Capítulo 5

159 28 195
                                    

Passos apressados foram escutados por toda a mansão. Jean estava fugindo de Miguel, gritando que o irmão estava querendo roubar seu pacote de biscoito. Já estava acostumada com isso, afinal, já lhe era uma coisa rotineira. Faltava apenas uma semana para as aulas da I.E.T voltarem, e Camila sabia que Carla estava ansiosa por isso. Seus gritos estressados eram escutados contra os gêmeos, nas poucas vezes em que a mulher estava em casa.

Percebeu que ela passava mais tempo no trabalho do que costumava passar. Talvez, no fundo, se importasse de alguma maneira, em saber que seu falecido marido estava tentando matá-la. Apenas não gostava de admitir.

— ME DEVOLVE! — Jean gritou com o irmão, quando entraram na sala.

— Já disse que não, por que eu não posso comer também?

— Porque eu não quero deixar!

— Mas eu sou o mais velho, sou eu quem escolho!

— Nascemos no mesmo dia!

— Mas eu nasci dois minutos antes de você!

— Chega, por favor, crianças! — Alice entrou ofegante na sala, colocando as mãos nos joelhos, após correr atrás dos meninos. — Onde está a babá de vocês?

— Rosa não é nossa babá, é da Maria! — Miguel olhou para a irmã e riu.

Maria, porém, não respondeu. Camila olhou para a menina sentada em seu lado, no sofá, que se encontrava bem mais calada do que o normal, desde que soubera da morte de Daniel. A tristeza era visível em seu rosto na maioria das vezes.

— Tudo bem, Maria? — Resolveu perguntar.

— Sinto fala dele. Do nosso pai.

Miguel e Jean, que estavam discutindo até então, pararam repentinamente e olharam para Maria. A expressão em seus rostos mudou rapidamente para uma de tristeza.

— Eu não acredito que ele tenha tentado matar a nossa mãe, nem a Leyla. — Jean disse firmemente. — Eu não acredito em você! — Ele olhou com raiva para Camila.

— Não seja idiota. — Miguel lançou um olhar de repreensão ao irmão. — É claro que ele fez isso. Mesmo sendo a nossa mãe ou a Leyla, eu sei que ele faria; faria com qualquer um de nós, não apenas com ela. — Ele olhou para Camila. — Não duvido que nossa mãe também não tentaria o mesmo.

— Nossa mãe nunca iria nos matar! — Jean protestou.

— É claro que iria! Nossos pais sempre nos odiaram, será que você não percebe?

O silêncio reinou no local, e todos ficaram calados sem saber o que dizer, aparentemente. As palavras duras de Miguel pareceram afetar até mesmo Alice, que colocou em seu rosto uma expressão de tristeza misturada com pena. Desde que souberam da morte do pai, apenas Jean e Maria haviam manifestado algum sinal de tristeza. Miguel, no entanto, pareceu lidar com isso apenas lhe trancando no quarto. Mas ao que parecia, ele estava tão abalado quanto os irmãos.

— Já chega! — Maria se levantou, visivelmente incomodada. — Calem a boca vocês dois! — Ela correu para fora da sala, desaparecendo no corredor que levava ao saguão.

Jean fitou o pacote de biscoito, antes de jogá-lo no chão e sair da sala também. Miguel o seguiu, emburrado. Alice caminhou até o local onde Jean havia jogado o pacote de biscoito, se abaixou e o recolheu. Ela olhou para Camila com a mesma expressão de pena que olhara para as crianças.

— A senhorita... está bem? — Ela perguntou, parecendo temer a resposta.

— Estou sim. — Sabia que não havia demonstrado nenhum tipo de tristeza em relação ao acontecido, pois na verdade, ficara feliz de não ter mais ninguém tentando matá-la. Sabia que isso era insensível de sua parte, porém, suspeitava que a verdadeira Leyla não agiria diferente.

A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang