Capítulo 40

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Na manhã seguinte, se surpreendeu quando viu que foi Carla quem foi acordá-la, e sentou-se na cama para olhá-la. Estranhou o ato.

— Como está se sentindo? — Ela tinha a sua expressão fria e inexpressiva de sempre, entretanto, seus olhos demonstravam preocupação.

Apenas deu de ombros. Não sabia o que dizer. Não estava bem, porém, se sentia um pouco mais motivada. Por outro lado, não parava de pensar no que diria aos seus amigos depois da forma que os tratou. Tinha medo de não ser perdoada.

— Você quer ir à escola hoje?

Balançou a cabeça negativamente.

— Eu posso ir na segunda? — Não sabia com que cara olharia Paty e Dian depois do que fez. Não estava preparada, ainda.

— Tudo bem. Mas sabe que não pode ficar fugindo, uma hora vai ter que ir.

Sabia disso, e decidiu que não iria lamentar pela ação de Tiago. Por mais difícil que fosse, precisava superar isso, afinal, Carla estava certa. Isso não a levaria a lugar nenhum.

— Por que não tenta comer algo descente hoje? — A voz de Carla a tirou de seus devaneios.

— Agora que estou percebendo. Você não tinha que estar indo para o trabalho, a essa hora?

— Eu sou minha chefe, então não tenho hora. Não necessariamente. Eu posso tomar café da manhã filha de vez em quando, não?

Sorriu de leve. Carla sempre a evitava quando podia, e dessa vez, decidiu ir para o trabalho mais tarde apenas para ficar com ela. E por algum motivo, isso a deixou feliz.

Se levantou e a acompanhou até a sala de jantar. Foi se escorando nas paredes e no corrimão da escadaria, pois sentia-se muito fraca. Resultado de não ter comido praticamente nada em uma semana. Provavelmente tinha perdido peso. Agora que parte da profunda melancolia que sentia havia desaparecido, a fome se mostrava enorme em seu estômago.

Chegando no destino, viu Maria, Miguel e Jean sentados à mesa, que pareceram surpresos ao vê-la.

— Leyla! — Maria se levantou e correu para abraçá-la, recuando em seguida, temerosa. Isso a fez ter um déjà-vu do dia que chegou àquele mundo. — Eu não te vejo há uma semana. O que aconteceu?

— Podia ter continuado desaparecida. — Jean disse com a boca cheia. — Teria me feito um grande fav... — Ele começou a tossir, parecendo ter se engasgado.

Miguel deu um tapa em suas costas, o que fez o irmão cuspir um enorme pedaço de pão que havia ficado preso em sua garganta. Camila fez uma careta de nojo com a cena. Por sorte, estava de estômago vazio.

— Também fiquei curioso. — Miguel comentou.

— Calem a boca e comam, vocês precisam ir à escola. — Carla disse enquanto se sentava. Camila e Maria fizeram o mesmo.

— Espera aí, a Leyla não vai para a escola? — Jean fez um O com a boca, parecendo indignado. — Ótimo, então é assim que funciona, assassinos possuem um tratamento privilegiado!

Ignorando o comentário de Jean, olhou para a mesma em sua frente. Uma variedade de torradas, pães, biscoitos, frutas e muitas outras coisas estavam diante de seus olhos. Sem nem se importar, atacou tudo o que pôde. Sua fome era tanta, que não se importou com os olhares das crianças, que a olhavam assustados e surpresos. Até mesmo Carla pareceu ter sido pega desprevenida. Porém, como sempre, rapidamente ficou inexpressiva novamente.

Um grande alivio pairou em seu estômago assim que engoliu o primeiro pedaço de um pão que havia estraçalhado com os dentes. Em uma semana, tudo o que comeu foram uma maça. Em seguida, repetiu o processo com um pedaço de bolo de fubá, e foi fazendo isso até se sentir satisfeita o suficiente. Camila sabia, que naquele momento, devia de estar parecendo Jean.

A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)Where stories live. Discover now