Capítulo 3

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De noite, quando o alarme ressoou indicando que todos já deviam estar na cama, às nove, Tiago já se encontrava deitado, e escutou as vozes cessarem aos poucos dentro do dormitório. Algum tempo depois, olhou para o relógio a sua frente, e percebeu que já estava marcando dez e meia.

Suspirou, ainda pensando se isso seria uma boa ideia. Iriam dar falta dele na manhã seguinte, e se voltasse, provavelmente seria punido. Mas não, não podia hesitar. Já estava decidido.

— É por Camila. — Disse a si mesmo.

Olhou novamente para o relógio. Eram dez e cinquenta e cinco. Se sentou em sua cama, colocou a mão por dentro da fronha do travesseiro, até achar o rasgo e pegou a chave, colocando-a no bolso de sua calça. Ainda sentado, passou o olho pelo dormitório escuro. Talvez nunca mais voltasse para aquele lugar, e mal ou bem, ali era seu lar. Apesar de não ter muita intimidade com as pessoas do local, conhecia algumas legais, e iria sentir saudades. Porém, sabia que não sentiria mais deles do que de Camila.

Não sabia o que iria fazer depois, caso conseguisse achá-la ou não, e resolveu deixar isso para depois. Tiago nunca foi uma pessoa de pensar antes de agir, e sim o oposto. Sempre achava que, depois de feito, iria conseguir encontrar alguma solução. Diferente de Camila, que sempre pensava nas possíveis consequências de seus atos.

Se levantou da cama, se ajoelhou e pegou sua mochila remendada, que estava embaixo dela, já preparada com roupas e outras coisas que poderia precisar. Em seguida, saiu do quarto, tomando cuidado para não ser visto por ninguém.

Desceu a escadaria, apertando os olhos para conseguir enxergar no escuro, verificando se Vitória já estaria ali. Chegando ao último degrau, percebeu que ela ainda não havia chegado. Sentiu a ansiedade crescer. Não poderia se demorar muito ali, ou poderia ser pego. Ela não iria zoar com a cara dele, iria?

— Você veio, então. — Uma voz sussurrou em seu ouvido, fazendo-o pular de susto, escutou a risada baixa de Vitória ecoando pelo local vazio.

— Demorou. — Tiago disse com impaciência.

— Trouxe a chave? — Ela estendeu a mão, ignorando o comentário.

Suspirou. Tirou o objeto do bolso da calça e olhou uma última vez para o seu contorno escuro antes de colocá-lo, de má vontade, nas mãos de Vitória. Teve a impressão de ver um sorriso de formar no rosto da menina, na escuridão. Vitória, sem dizer nada, apenas caminhou até o portal sem porta, que dava acesso ao pátio, e Tiago resolveu segui-la.

Os acontecimentos do dia em que a coisa azulada surgiu se passaram em sua mente. Olhou para a porta entreaberta da cozinha, ao longe, e a escuridão do interior do cômodo era visível. Na semana anterior, essa mesma escuridão havia sido substituída pela misteriosa luz azulada.

— Para onde estamos indo? — Perguntou à Vitória.

— Vamos sair do orfanato.

— A passagem é... por aqui?

— Por que acha que eu estaria vindo aqui, Tiaguinho?

Trincou os dentes com o apelido, e a escutou rir pelo nariz. Vitória realmente sabia como irritá-lo.

— Eu sei que você me ama, mas não precisa me dar esses apelidos idiotas. — Disse ironicamente.

Ao invés de ir em direção à cozinha, a garota virou à direita, e foi em direção à parede. Ele ficou confuso, ela iria pular o muro? Mas era muito alto, não tinha como fazer isso. Porém, Vitória parou antes de chegar lá, e Tiago fez o mesmo, se pondo ao seu lado.

A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)Where stories live. Discover now