Capítulo 38

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O carro parou no jardim da mansão, algumas horas depois. Havia conseguido chegar a tempo na I.E.T, mas não faria diferença caso não tivesse. Foi pensativa o caminho todo, de Pandiógeis até Marion e da I.E.T até a mansão Scarlett, repassando várias e várias vezes tudo o que aconteceu naquele dia, e se segurando para não desabar em lágrimas, enquanto um aperto enorme invadia seu peito.

As crianças saíram rapidamente do carro, e quando Camila iria fazer o mesmo, a voz de Bartolomeu a chamou. Era só o que faltava para melhorar o seu dia.

— Não tente fugir de novo! Vai me contar agora, garota?

— Não. — Disse firmemente.

— Ah, não? Então significa que realmente aconteceu alguma coisa lá.

— Eu já disse que não foi nada demais.

— Claro, não foi nada demais. Você faz birra para eu te levar para lá, todos naquela casa parecem que voltaram de um velório, você aparece com a cara e com o pescoço roxos e a sua tia se despede de vocês como se tivesse ido para a guerra. Mas realmente, não tem nada acontecendo, porque a senhorita Scarlett está me dizendo que não tem.

— Birra? — Se sentiu chateada e com raiva dessa essa afirmação. Ela tinha se aberto sinceramente e ele considerou como uma birra? Ele não sabia o que ela estava passando. Era fácil falar assim. — Desculpe se a senhorita Scarlett tem sentimentos. Mas tudo bem, se é assim que você considera tudo o que eu falo com você, não vou te incomodar mais com as minhas birras, Bartolomeu. Não se preocupe.

— Para de fazer drama. — Ele revirou os olhos. — Que tipo de problemas você teria? Ainda não superou a morte do papaizinho? — Ele deu um sorriso de escárnio.

— Qual o seu problema? Acha divertido me ver assim? Gosta de fazer piada com os sentimentos dos outros para se sentir melhor com a sua vida miserável? Pode fazer quantas piadas quiser envolvendo Daniel, mas não fale de mim como se você soubesse de alguma coisa!

— Eu convivo com você praticamente todos os dias, do que eu não saberia?

— Bom, se você sabe sobre tudo, então não preciso te contar o que está acontecendo.

— Não venha com gracinhas!

— Não, não venha você com gracinhas! — A essa altura já havia levantado a voz. — Eu não sou obrigada a te dar satisfação! Você só quer saber porque é um fofoqueiro! Não é como se você ou Carla se importassem. E se quiser contar a ela, pode contar. Aquela mulher não vai dar a mínima, porque é isso que ela sempre faz. Você não sabe de nada! Não sabe de nada do que eu passo! Diga o quiser, mas não fale sobre algo que você não sabe! Todos vocês são podres e desprezíveis que querem ver o mal de todo mundo! São traidores! São todos traidores!

Sentiu lágrimas rolarem pelo seu rosto. Apesar de todo o esforço que estava fazendo, sentiu que não iria conseguir segurá-las por mais tempo, e que iria desabar a qualquer instante.

— Do que está falando? — Ele agora, parecia ofendido, e olhava com uma expressão que Camila identificou como chateada e preocupada. Porém, sabia que era mentira, como tudo naquele local. — É isso que você pensa de mim? Que quero ver o seu mal e que só quero saber sobre o que está acontecendo por ser um fofoqueiro?

— É nisso que resume esse lugar; esse mundo. É nisso que resume todos vocês! Não sabe como eu ainda queria ter a minha família comigo.

— Eu não estou entendo, garota. O que aconteceu? Fala comigo.

— Para com isso! Vocês todos são uns mentirosos que não se importam com ninguém! — Saiu rapidamente dali, fechando a porta com força.

Sabia que Bartolomeu não tinha nada a ver com o que estava acontecendo, e que só estava descontando nele a raiva que estava sentindo de todos, principalmente, de Tiago. Mas não se importava. Não se importava com mais nada.

Subiu rapidamente a escadaria de mármore e foi até seu quarto. Chegando lá, jogou a mochila em cima da cama, fechou a porta e desabou em lágrimas.

Se encostou na porta e sentiu suas pernas falharem, o que a fez desabar no chão gelado. Levou as mãos até o rosto, e chorou como uma criança. Um terrível sentimento se apoderou dela, juntamente com uma lembrança onde chorava em algum canto do orfanato, à noite, quando era pequena.

Não se lembrava quando ocorreu, mas sabia que havia acontecido assim que perdeu seus pais. Nunca havia chorado tanto quanto àquele dia, com exceção daquele momento, e sentiu um terrível sentimento de desespero, solidão e desesperança, assim como quando seus pais a deixaram.

 Nunca havia chorado tanto quanto àquele dia, com exceção daquele momento, e sentiu um terrível sentimento de desespero, solidão e desesperança, assim como quando seus pais a deixaram

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A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)Where stories live. Discover now