A Viajante - A Resistência Se...

By autoratamiresbarbosa

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⚠ Atenção, este é o segundo livro da triologia "A Viajante". A sinopse pode conter spoilers! ⚠ Sem a ajuda de... More

Sobre o livro
Dedicatória
Epígrafe
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60

Capítulo 11

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By autoratamiresbarbosa

No começo de novembro, o clima estava bem mais frio, por conta da chegada do inverno, que seriam em um mês, mas não tanto. Ximú resolveu ir até a mansão Scarlett, dizendo que estava com saudades de Camila e queria lhe ver, e isso não pareceu agradar à Carla, que parecia confusa e desconfiada.

— Eu fiquei sabendo que Leyla foi te ver mês passado.

— Foi no final do mês retrasado, na verdade.

— É bem estranha essa sua tentativa de reaproximação repentina. Lembro que há seis anos, quando terminou a faculdade, saiu da casa da nossa mãe e disse que queria viver sua vida e construir sua carreira por mérito seu, sem carregar o "fardo" do seu sobrenome.

— Fo-foi isso que eu fiz! — Ximú deu um sorriso amarelo. — Mas vocês são minha família, querendo ou não. E só vim fazer uma visita.

Carla apenas subiu a escadaria sem dizer mais nada. Camila fez um sinal para Ximú a seguir até a sala. Elas caminharam pelo corredor, e quando chegaram ao cômodo, a menina se certificou de que não tinha ninguém no local.

— Eu recebi a sua mensagem dizendo para eu vir. E então? O que decidiram? — Ximú começou, se sentando no sofá, Camila fez o mesmo.

— Paty, Dian e eu estávamos planejando para qual lugar de Pandiógeis iríamos. Pretendemos ir nessa sexta. Irei dar uma desculpa a Bartolomeu dizendo para não me buscar, pois, supostamente, terei que fazer um trabalho na casa de uma colega de classe, ele não pode me impedir de fazer um trabalho escolar. Nós iremos para a região leste de Pandiógeis. Paty conhece um pouco do local, então vai facilitar bastante. Mas qualquer coisa, temos outros meios para não nos perdermos. Vamos ir a um local definido, mais especificamente, um parque que tem por lá.

Ximú fez uma careta apreensiva, e Camila reparou que ela balançava as pernas rapidamente. Notou também que ela apertava uma mão contra a outra.

— O que foi? — Camila a olhou confusa.

— Bem..., eu não vim aqui só para discutir com você sobre como iremos achar outros Viajantes, mas também, para dizer que não acho que seja uma boa ideia. Esperava que você tivesse decidido não pôr mais esse plano em prática, mas já que não foi o caso, peço para que repense sobre isso.

— Mas você estava tão animada. — Se sentiu confusa. Por que ela havia mudado de opinião tão repentinamente assim? — Achei que tinha gostado da ideia de achar outros Viajantes.

— E eu acho, mas a O.P.U ainda está por aí.

— Não podemos viver com medo da O.P.U.

— Mas temos que tomar cuidado. — Ela pareceu nervosa. — E ir para Pandiógeis atrás de outros é perigoso. Talvez seja melhor você não ir.

— Por quê?

— Você é Leyla Scarlett aqui, Camila. A O.P.U com certeza conhece você.

— Eu não vou deixar vocês irem sozinhos! Além disso, prometi à Paty.

Ximú suspirou. Pareceu pensar por alguns segundos antes de assentir com cautela.

— Certo.

Se lembrou de repente da suposta Leyla que estava por aí, supostamente em seu corpo. Apesar de achar que essa teoria não podia ser verdade, ter a opinião de Ximú sobre o assunto talvez fosse bom.

— Aliás, tem algo que eu gostaria de saber sua opinião.

— Ah, claro! Eu amo dar conselhos. — Ximú a olhou interessada e sorriu, colocando o sorriso animado em seu rosto que Camila não via desde o último encontro com ela. Não tinha percebido antes, mas Ximú parecia bastante preocupada e ansiosa naquele dia. Logo ela, que sempre parecia feliz e animada com tudo. Talvez fosse só apreensão de ir a Pandiógeis, com a possibilidade de a O.P.U fazer alguma coisa, concluiu.

— Não é bem um conselho. Só uma teoria que eu gostaria de compartilhar com você. Bem, há um mês, recebi um papel me chamando de impostora, e seja quem for que escreveu, se identificou como Camila.

— Mas..., Camila é você! — Ximú a olhou confusa.

— Por isso mesmo. Paty acredita que possa ser a Leyla, porém, eu não acredito muito nessa teoria. Tenho medo de ela estar acreditando nisso porque quer convencer a si mesma de que pode ser a amiga. Mas o que acha disso?

Ximú olhou para o teto, parecendo pensar. Depois de um tempo, finalmente respondeu:
— Bom se isso for verdade, teria que ter humanos no meu corpo, no de Heliberto e no de Godofredo.

Camila ergueu as sobrancelhas, surpresa. Não havia pensando nessa possibilidade. Mas obviamente, não era possível. Henry teria lhe contado sobre, não? A menos que ele não tivesse noção disso. De qualquer forma, não tinha como ser possível. Leyla, assim como Oliver, Angelina e Leon não passaram por nenhum Portal. Principalmente este último. Ela havia o visto morrer.

— Mas supondo que seja realmente alguém no seu corpo, e se for outra pessoa, e não a Leyla? — Ximú continuou, parecendo aflita novamente.

— Eu também pensei nisso. Pode ser outro Viajante no meu corpo.

— Também. Mas e se for... — Ela deu uma pausa, aflita. — ...e se for a O.P.U?

— O.P.U? — Camila sentiu-se confusa com a teoria, e percebeu a tensão no rosto de Ximú.

— E se for uma isca deles? Para atrair você e...

— Ximú, calma! Você está pensando demais nisso. Não se preocupa, não é a O.P.U. — Não sabia se estava tentando convencer Ximú ou a si mesma. Talvez as duas alternativas.

Isso a deixou pensativa. Não teria como ser eles, teria? Não tinha como eles se disfarçarem com as características exatas de alguém. Claro, considerando que essa menina misteriosa se parecesse mesmo com Camila. Porém, de acordo com Henry, a organização era imprevisível, e poderia fazer de tudo. Querendo ou não, era uma possibilidade. Paty, porém, pareceu se convencer de que essa teoria não podia ser real, no dia seguinte.

— Óbvio que não!

— Mas por que não? Também é uma possibilidade.

— Não, não é.

A olhou, confusa. Paty parecia estar decidida com seu pensamento. Essa ideia de que Leyla ainda poderia estar viva, parecia mexer muito com ela. Pelo um ano que a conhecia, Paty quase nunca agia emocionalmente em quase nada, e procurava considerar todas as possibilidades. Não parecia ser isso o que ela estava fazendo.

Decidiu não falar nada. Não iria entrar em uma discussão com Paty sobre isso, até porque, sabia que não ganharia. Porém, não gostava de ver que ela estava alimentando esperanças de ser mesmo Leyla. A teoria de Ximú fazia sentido. Até mais do que a de Paty. A menina, até agora, esteve certa em todas as teorias, mas existia exceções.

— Irei passar um trabalho para vocês sobre a matéria de hoje. — A voz da Professora Geórgia, de Geografia, fez Camila voltar sua atenção para ela. — Será em dupla, e vocês irão poder escolher com que vão fazer. Quem ficar sem dupla, venha até mim.

Um murmúrio tomou conta da sala. Alguns estavam se levantando de suas mesas para irem até outras mais distantes, chamar os colegas de classe. Venice, foi uma delas. Ela disse algo para Melina, que assentiu. Venice se levantou sorridente, e foi em direção a Henrique.

— LEYLAVOCÊQUERFAZERTRABALHOCOMIGO? — Henrique se empoleirou para frente rapidamente, dizendo as palavras tão rápido e desesperadamente. Viu Venice parar abruptamente no meio do caminho e olhar impaciente para os dois.

— C-claro... — Foi tudo que Camila conseguiu responder. Venice bufou e voltou para o seu lugar, parecendo irritada.

— Valeu. É que..., sabe, você foi a primeira pessoa que pensei. — Henrique se explicou quando Camila se virou para olhá-lo.

— Tudo bem. Mas não sei se vai querer fazer comigo. Digo, Paty é bem mais inteligente que eu.

— Ah! — Ele pareceu constrangido. — Se você não quiser fazer comigo, então...

— Não é isso! — Ela disse rapidamente. — Claro que eu adoraria fazer com você!

— Que bom. — Ele sorriu e Camila apenas retribuiu o sorriso.

Seu olhar pousou em Lucas, que estava no fundo da sala, de cabeça baixa. Automaticamente seu sorriso murchou. Ver Lucas, uma das pessoas mais extrovertidas e animadas que conhecia, agora tão antissocial e para baixo, a fez sentir um aperto o peito. De vez em quando, ficava com ele no intervalo. Porém, o garoto parecia estar a evitando cada vez mais. Ele se sentia tão culpado assim a ponto de achar que merecia ficar sozinho?

— Não podemos continuar assim. Temos que fazer alguma coisa.

— O quê? — Paty e Henrique disseram em uníssono, aparentemente confusos.

— Estou falando sobre o Lucas. Olhem para ele. — Os dois se viraram para acompanharem o olhar de Camila. — Ele se transferiu para a nossa sala para ficar com a gente, e agora o deixamos sozinho.

Paty bufou.

— Será que não consegue perceber? Lucas não se transferiu para a 2000A por causa de nós, e sim para fugir do Felipe!

— Mas eu não acredito que foi apenas por isso. E sabe, nós estamos sendo péssimos amigos. Ele errou, mas está disposto a mudar. Temos que apoiá-lo. Tenho certeza de que seria isso que ele faria por nós! Apesar de todos os defeitos, ainda é o Lucas.

— Eu não o conheço mais. — Henrique parecia impaciente, assim como Paty.

— Esse era ele de quase dois anos atrás! Ele mudou muito, e realmente está arrependido, eu sei disso. Todos cometem erros. E se arrependidos e dispostos a mudar de verdade, todos merecem uma segunda chance.

Eles ficaram calados, olhando para algum lugar ao longe, parecendo pensar em outra coisa. Mas Camila sabia que, apesar disso, estavam a escutando. Ninguém falou mais nada até a hora do intervalo, e Camila entendeu o silêncio dos dois como algo bom. Significava que eles isso havia mexido com eles, de alguma maneira.

Desceram em silêncio para o refeitório pela escadaria, por conta de os elevadores já estarem cheios, como de costume. No refeitório, encontraram Lucas. Já fazia um tempo que não o viam ali. E daquela vez, ele realmente estava comendo, e não brincando com a comida, como fazia na maioria das vezes.

— Por que não vão falar com ele? — Camila sugeriu.

Paty e Henrique se entreolharam, fazendo caretas de apreensão.

— Certo. — Henrique suspirou. — Vamos lá.

— O quê? — Paty a olhou com surpresa.

— Leyla está certa. Se ele estiver disposto a mudar...

— Mas ele pode acabar fazendo o mesmo conosco. Não, desculpa, comigo, pois você tem muito mais poder que ele só por morar em Marion. Além disso, sua tia ser a Coronel mais respeitada do país. Ninguém seria maluco de mexer com você! — Paty disse rispidamente. — O que ele faria com você?

— Me decepcionar, é isso que ele poderia fazer. Lucas era meu melhor amigo. — Henrique respondeu no mesmo tom.

— E por que não confiou no seu melhor amigo?

— Você também não!

— Sim, porque ele não era meu melhor amigo!

— Já chega vocês dois! — Camila os repreendeu. — Os dois não deram uma chance para o Lucas, então ambos precisam se desculpar.

Os três caminharam em direção ao garoto. Paty parecia ir mais contra a sua vontade do que Henrique. Ao se aproximarem, Lucas arregalou os olhos, como da primeira vez que vira Camila se aproximando dele, no dia seguinte de toda a confusão.

Todos ficaram calados. Lucas não ousou se mexer, e parecia prender a respiração; Paty e Henrique olharam para o chão, parecendo nervosos. Uma tensão encheu o ar, e Camila conseguiu sentir. Passados alguns segundos, Lucas começou, depois de parecer tomar muita coragem:

— Estão aqui para me criticar? — Pesar e impaciência podiam ser escutados em sua voz.

— Não. — Paty suspirou. — Viemos pedir desculpas por ter te tratado mal.

— S-sério? — Lucas pareceu surpreso.

— É. Não fomos bons amigos.

— Obrigado. — Ele sorriu melancolicamente. — Mas não precisam pedir desculpas. Eu realmente entendo. — Seu sorriso murchou. — Eu não ia querer continuar sendo amigo de um trapaceiro.

— Mas não somos amigos de um trapaceiro. — Henrique falou, ainda sério. Apesar de sua feição, ele parecia bem mais tranquilo agora. Lucas o olhou apreensivamente. — Não é isso que você é, não mais. Você é nosso amigo, um que está arrependido. Devemos apoiá-lo.

Camila viu a felicidade genuína no rosto de Lucas com as palavras de Henrique. O garoto se levantou e abraçou o amigo, que retribuiu. Eles ficaram assim por alguns poucos segundos antes de se afastarem.

— Obrigado, de verdade.

— Foi a Leyla quem nos convenceu. Agradeça a ela.

Lucas sorriu para Camila, que retribuiu. Antes que o sinal tocasse, os quatro foram juntos para a sala de aula, como sempre fizeram antes de toda a confusão. Lucas parecia estar bem mais animado, como sempre foi.

Enquanto estavam no elevador, ele lhes disse que Lia havia lhe perguntando o motivo de eles não andarem mais juntos, e respondeu que havia sido apenas uma "briguinha", por isso talvez, a menina não perguntou nada a Paty, Henrique ou a Camila. Devia de ter se convencido da resposta de Lucas. Ele também comentou que, ultimamente, ela estava andando mais com Pleasy e Felipe, o que o preocupava. Porém, Lia havia o chamado para fazer o trabalho de Geografia. E para ele, isso significava que ela ainda não sabia de nada, ainda.

— Mas você precisa contar para ela! — Paty comentou.

— Eu vou. Mas depois que fizermos o trabalho.

Paty balançou a cabeça negativamente, e Camila sabia o porquê. Sabia, assim como ela, que Lucas estava enrolando. Pretendia adiar essa conversa até onde desse. E provavelmente, o resultado não seria nada bom.

— Leyla. — Paty a chamou quando estavam quase entrando na sala de aula vazia, e ela se virou automaticamente para olhá-la. Estava tão acostumada a ser chamada de Leyla, que esse poderia ser realmente seu segundo nome.

Paty fez sinal para que ela fosse em sua direção. Henrique e Lucas entraram na sala, falantes e sorridentes, e nem pareceram que as duas meninas haviam ficado para trás. Caminhou até Paty, que olhou para os lados, se certificando de que não havia ninguém.

— Está tudo combinado para sexta?

— Sim. Falei com Ximú, e com certeza ela avisou ao Heliberto.

— Claro... as... as... b-baratas. — Paty fez uma careta de nojo.

— Então, já pensamos em tudo; para onde vamos, o que fazer e quem procurar.

— As únicas coisas de ruim que podem acontecer são não conseguirmos achar nenhum Viajante, e morrermos em um acidente por estarmos em um carro em que tem, supostamente, uma barata dirigindo! — Ela fez uma careta de nojo novamente.

— Ximú é superinteligente e aprende rápido. Ela deve estar dirigindo bem melhor.

— Espero. Não quero sair voando pelo para-brisa que nem... — Ela hesitou por um momento, antes de continuar. — Além disso, não estou convencida com esse negócio de baratas possuírem consciência.

Entendia o lado de Paty. Também não acreditou no começo, e não fazia ideia do porquê de acreditar agora. Talvez, fosse porque tudo que estava acontecendo em sua vida era inacreditável. A àquela altura, em sua mente, isso tudo já era bem real.

☿ ☿ ☿

Na sexta de manhã, o carro vermelho parou em frente à escola, e as crianças se apressaram para sair. Camila ficou para trás propositalmente, para poder falar com Bartolomeu. Quando os três saíram, ela respirou fundo antes de começar:

— Bartolomeu, não espere por mim hoje.

O motorista se virou para encará-la, confuso.

— Como assim?

— Tenho um trabalho escolar na casa de uma colega minha, e vou para a casa dela.

— E quem é essa colega? — Ele pareceu desconfiado.

— Ela... mora em Presépsis, você não a conhece. Sabe, a família dela não é importante, ou nada do tipo.

— Sabe quem mais mora em Presépsis? Sua tia!

Camila hesitou, pensando se dizer que ia para essa cidade fora uma boa ideia. Porém, com certeza ele não a deixaria ir para Pandiógeis ou Manilópes, pois, provavelmente, Carla surtaria. E Marion era cheia de pessoas conhecidas. Presépsis acabou sendo a melhor opção.

— Não vou ver ela, se é isso que você está pensando! Mas e se fosse, qual o problema?

— Nenhum, tirando que você sempre foge da escola para ir até lá, e eu tenho que ficar te esperando que nem palhaço. Mas o que posso fazer? Sei que sua carência por uma figura materna é grande, já que sua mãe não gosta de você. — Ele deu um sorriso de escárnio. Parecia gostar de ofendê-la sempre que possuía a chance. Mas Camila realmente não se importava. Carla não era sua mãe. — Eu diria também sobre uma figura paterna, mas isso com certeza te abalaria, já que iria te lembrar do pai que tentou te matar.

— Primeiro, isso foi uma tentativa de me magoar? Porque não funcionou. Segundo, eu não vou ver minha tia, só vou fazer um trabalho escolar. Apenas te avisei para você não ficar surtando e colocando a culpa da sua irresponsabilidade em mim.

Bartolomeu fechou a cara, o que fez Camila colocar um sorriso vitorioso em seu rosto. Gostava de irritá-lo, mas não dizia essas coisas em um tom ríspido, como tinha certeza de que Leyla faria, e sim, em um tom que deixasse evidente que estava apenas brincando. Porém, isso não parecia ter muita diferença para Bartolomeu.

— Irresponsabilidade? Você quem fica fugindo e a culpa é minha?

— Sim. — Respondeu enquanto saía do carro. Quando o fez, se virou e olhou para a expressão furiosa do motorista. — Por que significa que você está sendo uma péssima babá, e está deixando os poodles da senhora Scarlett fugirem. — Fechou a porta e caminhou em direção ao portão de ferro da escola, sorrindo ao saber que conseguira irritá-lo.

Alguns minutos depois, quando a porta do elevador se abriu no quinto andar, ela acompanhou os estudantes que saíram para o corredor, à esquerda. Virou à direita, para ir até o corredor do segundo ano, e uma pessoa chamou sua atenção.

Parado, no lado esquerdo do corredor, estava Dian, parecendo procurar alguém. Quando seu olhar se pousou em Camila, ele sorriu e acenou. A menina retribuiu o sorriso, e caminhou em sua direção.

— E então? Vai ser hoje, não é? — Ele perguntou quando ela se aproximou.

— Sim. Vamos encontrar outros como nós.

— E o que você vai levar?

— Como assim?

— Bom, não sabemos o que pode acontecer. Então estou levando comigo alguns sanduiches, bolachas, sucos, água...

— Para que isso? — Camila o interrompeu. — Só vamos até Pandiógeis, não a outro país. Sei que é outra cidade, mas é bem perto. E é biscoito, não bolacha!

— É, eu sei. — Ele sorriu. — Mas é uma aventura, querendo ou não. Não se sabe do que poderemos precisar. E é bolacha sim!

— Não, não é! E Jean não vai com a gente, não precisa de tanta comida assim. Relaxa, vai dar tudo certo. — Tentou acreditar nisso. Uma parte sua estava ansiosa pela jornada e pela finalidade pela qual fariam. A outra, temia que Ximú estivesse certa em suas teorias sobre a O.P.U.

No final da aula, Paty e Camila se despediram de Lucas e Henrique, dizendo que ficariam mais um pouco para irem à biblioteca. Após isso, elas desceram até o quarto andar, pela escadaria, e foram até a área reservada, onde haviam combinado de encontrar Dian.

E lá estava ele, sentado em um banquinho de madeira polida e escura, que fazia conjuntos com a mesa redonda da mesma cor. As meninas foram em sua direção, preenchendo os outros dois lugares vazios, fazendo restar apenas um.

— Ximú chegará daqui há dez minutos. — Camila explicou. — Ela é bem pontual, então temos que nos certificar de que temos tudo, logo.

— Eu consegui o mapa de Pandiógeis. — Paty tirou um papel meio amassado de sua mochila. — Apesar de eu morar em Pandiógeis, poucas vezes fui em Odermore, e aqui diz como chegar até lá.

— Mapa de papel? Por que não usamos o GPS?

Paty riu.

— Esqueci de comentar com você as regras que devemos cumprir em Pandiógeis. Número um: nunca ande com o celular na rua, se não quiser perdê-lo. Odermore pode ser o bairro mais "rico" de Pandiógeis. Mas ainda é Pandiógeis!

— Então vai ser uma aventura de piratas, onde vamos procurar tesouros através de mapas! — Dian pareceu empolgado.

— Dian trouxe comida para a gente, até demais! — Camila comentou. — Já temos um carro, destino, guia e comida. Então, está tudo pronto.

Os três desceram em seguida, e caminharam até o lado de fora da escola. Camila percebeu que o carro vermelho não estava ali. Não havia ninguém a esperando, então não precisaria fugir, e se sentiu aliviada por isso. Alguns minutos depois, um carro branco parou em frente a eles. Camila ficou em dúvida se era realmente Ximú, pois não teve nenhuma freada brusca.

Um barulho alto de buzina foi escutado, o que pareceu chamar a atenção de todos que estavam no local. A maneira contínua com que ela foi reproduzida denunciou que era realmente o carro de Ximú. Camila, então, se aproximou do veículo, e os outros dois a seguiram. O vidro abaixou, e revelou o rosto sorridente e conhecido por ela.

— Eu adoro fazer isso! — Ximú disse enquanto apertava novamente a buzina.

— Oi, Camila! — A voz de Heliberto foi escutada. Estava sentado ao lado da irmã, também sorrindo, enquanto comia uma maçã.

— Oi, Heliberto! — Ela sorriu e se virou para olhar Paty e Dian, que havia permanecido no mesmo local. — São eles!

Dian abriu a porta de trás e entrou. Paty, no entanto, pareceu hesitar por alguns segundos antes de entrar logo atrás de Dian, apreensiva. Camila fez o mesmo, fechando a porta.

— Bem-vindos ao meu carro. — Ximú olhou entusiasmadamente para trás. Camila gostou de ver que ela não parecia tão preocupada como da última vez que se encontraram. — Espero que tenham uma ótima estadia. Se puderem avaliar nosso serviço após a viagem, agradecemos! — Ela riu com entusiasmo, apertando novamente a buzina. Seu olhar se pousou em Paty. — Paty, olá! Nos conhecemos na casa da Camila, lembra de mim?

— E tem como não lembrar? — Paty fez uma careta de nojo. — Então..., vocês são mesmo baratas? — Paty perguntou, desconfiada. Ximú desfez o sorriso e olhou para Camila, parecendo pedir ajuda com o olhar.

— O quê? — Dian pareceu confuso. — Por que vocês sempre falam sobre baratas? Isso é alguma tara, ou algo assim?

— É brincadeira, Dian. — Camila se aproximou do ouvido de Paty e cochichou. — Ele não sabe sobre isso, então não fala nada, por favor!

— Ele não sabe que está em um veículo que vai ser dirigido por uma suposta barata? — Ela perguntou no mesmo tom, enquanto colocava o cinto desesperadamente. — Está escondendo dele que ele pode morrer nesse exato momento? E eu me perguntei como isso era possível ele estar tão calmo. Agora já sei o porquê.

— Ela está dirigindo melhor que antes. E nem teve freada brusca dessa vez. — Camila se esgueirou para frente para falar com Ximú. — Aliás, você estacionou o carro muito bem. Parabéns!

— Obrigada! — Ximú sorriu. — Eu estou bem melhor nisso!

— Oi, Paty! Eu sou o Heliberto. — Heliberto acenou para Paty, entusiasmadamente. — Não nos conhecemos antes. Camila me fala muito sobre você.

— Ela também me fala muito sobre você. A outra barata... — Ela fez novamente uma careta de nojo. Heliberto a olhou com confusão, assim como Dian.

— Vamos para Pandiógeis! — Ximú pareceu empolgada, enquanto dava ré. Todos foram jogados para frente e para trás nas tentativas de Ximú de andar para trás com o carro, nas quais, em uma delas, subiu na calçada da escola e quase atropelou um estudante, que gritou antes de sair correndo. — Ainda estou aprendendo a dar ré. — Ela riu, animada.

Camila olhou para Paty, e viu a expressão assustada em seu rosto. Verificou se ainda estava com o cinto, pois, pelo tempo de experiência como passageira de Ximú, sabia o que veria a seguir. Apesar de ter melhorado bastante sua condução, ainda era Ximú.

Como previsto, o carro começou a se mover rapidamente, já começando em uma velocidade alta. Se Camila não estivesse de cinto, provavelmente teria batido com a cara no encosto do assento da frente, como foi o caso da Dian.

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