Capítulo 21

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Caminhava pelo corredor escuro, e tinha a impressão de já ter estado ali. Sua garganta estava seca, assim como toda sua boca. Ao engolir, podia sentir a saliva arranhando. Então, desceu a escadaria de mármore e seguiu em direção ao corredor à direita. Odiava não ter mais o frigobar em seu quarto.

Estava confusa. Quem era ela? Aqueles não eram seus pensamentos. Já havia estado ali antes, mas não sabia como, apenas tinha uma leve impressão e mínimas recordações.

Continuou andando pelo corredor, até chegar ao final dele. Escutou vozes vindas do cômodo. Parou ao lado da porta, e apurou os ouvidos para escutar.

— Isso é muito arriscado. — Disse uma voz masculina familiar. Apesar de falarem baixinho, o silêncio da noite fazia possível escutar o diálogo.

— Você tinha me dito que se casou com ela para isso! — Disse uma voz feminina. Uma pausa. — Você se apaixonou por ela, não foi?

— Claro que não.

— Pode mentir para mim, mas não minta para si mesmo.

Uma pausa novamente, dessa vez bem mais longa.

— Não foi paixão. Eu diria que tive um pequeno apego durante um tempo, por conta do tempo, só isso. Mas não sinto mais isso há anos.

— Então, o que te impede?

— Nunca matei ninguém antes!

Ao escutar isso, sentiu seu coração dar um salto. Estavam planejando matar alguém?

— Sabe que vai dar certo. Vai ser bom para nós. — A mulher tornou a dizer. — Vamos ficar ricos, não vamos? Você tem o sobrenome dela, é um Scarlett. E eu, em breve, serei a nova senhora Scarlett.

Arregalou os olhos. O que eles estavam dizendo?

Olhou pela fresta da porta entreaberta, e reconheceu quem estava ali. Era seu pai sentado à mesa — ou alguém que acreditava ser seu pai —, de frente para uma mulher, que por estar de costas para a porta, não conseguiu ver quem era. Tudo que viu foi seus cabelos castanhos e lisos, que estavam soltos, caindo pelas costas.

Eles estavam planejando matar alguém? Por que seu pai faria isso?

"...em breve serei a nova senhora Scarlett."

Estavam planejando matar sua mãe? Mas sua mãe estava morta, ela era órfã. Não podia ser ela ali. Não totalmente, concluiu. De alguma forma, parecia ter duas consciências. Estava confusa. Não conseguia dividir seus pensamentos com quem for que estivesse ali além dela, controlando seu corpo.

Boquiabriu-se com o pensamento de que queriam ferir sua mãe, ainda mais sendo seu pai. Quem era aquela mulher, afinal? Seria alguma amante? Sim, ela disse algo sobre ser a nova senhora Scarlett. Seu pai estava traindo sua mãe, e ainda planejava matá-la!

No mesmo instante, sua mente tentou entender o que estava acontecendo. Estavam querendo matar Carla para ficar com sua fortuna? Seu próprio pai e uma desconhecida? Não podia ser. Não podia ficar calada vendo aquilo e sem fazer nada. Precisava descobrir o que estava acontecendo.

Uma onda de raiva a invadiu, e ela abriu a porta em um impulso, fazendo-a bater contra a parede, por conta da força. Daniel arregalou os olhos e se levantou de repente, a encarando com uma expressão de pavor.

— Leyla?

Ela não se chamava Leyla. Mas sabia que esse era seu nome. Não conseguia entender o que estava acontecendo.

Encarou o rosto amedrontado de seu pai ódio, e sabia que era perceptível em sua expressão. Sem dizer nada, olhou para a mulher que estava sentada ali, porém, devido a ela estar de costas, não conseguiu seu rosto. A mulher misteriosa estava estática, ainda olhando para frente, parecendo temer se virar e ser descoberta.

A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora