu vou passar o Natal aqui com você, tia! — Sorriu, animada. — Nós podemos aproveitar e fazer... — Venice parou de falar, e seu sorriso se esvaiu do rosto. Carla havia a ignorado e se dirigido para o corredor que levava à Sala de Jantar.

Camila notou a decepção da menina, e não pôde deixar de sentir pena. Logo, a expressão de Venice se transformou em uma raivosa ao perceber que ela a encarava.

— O que você está olhando? — Puxou a mala vermelha que estava atrás de si pela alça e seguiu em direção a escada. — Onde estão os empregados dessa casa? — Revirou os olhos. — Não tem ninguém para me receber! Anda, me ajuda, sua lerda. — A olhou, impaciente.

Sentiu o sentimento de pena ser substituído por raiva. Venice conseguia facilmente fazer com que qualquer um a odiasse. E ao que parecia, era de família, já que todos pareciam odiar Carla e Leyla também.

— Eu estou ocupada, Venice.

— Ah, é? E fazendo o quê?

— Pensando em como é possível existir alguém tão idiota como você. Mas boa sorte com as malas. — Foi tudo que disse antes de seguir em direção à sala, deixando Venice ainda mais furiosa.

No dia seguinte, à noite, todos, com exceção de Carla, estavam na sala esperando a ceia, que seria em alguns minutos. A casa estava como de costume: desanimada, com um clima horrível e silenciosa. Um silêncio que era perturbador para um local cheio de pessoas. Metade dos funcionários não se encontravam na mansão naquela época do ano, por conta das férias; Miguel e Jean, que sempre faziam bagunça pela casa, ultimamente não faziam tanto. Eles haviam ficado mais "quietos" depois da morte de Daniel.

A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)Where stories live. Discover now