— Virar a bombordo, Momo. -Gritei enquanto escalava as cordas na lateral do navio, me dependurando em um pilar perto de uma das velas.
Momo: Sim, capitã. -Fez uma breve continência de brincadeira, fazendo como eu ordenei em seguida.
— Iida, controla o timão. -Apontei para ele- Tsuyu, dá uma olhadinha nos nossos canhões. -Olhei para ela- Aoyama, ajude o Iida com a navegação. -Escalei um pouco mais nas cordas- E Todoroki... trate de tocar uma música de perseguição, será mais empolgante fugir dos marinheiros com uma trilha sonora de fundo.
Iida: Claro, capitã! -Correu até o timão.
Tsuyu: Conta comigo, gero. -Ela sorriu antes de ir até os canhões.
Aoyama: Oui, mon cheri. -Fez um gesto com a mão, "pulando" em direção ao timão para ajudar o Iida.
Todoroki: Vou buscar os instrumentos, capitã. -Piscou rapidamente, entrando no interior do nosso barco.
Uma onda crescente se aproximou do nosso casco, balançando nosso navio furiosamente. A marinha atirou com o canhão.
Felizmente, nosso poder de fogo é maior.
— Tsuyu, tudo pronto? -Gritei, sentindo a adrenalina pulsar em minhas veias.
Tsuyu: Tudo sim, S/N. -Soltou uma risadinha antes de mirar- Às suas ordens.
— Espera um pouco... -Calculei até o momento em que eles ficariam perfeitamente na palma da nossa mão- Agora!
Um barulho altíssimo foi ouvido. Tsuyu havia disparado e acertado o navio deles. Contudo, mais dois apareceram na dianteira. Ainda estávamos em perseguição.
Um violino começou a tocar animadamente. Nosso músico, Todoroki, têm um fraco por perseguições, é o tema de música favorito dele.
Com um sorriso no rosto de todos nós, conseguimos velocidade o suficiente para escapar daqueles outros dois navios. Após eu olhar em todas as direções lá de cima, averiguando que não havia mais ninguém por perto, desci da corda onde eu me pendurei.
— Bom trabalho pessoal! -Cumprimentei à todos com um "toca aqui".
Iida: Imagina, capitã. Só fizemos o de sempre. -Deu de ombros.
Momo: Iida tem razão. -Afirmou com a cabeça, colocando as mãos na cintura em seguida- E agora, qual o nosso plano?
— Ótima pergunta. -Sorri- É o seguinte. -Abri um pequeno mapa na mesa que temos no convés- Nós estamos aqui. -Apontei para o lado leste do mapa- Descobri recentemente ações ilegais por perto. Contrabando de pessoas, para ser mais exata. O pior foi quando eu descobri que é a marinha quem está contrabandeando eles, mas tudo por debaixo dos panos.
Aoyama: Que horror. -Fez uma expressão de desgosto.
Tsuyu: E é aí que nós entramos, não é?! Gero. -Colocou um dedo no queixo.
— Exatamente! -Sorri
Tá certo que nós somos piratas, mas também somos pessoas com bom senso. Sabemos que, para a marinha (uma organização que deveria proteger as pessoas) oprimir tanto os outros, no mínimo tem corrupção das piores ali no meio.
Por isso, minha tripulação e eu buscamos alcançar nossos objetivos, mas evidentemente acabamos ajudando algumas pessoas no caminho.
Todoroki: Então o que estamos esperando? -Ajeitou o violino em seu ombro- Acho que isso pede uma música.
Rimos simultâneamente. Os outros já se moveram para ajeitar as velas em direção ao navio contrabandista, enquanto eu fui para a minha cabine terminar os detalhes da nossa pequena invasão.
Vamos libertar algumas pessoas...
[...]
Desci até o porão, utilizando minha espada para golpear alguns marinheiros vez ou outra, já que o Iida me ajudava golpeando o resto para que eu conseguisse entrar na parte inferior do barco e libertar as pessoas contrabandeadas.
Escutando a Momo liderar o resto da tripulação para que ateassem fogo no navio e acabassem com o resto dos marinheiros ruins, sorri enquanto descia as escadas.
Avistei um grupo de pessoas abraçadas. Vários adultos rodeavam algumas crianças, na esperança de protegê-las.
— Ei! -Gritei, tapando a boca com o braço para evitar inalar fumaça do barco que queimava- Por aqui! Sou S/N, capitã de um navio pirata. Viemos salvar vocês, têm pequenas embarcações lá fora para resgatá-los. -Conduzi algumas pessoas que passaram correndo enquanto me agradeciam.
Me virei para sair também quando a última mulher saiu correndo, mas uma tosse alta chamou a minha atenção. Meu olhar se voltou para um rapaz, não consegui ver mas devido à enorme quantidade de fumaça.
— O que pensa que está fazendo? -Ele me ignorou- Temos que ir, ou ambos vamos queimar aqui! -Ele tossiu mais alto, mas insistia em algo na parede- O que é isso, afinal?
Me aproximei dele, percebendo que era uma criança desacordada que estava presa em escombros, e o homem desconhecido tentava tirá-la de lá.
Me abaixei, ajudando-o com o escombro. Nossa força junta conseguiu levantar aquele pedaço de madeira. O rapaz pegou a criança no colo e nós dois saímos correndo antes que o porão todo desabasse.
— Conseguimos? -Perguntei quando já estávamos em segurança no meu navio- Qual o seu... -Paralisei. Izuku Midoriya, meu amigo de infância, está na minha frente, carregando uma criança desmaiada.
Só tem um detalhe.
Midoriya está totalmente surrado. Suas roupas estão rasgadas e sujas, a pele exposta dele está muito machucada. Muito. Ele está desnutrido e com o olhar baixo. Muito provavelmente, Izuku não consegue nem falar. Há quanto tempo ele não come ou bebe algo?
Sem conseguir se mexer direito, Izuku me entregou a pequena menininha que estava desmaiada em seus braços, fazendo um gesto para que eu cuidasse dela.
Com os olhos arregalados, a levei até um dos barcos de resgate que temos, onde tsuyu dava acompanhamento médico aos feridos.
Deixei a garotinha com a Tsuyu rapidamente, voltando para o barco assim que pude. Midoriya estava desmaiado em pé, quase como um morto vivo. Passei um de seus braços pelo meu ombro, apoiando o outro na cintura dele.
— Aoyama, consegue arranjar um kit médico? Ah, e se conseguir fazer um pouco de comida para ele. -Pedi, tentando chegar até a minha cabine com o Izuku no meu ombro.
Aoyama: Oui. -Fez um gesto com a mão- Mas porque ele não está no barco da Tsuyu? É um conhecido? -Fez uma feição que dizia "Pretendente?".
— Agora não, Aoyama! -Revirei os olhos- Mas sim, é um conhecido.
Finalmente consegui colocá-lo na minha cama assim que alcancei a cabine. Aoyama não demorou com o kit médico e me avisou que a comida já estava sendo preparada. O agradeci e já comecei a focar nas feridas do Midoriya.
Ele estava tão mal em todos os aspectos, que desmaiou assim que eu comecei a limpar os machucados mais superficiais dele.
Por favor, Midoriya...
[...]
Alguns longos minutos se passaram desde que eu terminei de cuidar e enfaixar de todos os machucados que ele tinha -E eram muitos-. Então, a minha única esperança era aguardar ele abrir os olhos.
Nosso barco já havia zarpado. As pessoas que salvamos estavam seguras em uma ilha e nós nos certificamos de que elas ficariam à salvo das garras da marinha.
Por outro lado, o Izuku era o mais machucado e prejudicado de todos. Me pergunto o que houve com ele desde que eu tomei a decisão de ir para o mar.
Midoriya: Água... -Escutei sua voz extremamente baixa vindo da minha cama, enquanto eu divagava.
Mais veloz do que um raio, peguei a água na minha cabeceira e levei o copo até o Izuku, ajudando-o a se levantar e colocando a beira do copo em sua boca.
— Pronto. -Ajeitei ele- Está bem? -Ele assentiu com uma careta de dor- Acho que está melhor do que antes. -Murmurei- E você consegue falar direito?
Midoriya: Acho que sim... -Sua voz deu uma falhada. Ele pigarreou- Eu consigo. -Deu um sorriso fraco.
— Fico feliz. -Sorri de volta- Ah, Izuku... Estava com medo de que você não acordasse. -Não resisti, e acabei me jogando nos braços dele. Com cuidado, claro- Não me assusta assim, seu idiota. -Aumentei a voz.
Midoriya: Desculpa. -Deu para perceber que ele estava sorrindo pelo tom de voz- Desculpa... -Respirou fundo, me apertando mais no abraço- Eu realmente não queria que você me visse daquele jeito.
— Inclusive... Como tudo isso aconteceu? -Me afastei, sentando na frente dele na minha cama- Faz tempo que não nos vemos. Quero saber de tudo. Desde o início. -Estendi minha mão para ele, que a segurou de volta.
Midoriya: Bem, é complicado... -Abaixou o olhar- Basicamente, depois que você saiu para o mar, tudo na aldeia piorou. Minha mãe estava muito doente e não resistiu. -Sua voz enfraqueceu- E... e-eu não consegui trabalhar o suficiente para pagar as c-contas. Eles me prenderam por isso, mas a marinha me achou. -Soltou uma respiração trêmula- Os marinheiros se interessaram pela minha força e por eu ser diferente devido à cor do cabelo. Então, eles acharam que poderiam conseguir um dinheiro comigo. Me vendendo para alguém.
Izuku ficou um tempo sem falar nada. Deixei esse tempo para que ele assimilasse tudo e não se sentisse pressionado. Apertei um pouco sua mão, tentando transmitir conforto para ele.
Midoriya: Eu tentava fazer com que os outros prisioneiros não fossem tão maltratados. Por isso, sempre pegava os trabalhos que eram destinados à eles, mas consequentemente, as punições também. -Apertou mais a minha mão- Aqueles seres sem compaixão sentiam prazer em machucar os outros. Logo, qualquer motivo era motivo para descontar em mim. Por isso eu disse que não queria que você me visse assim, eu provavelmente era o mais machucado de lá. O que minha melhor amiga pensaria disso? -Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.
— Eu acho... -Respirei fundo, colocando a mão em seu rosto para que ele o levantasse- Que a sua amiga de infância ficaria muito orgulhosa do homem maravilhoso que o amigo dela se tornou. -Seus olhos se encheram mais de água. Estiquei meus dedos para limpar as lágrimas- E saiba que não é vergonha nenhuma chorar. Eu estou aqui agora, e vou continuar aqui, se quiser. Saiba que pode desabafar comigo e que eu vou fazer o possível para recuperar o tempo perdido. -Respirei fundo- E você está bem agora. Está no meu navio, e eu não vou deixar ninguém chegar perto de você.
Ele tentou falar algo, mas não conseguiu, então apenas balbuciou algumas palavras sem nexo antes de se jogar em cima de mim para me abraçar. Izuku está totalmente fragilizado agora, e quero que ele saiba que pode contar comigo.
Para demonstrar isso, o apertei mais contra mim, pousando uma mão em sua cabeça para mexer nos adoráveis cachinhos verdes que ele possui. Enquanto isso, ele chorava mais e mais cada vez que eu afagava suas costas com a minha outra mão.
Você vai ficar bem, Izuku.
[...]
Se passaram duas semanas desde que eu resgatei o Midoriya. Ele está no meu navio e se adaptou super bem com o resto da tripulação, todos amam ele.
Mas como não amar?
Fui em direção ao Iida, Todoroki e Aoyama, que roubaram o Izuku de mim para conversarem com ele.
— Com licença, rapazes. -Sorri- Mas será que eu posso falar com o Izuku? -Eles assentiram- Ótimo. Vem, Midoriya. -Segurei o seu braço.
Ele também enlaçou o braço no meu enquanto seguíamos até a área livre do convés.
Midoriya: Queria falar sobre o que, S/N? -Sentou no chão, puxando minha mão para que eu sentasse do seu lado- Vem cá. Vou fazer tranças no seu cabelo, como antigamente.
Sorri antes de me jogar no chão, ansiosa por isso. Era uma tradiçãozinha entre a gente. Quando conversávamos muito, um fazia tranças no cabelo do outro até a nossa falação acabar.
— Bem, eu só queria jogar conversa fora mesmo. -Senti suas mãos no meu cabelo- Nada específico.
Midoriya: Sendo assim... Que tal você me contar sobre sua vida de pirata? -Seus dedos deslizaram pelos meus fios novamente, e por um instante, sua mão encostou na minha nuca.
— É incrível, Izuku. -Sorri- Cada um aqui quer conquistar um objetivo, mas existem tantas aventuras no caminho, que nos rendemos à elas. Inclusive, nosso hobbie é destruir marinheiros ruins e resgatar as pessoas que eles-
Parei de falar imediatamente, lembrando a forma de como eu e o Midoriya nos reencontramos.
Midoriya: Tá tudo bem, pode falar sobre. Eu não tenho mais problemas com isso.
— A-Ah, é. Tudo bem mesmo? -Ele murmurou um "Aham"- Certo. Enfim, você já entendeu. É tão... livre estar no mar assim. Fazemos o que queremos quando queremos.
Midoriya: Parece incrível. -Falou com um ar sonhador- Pronto, terminei suas tranças.
Ri antes de me virar para ele, pedindo para que ele fizesse o mesmo agora.
— Minha vez de fazer tranças em você. Vamos, vire-se. -Ele riu antes de me obedecer- Ah, que saudades que eu estava de você, Izuku. Houveram tantos momentos que eu me perguntei como você estava... -Suspirei- Me desculpa não ter chegado antes.
Midoriya: Por que está se desculpando? Você não teve culpa de nada, S/N. Eu é quem deveria te agradecer o tempo todo por ter aparecido lá.
Suas palavras me reconfortaram, então eu resolvi aceitar o agradecimento.
Continuamos conversando até anoitecer. Não vimos o tempo passar e até colocamos um cobertor no chão para que deitássemos.
Midoriya: É lindo. -Comentou olhando para o céu.
— É mesmo. -Sorri.
Midoriya: Sabe, passar esse tempo com você me fez perceber que eu realmente te amo. -Ele falou como se não fosse nada.
Ao passo que eu fiquei totalmente paralisada. Parecendo um peixe com a boca aberta.
— Oi? -Me levantei, sentando no cobertor estendido para olhá-lo.
Midoriya: Isso mesmo. -Sorriu mais ainda- Eu estou apaixonado por você. Desde que éramos crianças. Passamos tanto tempo juntos que... Eu nem sei dizer quando foi que começou. Sinto que você é uma parte importante da minha vida desde... bom, sempre. -Riu.
Isso foi tão repentino, que eu acho que ainda não entendi direito.
Midoriya: Quando você saiu da aldeia, eu pensava em você todos os dias. -Respirou fundo- E quando eu fui preso pelos marinheiros... Bom, só podia torcer para que você estivesse bem e que a sua vida de pirata estivesse sendo a melhor possível. -Virou o rosto na minha direção- E aparentemente estava mesmo. Eu amava ver a sua recompensa pregada na parede dos navios aumentando cada vez mais.
— Mas você... É que, ãhn? -Tombei a cabeça para o lado.
Midoriya: Entendo que pode ser estranho. -Se sentou no cobertor, assim como eu- Mas tendo em vista tudo o que eu passei, não quero perder mais um segundo da minha vida. -Sorriu fechando os olhos- E bem, atualmente, eu gostaria que a minha vida fosse com você.
— Izuku... -Pensei nas minhas próximas palavras- Eu também amo você. Muito. E você nem imagina o misto de alegria e desespero quando te vi naquele porão todo machucado, mas vivo. -Suspirei- Mas... Eu não consigo deixar essa vida, sabe?! -Ajeitei meu chapéu de capitã na cabeça- Essa coisa de ser livre, perseguir meus objetivos e salvar aqueles que precisam... Essa é a minha vida como pirata, Midoriya. Eu não posso só abandonar tudo, entende? É como se-
Ele me interrompeu, colando os lábios dele nos meus. Provavelmente Izuku queria me fazer ficar quieta. E conseguiu.
Ô se conseguiu.
Fiquei tão concentrada em retribuir esse beijo tão... apaixonante, que nem pensei em me afastar para responder algo. Na verdade, eu nem conseguiria responder algo.
Midoriya: Eu sei, S/N. -Se afastou minimamente, com nossos lábios ainda se encostando levemente- E não pense por nenhum segundo que eu quero isso. Nunca teria coragem de pedir para você largar a sua vida, a sua paixão, assim. -Juntou nossos lábios de novo- Muito pelo contrário.
— Como assim? -Alternei meu olhar entre os olhos dele e sua boca.
Ele sorriu antes de me dar mais um selinho.
Midoriya: Se você permitir e aceitar... Eu gostaria de entrar para a tripulação. -Tirou o chapéu da minha cabeça para colocar na dele- Capitã. -Piscou.
Pisquei repetidas vezes.
— Bom. -Sorri e enlacei meus braços em seu pescoço- Acho que temos uma vaga no barco, Marujo. -Pisquei de volta, beijando-o em seguida.
Senti meu chapéu sendo devolvido para a minha cabeça durante o beijo.
Bem vindo à tripulação, então.
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