A Viajante - A Resistência Se...

By autoratamiresbarbosa

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⚠ Atenção, este é o segundo livro da triologia "A Viajante". A sinopse pode conter spoilers! ⚠ Sem a ajuda de... More

Sobre o livro
Dedicatória
Epígrafe
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60

Capítulo 3

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By autoratamiresbarbosa

De noite, quando o alarme ressoou indicando que todos já deviam estar na cama, às nove, Tiago já se encontrava deitado, e escutou as vozes cessarem aos poucos dentro do dormitório. Algum tempo depois, olhou para o relógio a sua frente, e percebeu que já estava marcando dez e meia.

Suspirou, ainda pensando se isso seria uma boa ideia. Iriam dar falta dele na manhã seguinte, e se voltasse, provavelmente seria punido. Mas não, não podia hesitar. Já estava decidido.

— É por Camila. — Disse a si mesmo.

Olhou novamente para o relógio. Eram dez e cinquenta e cinco. Se sentou em sua cama, colocou a mão por dentro da fronha do travesseiro, até achar o rasgo e pegou a chave, colocando-a no bolso de sua calça. Ainda sentado, passou o olho pelo dormitório escuro. Talvez nunca mais voltasse para aquele lugar, e mal ou bem, ali era seu lar. Apesar de não ter muita intimidade com as pessoas do local, conhecia algumas legais, e iria sentir saudades. Porém, sabia que não sentiria mais deles do que de Camila.

Não sabia o que iria fazer depois, caso conseguisse achá-la ou não, e resolveu deixar isso para depois. Tiago nunca foi uma pessoa de pensar antes de agir, e sim o oposto. Sempre achava que, depois de feito, iria conseguir encontrar alguma solução. Diferente de Camila, que sempre pensava nas possíveis consequências de seus atos.

Se levantou da cama, se ajoelhou e pegou sua mochila remendada, que estava embaixo dela, já preparada com roupas e outras coisas que poderia precisar. Em seguida, saiu do quarto, tomando cuidado para não ser visto por ninguém.

Desceu a escadaria, apertando os olhos para conseguir enxergar no escuro, verificando se Vitória já estaria ali. Chegando ao último degrau, percebeu que ela ainda não havia chegado. Sentiu a ansiedade crescer. Não poderia se demorar muito ali, ou poderia ser pego. Ela não iria zoar com a cara dele, iria?

— Você veio, então. — Uma voz sussurrou em seu ouvido, fazendo-o pular de susto, escutou a risada baixa de Vitória ecoando pelo local vazio.

— Demorou. — Tiago disse com impaciência.

— Trouxe a chave? — Ela estendeu a mão, ignorando o comentário.

Suspirou. Tirou o objeto do bolso da calça e olhou uma última vez para o seu contorno escuro antes de colocá-lo, de má vontade, nas mãos de Vitória. Teve a impressão de ver um sorriso de formar no rosto da menina, na escuridão. Vitória, sem dizer nada, apenas caminhou até o portal sem porta, que dava acesso ao pátio, e Tiago resolveu segui-la.

Os acontecimentos do dia em que a coisa azulada surgiu se passaram em sua mente. Olhou para a porta entreaberta da cozinha, ao longe, e a escuridão do interior do cômodo era visível. Na semana anterior, essa mesma escuridão havia sido substituída pela misteriosa luz azulada.

— Para onde estamos indo? — Perguntou à Vitória.

— Vamos sair do orfanato.

— A passagem é... por aqui?

— Por que acha que eu estaria vindo aqui, Tiaguinho?

Trincou os dentes com o apelido, e a escutou rir pelo nariz. Vitória realmente sabia como irritá-lo.

— Eu sei que você me ama, mas não precisa me dar esses apelidos idiotas. — Disse ironicamente.

Ao invés de ir em direção à cozinha, a garota virou à direita, e foi em direção à parede. Ele ficou confuso, ela iria pular o muro? Mas era muito alto, não tinha como fazer isso. Porém, Vitória parou antes de chegar lá, e Tiago fez o mesmo, se pondo ao seu lado.

— E agora? — Ele perguntou, olhando para os lados, verificando se ninguém estava os vigiando.

— Olha para baixo.

Ele o fez, e viu um bueiro de cimento, que havia passagens pelas laterais, para que a água da chuva caísse. Olhou confuso para Vitória, até que uma ideia maluca passou por sua cabeça.

— Não vamos entrar aqui, não é?

— Como você é inteligente. — Vitória disse com ironia. — Claro que vamos. — Ela pareceu se divertir com a expressão confusa e surpresa no rosto do garoto. — Achou que iríamos fazer o quê? Pular o muro?

Ele revirou os olhos.

— Isso vai dar onde?

— Fora do orfanato, mais especificamente, do o outro lado da rua. Também tem passagem para vários outros locais, mas eu nunca fui muito longe. — Ela suspirou. — Vai entrar ou não? Não se preocupa, não é muito fundo.

Analisou-a por um momento, e não viu nenhum sinal de deboche. Vitória estava mesmo falando sério. Entrar dentro de um bueiro era uma ideia maluca. Mas se essa fosse a única maneira de sair do orfanato, ele faria.

Decidiu jogar sua mochila primeiro, para ver pelo barulho, a profundidade. Logo após de jogá-la, ela se chocou rapidamente contra alguma superfície. O barulho chegou em seus ouvidos em forma de eco. Olhou para Vitória, que o encarava com interesse, vendo o que ele faria a seguir.

Se abaixou e enfiou as pernas dentro do bueiro, não sabendo a profundidade exata, e temendo, de alguma forma, cair de mal jeito e se machucar. Pegou impulso com as mãos e deslizou para dentro. No instante seguinte, sentiu os pés tocarem em algo sólido. Viu as luzes do pátio serem ofuscadas pela escuridão que tomou conta de seus olhos.

Olhou para cima, e através da luz que entrava pela entrada do bueiro, viu Vitória repetindo a mesma ação que ele havia acabado de fazer, porém, ela descia se segurando em uma espécie de buracos na parede do local, que não havia percebido antes.

Tiago deu um passo para frente, permitindo que a garota descesse sem cair em cima dele. Percorreu o olho por todo o local e, devido a escuridão, não conseguiu ver muitas coisas, exceto as paredes, que eram iluminadas pela escassa luz do pátio. Eram de cimento, e pareciam sujas de terra e molhadas. O cheiro naquele local não era muito agradável.

Quando Vitória desceu, escutou os pés dela tocarem em algo sólido, e um barulho de como se houvesse acabado de pisar em uma poça de água chegou aos seus ouvidos. Olhou para baixo e viu que o chão de cimento era igualmente sujo e molhado, como as paredes.

Se lembrou de sua mochila, e a pegou rapidamente do chão. Notou que ela estava um pouco molhada e suja. Bufou, colocou-a sobre os ombros em seguida, limpando a mão suja no uniforme branco — já que não havia colocado o pijama —, não se importando com qual estado a roupa ficaria.

Uma luz que apareceu de repente pareceu o cegar, e ele apertou os olhos. Passados alguns segundos, os abriu, colocando a mão na frente do rosto.

— O que é isso?

— Eu trouxe uma lanterna para a gente. Não sou maluca ao ponto de não olhar por onde ando. Vamos.

Ela começou a caminhar pelo esgoto, e Tiago a seguiu. Os dois seguiram reto. Tanto no lado esquerdo, quanto no direito, percebeu algumas passagens, semelhantes a corredores, que provavelmente levavam a outros lugares. No caminho, teve impressão de ver algum bicho, que concluiu ser um rato, andando nos cantos.

— Você... sabe de algum local em que eu possa encontrar... cientistas? — Ele perguntou de repente. Talvez se conseguisse achar pessoas que, possivelmente, entendessem do assunto, ele poderia descobrir o que aconteceu com Camila.

— Cientistas? Não me diga que esse é o seu sonho, ser um cientista. Olha, não sei se você seria inteligente o suficiente para isso. — Vitória riu debochadamente, o que o fez fechar a cara. — Mas respondendo a sua pergunta, já ouvi falar de um lugar bem famoso por aqui.

— Sério? — Sentiu uma chama de esperança se acender dentro de si. — Qual?

— Alguma coisa cruz, eu acho. Filho Cruz... Fiocruz.

— Que nome esquisito, isso é mesmo um local?

— Chegamos. — Ela disse enquanto apagava a lanterna e chegava para o lado, para dar passagem ao garoto. — Suba.

Se viu em frente a uma parede úmida de cimento, e uma luz chegou até seus olhos, vindo de cima. Olhou em sua direção e percebeu que havia outra entrada parecida com a do bueiro do orfanato, ali. Tentou analisar como iri fazer para subir e notou alguns buracos na parede, igual aos que vira logo atrás, grande os suficientes para uma pessoa se agarrar e colocar os pés.

— Você quem fez esses buracos?

— Não. Parece que alguém já andava por aqui bem antes de mim. Alguém que já morou no orfanato e também sabia sobre essa passagem deve ter os feitos, eu suponho.

Tiago colocou uma mão em um desses buracos, e logo em seguida, pôs a outra, fazendo o mesmo com os pés. Foi repetindo o movimento até chegar no topo do bueiro, onde se enfiou pela passagem da entrada, e viu que havia saído perto do meio fio, na calçada. Encarou a rua deserta. Apenas a luz do poste perto deles iluminava o local. Olhou para frente, e viu o muro alto do orfanato, no outro lado da rua.

Logo em seguida, Vitória veio atrás. A assistiu passando pela entrada do bueiro e se levantando, pondo-se ao seu lado, olhando a rua deserta, em seguida.

— Então, os boatos não são apenas boatos. É verdade que você sai do orfanato. Por mais que eu tivesse pedido sua ajuda, ainda tinha minhas dúvidas. Para onde é que você vai? — Ele perguntou, curioso, já sabendo que ela não iria respondê-lo.

— Não te interessa. — Ela tirou algo de dentro do bolso de sua calça de seu pijama cinza e estendeu para Tiago. — Pega.

Olhou para a mão estendida da garota, percebendo logo depois que se tratava de uma carteira. Arregalou os olhos, olhando confuso para ela.

— Eu sei o que você quer fazer. — Vitória começou, parecendo perceber a dúvida em seus olhos. — Você quer procurar a Camila. E por mais que eu ache perda de tempo, também legal da sua parte. Admito que a amizade de vocês é bem... rara e bonita.

— Mas... mas por que você está me dando isso?

— Muitos outros órfãos já recorreram a mim para fugirem do orfanato, e sempre tentei os ajudar de toda a forma que podia. Eu prefiro ter onde ficar, mas sei que muitos pensam diferente de mim. Para eles, as ruas são... melhores, de alguma forma, do que lá dentro. — Ela deu uma pausa. — Além disso, você não é o único que rouba as coisas do Diretor. — Vitória deu um sorriso quase imperceptível.

Encarou a carteira das mãos da garota e sorriu de volta, antes de pegá-la. Talvez, ela não fosse alguém tão ruim quanto aparentava. Apenas insuportável, concluiu.

— Obrigado, Vitória. Eu sempre soube que seu ódio era um disfarce para esconder o amor que você sempre sentiu por mim. — Tiago disse em um tom brincalhão.

Ela riu, dessa vez, sinceramente, o que nunca a havia visto fazer.

— Talvez. — Ela deu de ombros, dizendo em no mesmo tom. — Apesar de não os suportar, eu admito que sempre achei você e a Camila... interessantes.

Tiago arqueou as sobrancelhas, surpreso com o comentário, o que fez Vitória rir novamente. Ela se abaixou, fazendo menção de entrar no bueiro. Porém, antes, o olhou novamente.

— Toma cuidado. Não só com as ruas, mas também com aquele negócio esquisito e azul. Apesar de eu ter visto de longe, percebi que não parecia ser nada seguro, e eu sei que você está indo atrás dele. E boa sorte em achar a Camila. Seria bom vê-la novamente, pois sinto falta de alguém para perturbar. Claro, se vocês forem malucos em voltarem. — A viu sorrir, antes de vê-la sumir pela entrada do bueiro.

Tiago abriu a carteira, e percebeu que lá, havia várias notas de vinte, cinquenta, cem e duzentos. Arregalou os olhos e sorriu. Nunca havia visto tanto dinheiro.

Resolveu guardar a carteira na mochila, e olhou em volta, se vendo sozinho na rua. Um sentimento de solidão o abraçou por alguns instantes, e encarou o bueiro a sua frente; a passagem que seria sua última chance caso mudasse de ideia e quisesse voltar ao orfanato. Porém, já estava decidido, mesmo que sentisse falta daquele lugar, mal ou bem.

Resolveu caminhar pela rua, sentindo que estava deixando parte de sua vida para trás; o lugar que por quase toda a sua vida, foi sua casa, e percebeu que naquele horário não possuía muito o que fazer. Então, andou até de baixo de uma marquise e se sentou. Sentiu o frio do mês de setembro o envolver, então, abriu sua mochila e pegou um casaco e o colocou, agradecendo por ter pensado em levar suas coisas.

Se deitou perto da parede de um estabelecimento, de baixo da marquise, e olhou para os lados, inspecionando a rua. Apenas alguns poucos carros passavam ali. Sabia que sua cidade era perigosa, e torceu para que ninguém o assaltasse. Quem sabe não pensassem que ele era apenas um morador de rua e o deixassem em paz?

Colocou a mochila embaixo da cabeça e, diferente das outras noites, o sono veio logo. Sentiu a brisa noturna bater contra seu rosto, e ele conseguiu dormir, com a esperança, finalmente verdadeira, de que iria encontrar alguma resposta. De que iria encontrar Camila.

E aí, gente? Acham que o Tiago vai conseguir atingir o objetivo dele e encontrar a Camila? Ou que vai acontecer outra coisa? Compartilhem conosco! ;)

Nos vemos no próximo capítulo, Viajantes. Espero que tenham gostado da leitura. <3

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