Eles me pagam!
Sinceramente, COMO eu consigo fazer parte desse squad sem tentar estrangular ninguém? Talvez eu deva mudar para o squad do Midoriya, acho que eles me dariam mais valor.
E essa não é a primeira vez que eles inventam uma desculpa e deixam a limpeza das salas inteiramente para mim.
Certo, vamos ver por um outro ângulo. Hoje vocês tiveram um treino de luta super intenso e as individualidades do meu squad são todas físicas, enquanto a minha é mais do lado psicológico. É, é isso.
E lá vai eu tentanto encobertar eles...
...de novo.
Mas depois da aula prática de hoje eles devem estar exaustos. E tensos. Depois daquela luta do Bakugou com o Midoriya o clima bom foi totalmente para o ralo.
O que não me surpreende, visto que o Bagukou odeia perder e ele perdeu feio para o Izuku hoje.
Mas vendo o lado positivo, essa é a última caixa que eu tinha que tirar da sala, ou seja: ir embora, casa, banho, comida, televisão e coberta.
Por que esses corredores parecem maiores quando eu preciso transportar alguma coisa? E por que são tão silenciosos? Exceto por um barulho parecido com choro mas...
Espera.
Um barulho parecido com choro?
Isso é estranho, todos já deveriam ter ido para casa, exceto os professores, mas eles estão na sala de reuniões agora, então...
Coloquei a caixa no chão, perto da janela, e fui em direção à sala que o barulho vinha. Se eu tentar espiar eu consigo ver quem está aí? É claro que não conseguiria.
Certo, vamos do jeito difícil então.
Me aproximei devagar, seja lá quem for eu não quero que se assuste ou use a individualidade em mim. Abri uma frestinha da porta para descobrir quem é...
...Bakugou?
Ele está virado de costas para a porta, com os punhos fechados. Parece que está pronto para matar o próximo que aparecer na frente dele.
Eu deveria correr!
Conecei a fechar a porta devagar para não fazer barulho, até que o grito dele me petrificou.
Bakugou: QUE MERDA! -Chutou a cadeira que estava na frente dele, a derrubando.- POR QUE EU NUNCA CONSIGO DERROTAR AQUELE MERDA? ELE NÃO PODE SER MAIS FORTE DO QUE EU. EU NÃO POSSO SER MAIS FRACO DO QUE ELE. -Passou a mão em seus cabelos, nervosamente, e então se virou.
E... ele me viu.
Merda!
Bakugou: O QUE ESTÁ FAZENDO AQUI, IDIOTA? -Me encarou furioso, antes de seus olhos se arregalarem- Não me diga que... -Andou até mim mais rápido do que eu pude ver e segurou meu braço, me puxando para a sala- Não me diga que você estava escutando. -Segurou meus ombros, nos aproximando e nos fazendo ficar à centímetros e distância.
Seu rosto estava repleto de raiva. Não, raiva não...
...Ódio
— E-Eu... -Limpei a garganta. Eu não vou gagejar por medo dele- Eu estava terminando a limpeza e ouvi um barulho, resolvi verificar. Não estava te espionando ou coisa assim.
Ele fez um barulho parecendo um rosnado e soltou meu braço com brutalidade.
Bakugou: Ótimo, já verificou. Agora vai embora, Extra idiota. -Secou o seu rosto, que estava parcialmente úmido.
Espera.
Aqueles barulhos... ele realmente estava chorando?
O Bakugou estava chorando?
Bakugou: O que você está esperando? Um convite para sair? Anda logo, porra. -Foi até a enorme janela da sala e apoiou ambas as mãos no parapeito- Se não sair, eu te explodo!
Suspirei, sabendo que vai ser mais difícil lidar com ele dessa vez.
— Bakugou... -Fui até ele, colocando minha mão em seu ombro- Quer me contar o que está acontecendo? Somos amigos, você sabe disso.
Ele mexeu o ombro, expulsando minha mão dali e fez um barulho esquisito que ele só faz quando está muito irritado.
Bakugou: Eu não preciso falar nada. E você está me incomodando. Sai logo daqui. -Ele virou de costas para mim, deixando aparente as pequenas faiscas que saiam de sua mão- Sai logo.
É impressão minha ou a voz dele falhou?
Vamos lá S/N, só você pode ajudá-lo. Nem o Kiri consegue falar com ele quando está nesse estado.
— Bom, você sabe que no quesito chatisse e teimosia nós somos parecidos. Então por mais que não queira falar, eu vou ficar aqui.
Sentei na última mesa da sala, a sem cadeira, já que ela estava no chão por ter sido chutada. Pobre cadeira. Encarei as costas do Bakugou por alguns segundos, até ele bater com força na mesa que estava na frente dele.
Bakugou: MAS QUE DROGA. SÓ ME DEIXA EM PAZ! EU... -Parou, com a voz presa em sua garganta- Eu quero ficar sozinho. Eu preciso ficar sozinho. Eu não... -Conforme sua voz ia falhando, soluços escapavam dele.
E aí está um dos meus maiores medos:
O Bakugou demontrando fraqueza.
Respirei fundo e andei até ele, colocando minha mão em suas costas. Eu nem ouso abraçá-lo, provavelmente seria explodida e reduzida à cinzas.
Bakugou: É tudo culpa daquele nerd maldito. É tudo culpa da individualidade dele. É TUDO CULPA MINHA E EU SEI DISSO. É POR EU SER UM HERÓI DE MERDA.-Deu mais um soco na mesa.
— Ei Bakugou, respira fundo. -Apertei minha mão no seu ombro- Vamos nos sentar. -O levei à um canto do chão com um pouquinho de esforço, e depois, me sentei do lado dele.
A uma distância segura.
Bakugou: É culpa minha ser tão fraco. Depois da luta de hoje ficou mais claro ainda. Não importa quanto tempo eu estude, quantas malditas noites eu passe em claro treinando. Eu não consigo ganhar. -Disse com uma voz esganiçada, tentando se levantar, mas eu o impedi.
— Olha, eu sei que vencer é legal e importante, mas pra que tanta obsessão com isso?
Bakugou: Você não entende, S/N? -Olhou nos meus olhos pela primeira vez nessa conversa- Se eu não consigo ganhar daquele nerd, como eu vou me tornar um herói? Como eu vou proteger as pessoas? Como eu vou ganhar dos vilões? Por que continuar tentando se eu não vencer?
Ah, eu já entendi. Ele tem algum tipo de complexo de inferioridade com aqueles que ele mesmo julga mais fortes que si. E aparentente, se cobra mais do que deveria. Muito mais.
Bakugou: E se... E se eu nunca for capaz de me tornar um herói. -Enquanto ele me encarava, eu vi lágrimas se formando de novo em seus olhos. E tinha algo mais....
Seus olhos estão repletos de medo.
Esse é mesmo o Bakugou que eu conheço? Que todo mundo conhece?
Claro que é. Ele só se permitiu ser um pouco mais vulnerável, um pouco mais ele mesmo, e tirou a máscara de menino durão por um tempo.
— Bakugou, me escuta. -Cheguei mais perto dele e segurei seu rosto com minhas mãos.- Se tem alguém capaz de virar um herói aqui nessa escola, esse alguém é você. O único problema é que você se cobra demais. Só continue focado no seu objetivo e evolua por você, não para os outros, ou para se gabar.
Em nenhum momento ele fez questão de quebrar nosso contato visual.
— Você não é inferior à ninguém aqui, mas também não é superior. Todos trabalham duro todos os dias tentando melhorar as habilidades e técnicas. Tente pensar um pouco mais além, e saiba que você tem a gente para te apoiar, você tem a mim. O seu potencial é gigante, e eu tenho certeza que daqui uns anos você estará no Top 3 de melhores heróis do Japão.
Eu sempre consegui segurar ao máximo o que eu sinto pelo Bakugou. Mas por agora, eu desfiz um pouco desse controle e me inclinei para beijar sua testa, o puxando para um abraço em seguida.
Talvez eu seja explodida por isso? Com certeza.
Talvez ele passe a me odiar? Tem muitas chances.
Mas eu prefiro pensar em como ele está quebrado e fragilizado agora. E se eu puder ajudá-lo de alguma forma, eu vou.
Ele não retribuiu o abraço, mas seus ombros começaram a tremer e ele começou a chorar de novo.
Eu sei que esse abraço passou a mensagem de que ele não está sozinho. E chorando, ele consegue liberar tudo que esteve guardando por anos.
Bakugou: Obrigada, sua extra idiota. -Se afastou de mim e virou o rosto. É um tom rosado que eu estou vendo nas bochechas dele?
— De nada, Katsuki. Voc-
Olhamos para a porta ao fazer aquele barulho irritante quando é aberta, mostrando que Aizawa tinha acabado de abrí-la.
Bakugou secou o rosto e se levantou na velocidade da luz, e eu resolvi seguir o exemplo para não ficar no chão.
Aizawa: O que estão fazendo aqui? Já deviam estar em casa. Andem logo, já está escurecendo.
Bakugou colocou as mãos no bolso e foi andando até a porta.
Bakugou: Até amanhã, S/N. -Falou quando passou do meu lado.- Se cuida. -Me deu um beijo na bochecha.
Uau. Ele me chamou pelo nome?
E UAU. ELE ME BEIJOU NA BOCHECHA?
Contente com o avanço, comecei a andar até a saida em pequenos pulinhos, mas antes disso, Aizawa colocou a mão no meu ombro, me fazendo parar.
Aizawa: O que fez foi de grande ajuda. -Me olhou- Agora o Bakugou sabe que não precisa lidar com tudo sozinho. Por mais que não o demostre. Um passo de cada vez. Obrigado, S/N.
— Disponha, professor. O que fiz foi ajudar um.... amigo. Espero conseguir ajudá-lo um pouco mais.
O professor deu um leve sorriso para mim e me liberou. Fui para casa, feliz com o desenrolar que essa história pode tomar futuramente.
Mas espera um pouquinho aí.
O Aizawa estava nos espionando pela porta?
Em que momento ele chegou lá?
♡