A Viajante - A Resistência Se...

By autoratamiresbarbosa

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⚠ Atenção, este é o segundo livro da triologia "A Viajante". A sinopse pode conter spoilers! ⚠ Sem a ajuda de... More

Sobre o livro
Dedicatória
Epígrafe
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60

Capítulo 49

19 6 4
By autoratamiresbarbosa

Ao descer a escadaria, no dia seguinte, rumou direto para a Sala de Jantar. Sentia um enorme cansaço, derivado de não ter conseguido dormir muito bem à noite. Ficou encarando o teto escuro pelo o que pareceu horas, antes de conseguir pegar no sono. Todos os seus problemas a atingiram em cheio, e não conseguiu deixar de pensar neles. Não aguentava mais isso. Além dos problemas como Camila, tinha os problemas como Leyla. Apenas desejava dormir a não acordar mais, para não ter que lidar com nada disso.

Chegando na sala de jantar, notou que os irmãos de Leyla já estavam presentes lá, e assim que a viram, olharam-na com curiosidade. Porém, o olhar de Camila se demorou na cadeira que ficava na extremidade da mesa, onde normalmente ficava Carla.

Estava vazio.

Sentiu seus olhos marejarem, e a culpa a atingiu em cheio novamente. Por sua culpa, tudo voltaria a ser como antes. Todo o progresso que fizera com a mulher, havia ido por água abaixo.

— Então é verdade? — Jean lhe perguntou. Camila apenas ignorou e foi até a mesa, se sentando em seguida. — Fico feliz que essa assassina de pais não é nossa irmã de verdade.

— Matilde fez questão de gritar isso aos quatro ventos, ontem. — Miguel bufou. — E aquela velha idiota ainda quer que eu seja o herdeiro. Essa gente não tem o que fazer, ficam inventando bobagens. Mas fico triste de não ter participado do jantar, ontem. Queria ter visto a briga. Não foi tão entediante como pensei que seria, afinal.

— De qualquer forma, Leyla é nossa irmã. Adotada ou não. — Maria comentou firmemente.

— Só se for para você! — Jean a lançou um olhar raivoso. — Não sou irmão de uma assassina!

☿ ☿ ☿

O carro vermelho parou em frente à I.E.T. Camila saiu rapidamente do veículo, e se adiantou para dentro da escola. No caminho, notou que algumas pessoas a olhavam com curiosidade, e nem ao menos tentavam disfarçar. Provavelmente, a fofoca de Venice já havia saído no Telúria Tagebuch.

Quando chegou na sala de aula, percebeu que todos a olharam imediatamente, alternando o olhar entre ela e seus celulares. Em seguida, começaram a cochichar coisas uns para os outros. Seu olhar encontrou o de Venice, que desviou, parecendo envergonhada.

Apenas bufou e se sentou, tentando ignorar todas as vozes que eram escutadas no local. Provavelmente, ela era o assunto. Tinha saudades de ser uma órfã desconhecida e isolada, que não interagia nem com os próprios moradores do orfanato. Agora, era conhecida por quase todo o país, e qualquer coisa que acontecesse em sua vida, iria ser a manchete da primeira página do jornal.

— Isso que está no Telúria Tagebuch é verdade, Leyla? — Escutou Lucas perguntar, atrás de si. — Você é mesmo adotada?

Porém, não respondeu.

— Lucas, o que nós conversamos? — Paty perguntou rispidamente.

— Mas estou curioso!

— Não interessa, eu disse para ficar na sua!

— Como você está com tudo isso, Leyla? — Henrique lhe perguntou, e ela se virar para olhá-lo.

— Estou bem. — E não era mentira, em partes. Não ligava para que todos soubessem sobre o segredo de Leyla. O que a afligia, era saber que Carla estava chateada com ela, e que havia estragado tudo, como sempre fazia.

— Você já leu o jornal? — Lucas lhe perguntou.

— Lucas! — Paty o olhou com repreensão.

— Ah, qual é? Por que o Henrique pode perguntar coisas a ela, e eu não? — Ele pareceu irritado.

— Por que ele não fica fazendo perguntas inconvenientes como você!

— Está tudo bem, Paty. — Camila suspirou. — Obrigada de verdade, mas acho que não vou conseguir evitar escutar sobre isso. Parece que é o assunto do momento. Mas não, ainda não li o jornal.

— Bom, eu acho que devia ler. — Lucas comentou. — Paula disse horrores sobre você, e ainda estou no meio!

Paty o lançou um olhar furtivo, o que o fez se encolher.

— Talvez eu leia depois. Não estou com cabeça para isso, agora. — Respondeu.

No horário do intervalo, Camila decidiu que não queria descer. Isso significava ver mais pessoas a olhando e cochichando sobre ela, ainda mais se fosse até o refeitório. De qualquer forma, não seria problema. Não estava com fome.

— Bom, agora você já sabe como é ser o assunto de toda a escola. — Lucas disse enquanto colocava seu material na mochila, enquanto se preparava para descer. — Foi isso o que aconteceu comigo, quando Lia me deu uma bandejada nada cara, e ainda fiquei com má fama.

— Leyla sempre foi motivo de assunto na escola. — Henrique comentou. — Você tem sorte de ter sido apenas uma vez. — Ele olhou preocupadamente para Camila. — Tem certeza que não quer que a gente fique?

— Eu já disse que vou ficar com ela. — Paty falou.

— Ninguém precisa ficar. Eu estou bem.

— Mas se você quiser... — Henrique começou, porém, Paty o puxou impacientemente pelo braço, o impedindo de terminar de falar.

— Ela já disse que não quer! — Ela puxou Lucas também, e empurrou os dois para a porta. — Agora deixem de ser chatos, e vão! — Então, fechou a porta atrás de si e se virou para Camila, suspirando. — Ótimo, estamos sozinhas, agora. Não precisa mentir para mim, então me diz logo como você está.

— Eu já disse que...

— Não estou falando sobre a fofoca. Estou falando sobre tudo. Apesar de o segredo da Leyla não mexer com você, eu sei que isso é só mais uma coisa para a sua coleção de "coisas que te levam à beira de um colapso".

Encarou Paty por alguns segundos. Não queria preocupá-la, mas sentia que se não falasse com alguém naquele momento, iria perder a cabeça. Então, apenas suspirou e abaixou o olhar.

— Carla não estava lá, hoje. Ela provavelmente vai começar a me evitar de novo. — Sentiu seus olhos queimarem. — Eu estou me sentindo tão perdida e sozinha, que a companhia dela se tornou... especial para mim. Eu estava mentindo para mim mesma, dizendo que era querida e amada, mas eu não sou. — Sua visão começou a ficar turva. — Carla gosta da Leyla, não de mim. E você estava certa, isso também se aplica ao Henrique e... a você.

— A mim? Camila, é claro que eu gosto de você! Por que acha que estou te ajudando com isso tudo? Você é especial para mim. — Ela olhou para abaixo e apertou os lábios. — Me desculpa pelo o que eu disse sobre o Henrique, no outro dia. Eu não queria te deixar triste.

— Você não disse nenhuma mentira. Só me mostrou o que eu não estava querendo ver.

— Mas não estava totalmente certa. Foi você quem teve um avanço com a Carla, não a Leyla! Você quem está se aproximando do Henrique, não ela! Pode parecer que não, mas essa Leyla de agora, ou seja, você, é especial para eles também! A Camila é importante para eles, mesmo que eles não saibam disso. Assim como é para mim.

— Mas com certeza eles... eles não me veriam da mesma forma se descobrissem sobre tudo. — Sentiu sua voz falhar, e colocou as mãos sobre o rosto. — Estou cansada, Paty. De tudo. Me sinto uma inútil. N-não tem nada que eu possa fazer sobre a O.P.U. Ximú está sumida, e p-provavelmente Heliberto está sofrendo mais do que aparenta, assim como o Dian. Todos eles precisam lidar com a verdade cruel de que vamos morrer, e eu não posso fazer nada para mudar isso! Sou tão patética!

— Camila, você está sofrendo tanto quanto eles, senão mais. Não pode abraçar o mundo, eu já te disse isso. Mas sei o quanto deve ser ruim ver seus amigos nessa situação, porque eu também detesto te ver desse jeito.

— O Tiago... ele era minha família! E-era para ele estar aqui! — Disse com a voz trêmula. — E-era para estar... co-comigo. E e-ele me traiu! N-não aguento mais isso, Paty!

As lágrimas caíam desesperadamente por seu rosto. Sentia-se sufocada, e uma agoniante dor no peito parecia que iria esmagá-la a qualquer momento. Sentiu seu corpo tremer, e seu rosto ficou dormente. Parecia que estava, pela primeira vez, colocando realmente tudo o que sentia para fora.

Tudo o que estava acontecendo passou em sua cabeça, a fazendo afundar cada vez mais em lágrimas e desespero. Primeiro, teve o acontecido com Daniel, assim que chegou àquele mundo, e agora, tinha que lidar com a O.P.U, que estava fazendo todas as pessoas que lhe eram importantes sofrerem. Por que tudo isso tinha que acontecer com ela?

Sentiu que não conseguia mais suportar aquela agonia esmagando seu peito, e explodiu em palavras, ainda tremendo.

— EU NÃO AGUENTO MAIS ISSO! — Disse entre soluços; a respiração descompassada. — POR QUE A O.P.U NÃO ME MATA LOGO? EU NÃO QUERO MAIS VIVER! EU SOU UMA INÚTIL!

— Não diga isso, Camila. Olha para mim! — Sentiu Paty pegar em seu rosto, o levantando. Viu que os olhos da menina a sua frente estavam marejados. — Vamos dar um jeito, eu sei disso. Mas não peça para que a O.P.U mate você!

— E p-por que não? Eu estrago tudo! Tudo é culpa minha!

— Não, não é! — Ela se sentou ao seu lado, a abraçando. — Sei que você se sente sozinha, mas você não está. Tiago pode não estar aqui, mas eu estou! Eu sou sua amiga, e você nunca vai estar sozinha enquanto eu estiver ao seu lado, está me ouvido? Podemos estar passando por momentos difíceis, mas estamos passando por isso juntas. Eu gosto de você por quem você é, Camila. Está me entendendo?

Sentiu mais lágrimas rolando por seu rosto, e seu choro só pareceu aumentar. Não soube exatamente o que estava sentindo na hora, mas sentiu que um peso a havia abandonado, e apenas apoiou a cabeça no ombro de Paty, colocando tudo o que estava sentindo na hora para fora.

Tais palavras a fizeram se sentir bem, mesmo que lá no fundo. Apesar de ainda estar em choque e soluçando desesperadamente por tudo o que estava acontecendo, era bom saber que era especial para alguém que gostava dela por quem ela realmente era.

O Drama da Família Scarlett: A Herdeira é Adotada?

Ontem, quarta-feira, dia 19 de maio, rumores de que Leyla Scarlett, a futura herdeira da segunda família mais importante do país, é adotada, chegaram até mim.

Segundo às informações, o motivo da adoção teria sido para tirar o lugar de Venice Scarlett como herdeira da família. Provavelmente, todos já sabem o porquê de Carla Scarlett ter assumido o lugar de seu irmão, Otávio Scarlett, na presidência da empresa de tecnologias de sua família. Porém, caso alguns não se recordem, irei refrescar suas memórias.

Otávio havia fugido junto de sua namorada, Lizz Maioré, por conta da pressão e a não aceitação de seus pais com o namoro dos dois. Então, Delphine Scarlett, a antiga Presidente das empresas Scarlett, o deserdou, e colocou sua filha Carla como a sucessora.

Porém, alguns anos depois, Otávio voltou com sua agora esposa, para Telúria, dizendo que ela estava doente e grávida. Delphine considerou em lhe dar seu lugar de volta, por conta da chegada de um futuro herdeiro. Entretanto, curiosamente, Carla Scarlett também engravidou na mesma época, e continuou sendo a sucessora. Ao que tudo indica, tudo não passou de um plano muito bem calculado para continuar com seu lugar na empresa.

"Tenho certeza que aquela garota é de Pandiógeis. É tão suja quanto as pessoas daquele lugarzinho, além de ter roubado o meu lugar na família. Não me admira que ela seja amiguinha daquele morto de fome que anda com ela, Lucas, que roubou a bolsa de estudos do próprio amigo, quando ainda estudava em Pandiógeis. Todos eles se merecem."

Agora, os questionamentos que ficam, é: Leyla continuará sendo a herdeira? Se a resposta for negativa, quem irá assumir seu lugar?

Para mais informações sobre, acesse a página de fofocas aqui no nosso site, e iremos os atualizar assim que obtivermos mais informações.

Paula Medsi, Telúria Tagebuch

Camila terminou de ler enquanto estavam na biblioteca, e apenas suspirou. Não estava com cabeça nenhuma para estudar, e as provas seriam em apenas duas semanas.

Percebeu o olhar preocupado que Paty a lançava de vez em quando, enquanto tentava ensinar a matéria de Matemática a Lucas. Ela tinha noção de que Camila não ficaria abalada com o conteúdo do jornal, mas presenciou o que aconteceu mais cedo, quando estavam na sala de aula, e Camila tinha noção de que isso a preocupou.

Por mais que dissesse que já estava bem melhor, isso não pareceu o suficiente para convencê-la. Porém, não era totalmente mentira. Grande parte do peso que carregava, de fato, a deixou, mas ainda se sentia mal com tudo o que estava acontecendo. Ximú havia lhe dito uma vez que ela era mais forte do que pensava. Ao que parecia, era verdade, mas estava cansada de ser forte. Só queria ter uma vida normal, e que tudo aquilo acabasse.

Notou os olhares curiosos de todos que passavam por ela, durante todo o dia. Ali mesmo, na biblioteca, percebeu os olhares dos estudantes sobre si, seguidos de alguma conversa em cochicho. Encontrou o olhar de Venice, que estava estudando com Melina, Leonie, Lia, Lucas e Felipe, na mesa da frente. A garota apenas crispou os lábios e a lançou um olhar chateado, antes de abaixar a cabeça para seu caderno.

— Não dá, Paty! — Lucas bufou. — Não estou entendendo nada!

— Como não? Estamos há dias estudando o mesmo conteúdo! — Ela pareceu irritada. — O que estava fazendo enquanto eu te explicava o dever?

Lucas apenas olhou para a frente, onde estava sentada Lia, que parecia rir de algo que Felipe disse, e voltou seu olhar para Paty, que grunhiu.

— É sério isso? Você me perturba por semanas para eu te ajudar, e quando finalmente aceito, você me ignora?

— N-não! Eu só realmente não estou entendendo, e bem, quando a Lia me explicava, era bem mais fácil de aprender.

— Ótimo. — Paty pegou o caderno de Lucas e o fechou, jogando em sua direção. — Então peça para ela te ajudar!

— Não, não! Espera, desculpa! — Ele olhou para baixo, parecendo envergonhado. — Eu realmente estou tentando, vocês sabem, estou falando bem menos sobre ela, ultimamente.

— Claro, está sim. — Henrique disse ironicamente. — Nem falou sobre ela, ontem.

— Mas não falei hoje!

— Não, só está olhando para ela durante todo o tempo em que estou te ensinando o dever. — Paty disse rispidamente enquanto abria seu caderno.

— Não, está com ciúmes, está? — Lucas sorriu travessamente para ela. Paty apenas o lançou um olhar mortífero, o que o fez se escolher. — Eu... só estava brincando.

— E você, Leyla? — Paty perguntou à Camila. — Está estudando História, não é?

— Sim. — Olhou para o livro que estava a sua frente, aberto. — Mas dei uma pausa. Acabei de ler o Telúria Tagebuch.

— E como você está? — Henrique pareceu preocupado.

— Bem. — Mentiu. — Eu esperava coisa pior. Mas não estou conseguindo me concentrar aqui.

— Bom, você se lembra da história de Telúria, certo? — Paty lhe perguntou, e apenas assentiu. — Então, esse será um dos conteúdos. Qualquer coisa, posso te ajudar, já que esse ingrato não mostra nem um pouco de interesse. — Ela olhou para Lucas.

— Não, eu disse que estou tentando! — Ele se defendeu. — Só me dá mais uma chance!

Paty, porém, não respondeu.

Os dias se arrastaram para Camila, mas não era algo coisa ruim. Sabia que, a cada dia que se passava, a O.P.U poderia agir novamente, e não seria nada bom. Além disso, não estava ansiosa para as provas. Estudar para tal, e ter isso como seu único foco, a faziam se sentir normal; uma adolescente com problemas normais. Suas preocupações em relação à O.P.U e seus amigos, ainda a atormentavam, e seu único escape era se concentrar nas matérias da escola, ou iria se afundar em lágrimas e desespero novamente.

Quando se deu conta, já era sábado, e bufou por isso. Não teria aula naquele dia, e teria que ficar o dia todo sozinha naquela mansão, sem fazer nada e sem ver seus amigos. Então, resolveu pegar seu celular e mandar uma mensagem para Heliberto, para ver como ele estava, como sempre fazia. E ele respondeu da maneira de sempre: dizendo que estava bem, tudo em caixa alta.

Pensou em Henrique no mesmo momento, e ficou tentada a lhe enviar uma mensagem. Conversar com ele sempre a fazia se sentir melhor, mesmo que só um pouco.

"Sempre vou estar aqui para você, caso se sinta mal, ou precise de alguém para conversar."

Abriu o seu contato na mesma hora, e assim que viu a foto que estava ao lado do nome do garoto, sentiu seu coração dar um pulo. Ele estava sorridente enquanto segurava um violão no colo. Gostava de vê-lo na escola, e já estava tão apegada a ele, que não aguentava mais ficar sem falar com ele.

"Precisa cortar esse sentimento, e agora. Porque se esperar mais, quando perceber, já vai ser tarde demais!"

As palavras de Paty a fizeram parar. Não podia continuar com isso. O que ela esperava, afinal? Que ela e Henrique tivessem alguma coisa especial? Se caso tivessem, seria baseado em uma mentira. Não era isso o que queria. Desejava ter algo verdadeiro com ele, e nunca poderia.

Suspirou, jogando o celular ao seu lado, na cama, sentindo seus olhos marejarem. Nunca poderia ter uma vida normal, e temia que morresse antes que tudo aquilo acabasse. Vivia constantemente em um pesadelo, e só queria que tudo parasse.

Na sexta, os estudantes da I.E.T pareciam não ter esquecido do assunto do dia anterior, e continuavam olhando Camila como se fosse algum tipo de celebridade, e ainda era possível escutar cochichos por onde ela passava.

— Leyla! — Escutou alguém lhe chamando por trás, enquanto estava no corredor do quinto andar, indo para sua sala. — Espera!

— Venice? — Disse ao se virar, franzindo a testa em surpresa.

— E-eu... queria me desculpar. — Ela disse quando parou em sua frente, parecendo envergonhada. — Por tudo isso do jornal. Eu até tentaria dizer a ela que foi apenas uma invenção minha, mas a tia Carla já foi entrevistada e já confirmou tudo, então não tenho o que fazer.

A olhou, confusa. A garota realmente parecia se sentir culpada.

— Tudo bem. — Deu de ombros. — Ficar lamentando pelo o que aconteceu não vai adiantar nada.

— Mas... eu fiquei pensando na conversa que tivemos aquele dia, e fiquei me perguntando a mesma coisa, desde então. O que mudou entre a gente? E eu percebi que você estava certa, todo esse tempo descontei em você o que eu sentia, e te coloquei como a culpada por todos os meus problemas. Bem..., não que você não tivesse culpa, em partes. Mas não quero mais brigar com você, e acho que eu estava sendo injusta te colocando como a única culpada.

— Espera..., está me pedindo desculpas por ter me culpado por tudo o que acontecia na sua vida, mas ainda me culpando?

— Mas você tem culpa em algumas coisas. Se você não tivesse sido adotada, eu seria a herdeira.

— Eu era bebê, como eu tive culpa disso?

— Por isso estou dizendo que você não é totalmente culpada.

— Não, Venice, eu não tenho culpa.

— É claro que você tem! — Ela fechou a cara. — Ou está dizendo que eu tenho?

— Não! Eu... — Suspirou, percebendo que seria inútil continuar aquela discussão. — Certo, Venice, aceito suas desculpas. — Se virou para retomar seu caminho, mas a mão de Venice a impediu.

— Espera! Agora é sua vez de pedir desculpas!

Se virou, a olhando com confusão.

— Minha vez?

— Sim. Como eu disse, você pode não ser totalmente a culpada, mas ainda tem uma parcela de culpa.

— Olha... — Bufou. —, eu realmente não estou com cabeça para isso, está bem? — Rumou em direção à sala de aula.

— Eu pedi desculpas a você! O mínimo que você tinha que fazer era fazer o mesmo! — Escutou Venice gritando de longe, parecendo irritada. — Você não mudou nada!

No horário do intervalo, o quarteto decidiu se reunir na biblioteca novamente, para estudar, após comerem. Lucas parecia estar bem mais concentrado no que Paty lhe ensinava. Ela alternava entre ele e Camila, tentando a ajudar na matéria.

— Paty, será que poderia me ajudar também? — Henrique deu um sorriso amarelo a ela. — Eu... não estou entendendo essa matéria de física aqui.

— Certo. — Ela suspirou. — O que é?

— Aqui está falando sobre reflexões. Difusa e regular. Mas não entendi muito bem a diferença. Aqui só diz o seguinte. "Na reflexão regular, é possível enxergar uma imagem refletida, enquanto na difusa, a reflexão que emana de objetos que não são dotados de superfícies suficientemente lisas."

— Imagine dois vidros: um liso e outro ladrilhado. Você consegue ver por através dos dois, porém, o liso você vê a imagem perfeitamente, enquanto o ladrilhado, a imagem que chega para você é totalmente disforme. O espelho liso seria a reflexão regular, e o ladrilhado, a difusa.

— Ah! — O rosto de Henrique pareceu se iluminar.

— Consegui, já sei tudo! — Lucas largou seu caderno na mesa, sorrindo, confiante. — Pode me perguntar qualquer coisa, Paty.

— Por que Portugal, a atual Telúria, passou a se chamar Espanha do Segundo Império, no século dezessete?

— Por que um cara morreu. Aí o parente desse mano teve que assumir o lugar dele. Só que esse parente era um espanhol, e chamou o país de Espanha do Segundo Império, e formou a aliança da União Ibérica entre os dois países.

— Você não vai colocar isso na prova, não é? — Paty o olhou com reprovação.

— Mas não está certo?

— Está. — Lucas sorriu. — Mas se pôr com essas palavras, na prova, você vai reprovar. — O sorriso no rosto dele murchou.

— A resposta certa seria "Devido à morte do Rei de Portugal, no início de século dezessete, que não possuía nenhum herdeiro, o país passou a ser governado pelo Rei da Espanha, que era de uma linhagem distante. Então, durante esse período, aconteceu o que foi conhecida como União Ibérica." — Camila respondeu.

— Isso mesmo, Leyla. Está certo. — Paty sorriu, orgulhosa.

— Isso é injusto! Ela disse o mesmo que eu, só que com outras palavras! — Lucas fechou a cara.

— Mas é óbvio. — Paty o olhou com repreensão. — E espero que você aprenda, porque é desse jeito que precisa escrever na hora da prova!

Alguns minutos depois, escutaram o sinal ressoando, e assim como todos os alunos que estavam na biblioteca, o quarteto reuniu seus materiais para rumarem em direção à sala de aula. Ao chegarem no salão principal, a voz de Dian os fizeram parar.

— Leyla! Posso falar com você? — Ele olhou para Paty. — E com você também.

As duas se entreolharam, confusas. Camila percebeu que o garoto parecia ansioso. Então, elas apenas assentiram, e se despediram de Henrique e Lucas, que foram em direção à escadaria.

— O que aconteceu, Dian? — Camila lhe perguntou.

— Aqui não. Me sigam. — Ele foi em direção ao corredor que levava à sala dos professores. Camila não tinha boas recordações daquele lugar.

Enquanto os três caminharam até o final do corredor, Camila sentia-se cada vez mais ansiosa. E chegando lá, Dian parou e as olhou com um olhar enigmático.

— Por que todo esse suspense? — Paty pareceu impaciente. — Espero que seja importante, porque vamos chegar atrasadas na aula!

— Kari falou comigo. Ela me mandou uma mensagem. Disse que todos os Viajantes precisam se encontrar urgentemente em Pandiógeis, na segunda. Está na hora de agirmos. Precisamos criar uma resistência.

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