Capítulo 14

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Estava andando por um corredor vazio, silencioso e escuro, que lhe era bem familiar. Se dirigiu para a escadaria de mármore, que continha um carpete vermelho, desceu rapidamente e virou à esquerda. Sentiu sua garganta seca. Queria um copo de água, e grunhiu consigo mesma. Se o frigobar de seu quarto não tivesse quebrado, não precisaria ter descido.

Estava quase chegando em uma porta, e sabia que atrás dela, teria que passar por outra para chegar até a cozinha. Viu que ela estava entreaberta, e as luzes estavam acessas. Quando se aproximou mais, escutou vozes vindo de dentro do cômodo. Seriam os empregados? Mas eles não possuíam permissão para estarem naquele cômodo. Eles ficavam ali, de madrugada, quando todos estavam dormindo?

Então, resolveu parar ao lado da porta, e apurou os ouvidos para escutar.

Camila acordou em um pulo. Mais uma noite seguida em que estava tendo sonhos estranhos. Neles, sempre descia a escadaria da mansão e seguia pelo corredor que levava à sala de jantar. Escutava vozes vindas de lá, mas antes de se aproximar o suficiente para entender o que conversavam, sempre acordava. Nunca entendeu o que era isso, nem o que significava.

Pegou o celular que estava ao lado da cama, na cômoda, e viu que eram seis horas da manhã. Só teria que se levantar meia hora depois, para se arrumar e ir para a escola. Deitou novamente e ficou encarando o teto escuro do quarto, pensando no sonho que teve. Não parecia ser ela, mas era. Estava se vendo em primeira pessoa. Porém, aqueles pensamentos, não eram seus.

Tentou se convencer de que era uma coisa normal, afinal, todos agem estranho em sonhos. Já fazia um pouco mais de um mês que estava sonhando com a mesma coisa, o mesmo período de tempo desde que havia descoberto que Tiago estava por aí, em Telúria.

Ela, Paty e Dian procuraram em todos os jornais do país por alguma foto dele, ou algo que poderia estar se referindo a ele. A única coisa que acharam foi um jornal do Notícia do Dia, o mesmo que viram na casa de Kari, sobre as pessoas misteriosas que apareceram, e que ninguém sabia de quem se tratavam. Desde então, sempre ia até a página do jornal e ficava olhando a manchete, para ver a foto de seu amigo novamente. Inclusive, era o que decidiu fazer, naquele momento.

"Pessoas misteriosas e sem identificações surgem dizendo serem de outro mundo, em Pandiógeis"

Ali estava a foto de Tiago. Não tinha noção de como sentia saudades de seu amigo até ver uma foto dele, e sempre que o fazia, sentia um aperto no coração. Nunca havia pensando que o veria novamente.

Tirando a manchete, não obtiveram nenhuma pista. Não via Kari e os outros Viajantes de Pandiógeis desde então, assim como Ximú e Heliberto. Godofredo, no entanto, já não o via há tempos.

A preocupação com seu amigo parecia sufocá-la. Antes, pensar que ele estava no orfanato, seguro, lhe era um conforto, apesar da saudade que sentia. Mas como ele tinha ido parar ali?

Duas horas depois, o carro vermelho parou em frente à escola. As crianças saíram apressadamente do veículo, sem se despedir de Bartolomeu. Antes de sair, Camila se virou para o motorista.

— Eu queria avisar que quero ir para a casa da minha tia hoje. — Havia decido no caminho que iriam visitá-los. Quem sabe eles não tivessem alguma ideia do que fazer em relação a Tiago?

Ele se virou para encará-la.

— Por quê?

— Por que... eu quero ir. Já estou te avisando, o que custa você me levar?

— Nada demais, apenas o meu emprego! Lembro da vez em que você pediu para eu te levar em outro lugar, antes de ir para casa, e uma pessoa morreu.

A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)Where stories live. Discover now