(Sobre)vivendo ao novo │✔│

By GiovanaLazarin0

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Melissa Kanaderes não tem do que reclamar acerca de sua vida, a não ser a dor latente da perda de seu melhor... More

✧ Dedicatória ✧
✧ Nota ✧
Prólogo
I - Lidando com o novo
II - Acomodações
III - Un amico
IV - A luta
V - Novidades na cabeça
VI - Um presente de família
VII - Primeira má impressão
VIII - A festa
IX - Desculpas e... um navio?
X - Tomando a frente
XI - Um navio estranho
XII - Te conhecendo de novo
XIII - (re)começo
XIV - Um motivo maior
XV - Meu primeiro monstro
XVI - Bela destruição
XVII - Pela nossa amizade
XVIII - Guru do amor
XIX - Um presente necessário
XX - Aprendendo com você
XXI - Karma
XXII - Minha incríveis ideias de jerico
XXIII - Sendo sincera
XXIV - Acerto de contas (e um pouco de água)
XXV - Lar doce lar
XXVI - Verdade seletiva
XXVII - Um sonho estranho
XXVIII - Dolce illusione
XXIX - Ponto de inflexão
XXX - Pelo olhar de Luke Castellan
XXXI - Eu enfrento as sósias das Panteras
XXXII - Tudo vai ficar bem
XXXIII - Enfim outono
XXXIV - A cidade eterna
XXXV - Olá, pai
XXXVI - Há um traidor
XXXVII - Rumo inesperado
XXXVIII - Uma dose de impulsão
XXXIX - Meu primeiro espólio
XL - Adeus (ou pior que isso)
XLI - Uma legítima filha do mar
XLII - O alento da guerra
XLIII - Meu encontro com um leão-cabeça-de-bode
XLIV - Uma pausa no tempo
XV - Deja vu
Epílogo
✧ Notas finais ✧

XXVIII - Conversa alheia

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By GiovanaLazarin0

Acordei no dia seguinte como se tivesse dormido em cima de uma pedra.

Meu corpo estava dolorido e letárgico, minha cabeça custava a reiniciar. Não conseguia abrir direito os olhos por causa do excesso de luz que adentrava pela janela do quarto.

Me arrastei até o banheiro, tirei o vestido e coloquei minha jardineira velha que havia ficado jogada sobre o balcão em algum momento do dia anterior. Meu cabelo estava incrivelmente rebelde, um emaranhado castanho revoltoso e com vida própria. Acho que é o resultado de dormir com ele entupido de fumaça de nuvem artificial, optei por fazer uma trança, a opção de lavá-lo não me parecia atrativa naquele momento.

Determinei a mim mesma que não falaria nada, iria fingir que estava tudo normal. Não iria criar caso por causa de uma coisa que poderia muito bem ser fruto da minha imaginação.

Luke era meu amigo, só isso.

Eu iria ficar de bico calado.

Desci as escadas cantarolando, cumprimentei Matthew e ele me avisou que meus pais haviam saído para uma reunião importante, voltariam só no final da manhã.

Enquanto avançava pelo corredor fui pensando em coisas para fazer durante o dia, iria assistir algum filme, poderia treinar piano ou talvez dar uma passada na biblioteca. Não se engane, ler ainda é uma tarefa árdua e dolorosa para mim, mas digamos que meu relacionamento com as palavras evoluiu com o tempo e a solidão, hoje em dia eu até me arrisco a folhear algum livro de vez em quando.

Uma conversa abafada chamou minha atenção, estaquei no meio do corredor a poucos metros da entrada da cozinha, estava pronta para virar meus calcanhares e sair, não queria bancar a intrometida, mas a voz parecia ser de Delilah e ela estava... chorando?

— ...conseguir — ela dizia entre lágrimas — Você tem que encontrar uma maneira! Isso não é justo, não é certo!

— Eu vou — a outra voz era de... Luke?! — Eu darei um jeito. Acredite em mim, estou buscando uma forma de resolver isso, Delilah.

Eu juro por tudo o que você quiser que queria dar no pé dali, mas, minha curiosidade foi maior. Ele daria um jeito no que? E porque ela estava aos prantos?

Me apoiei no aparador que havia ao meu lado, meu corpo não movia um músculo, atento as palavras que ressoavam da porta entreaberta.

— Pelos deuses! — pude ouvir um talher caindo — Por que tem que ser assim? Por que? Por que? Tem que haver outra forma, você não me engana, garoto — sua voz emanava tristeza — Sei muito bem do que é capaz de fazer por ela, ah se sei.

— Eu já tomei a decisão — alguns passos hesitantes — Se não encontrar outra forma, vai ser assim e pronto. Eu não me importo.

— Isso não é justo! Pelo menos seja sincero, então!

Ela fungava e soluçava de forma descontrolada. Tentei me aproximar para ouvir mais um pouco, mas acabei esbarrando no aparador, quase derrubando um pequeno vaso de vidro que o enfeitava. A conversa cessou na mesma hora.

Gelei com medo de ser pega no flagra, ajeitei rapidamente o vaso e voltei a andar o mais normal possível, não queria que soubessem que eu havia bisbilhotado a conversa.

Respirei fundo um segundo antes de passar pelo vão de entrada.

Buongiorno, ragazzi! (bom dia, galera!) — falei em um tom bem alto e alegre, abrindo meu melhor sorriso de eu não escutei nada do que vocês conversaram enquanto ia até a geladeira.

Buongiorno — Luke estava sorridente, com a maior cara de pau da história.

Delilah se limitou a falar um bom dia baixinho e saiu dali cabisbaixa, afirmando que precisava ir até o escritório pegar as xícaras sujas de café que meu pai com certeza esquecera.

Fucei a geladeira em busca de algo, mas não havia nada de muito interessante, só frutas e eu não queria nada saudável naquele momento.

— O que foi com ela? — indaguei enquanto subia na bancada para alcançar os armários de cima — Me pareceu tristonha e abatida, é algo sério? — Melissa, a João sem braço.

— Ah — ele disse de modo despreocupado — Nada demais, errou uma receita de cookie e precisou jogá-los fora, sabe como ela fica quando isso acontece, não é?!

Concordei com a cabeça, mentiroso.

Decidi pegar um pacote de salgadinhos com queijo, daqueles cheios de química que te roubam uns cinco anos de vida a cada mordida. Me engatinhei pela bancada até chegar ao lado de Luke.

Ele estava encostado no balcão com uma xícara de café em mãos, ele ama café. Tipo, ele ama mesmo, toma em qualquer hora do dia, como se fosse água. Tenho a leve impressão de que seu cérebro já esteja totalmente viciado em cafeína, por isso que ela não faz mais efeito em seu organismo.

Fiquei estudando a fumacinha que saía do líquido, se distanciava dançando por alguns centímetros antes de misturar ao ar, deixando somente seu aroma agradável como lembrança.

Ele estava mentindo para mim, de novo. Uma pontada de tristeza acertou meu coração, havíamos prometido ser sinceros um com o outro e agora ele não me contava o real motivo de Delilah estar chorando, de estarem discutindo ferrenhamente cinco minutos atrás.

Me perguntei se seria imaturidade minha isso, ele não me devia explicações, afinal. Mas, então, porque mentira? Por que ela saiu no momento em que despontei na porta da cozinha?

E se eu lhe perguntasse, será que iria desconversar?

Uma vez meu pai me disse que, se as pessoas perguntassem primeiro ao invés de tirar conclusões precipitadas, haveriam muito menos brigas no mundo. Ele provavelmente se referia a algum de seus sócios barrigudos e encrenqueiros, mas, acho que serviria no meu caso também.

Era isso, eu iria falar que ouvi (sem querer!) um pouco da conversa, seria sincera, como deveria ser.

— Isso não te faz nada bem, sabia? — Luke me puxou para longe dos pensamentos ao apontar para o meu saco de salgadinhos — Ainda mais uma hora dessas.

— Não existe hora certa para comer as coisas, isso é uma invenção da sociedade — dei de ombros com a boca cheia de milho transgênico em formato de bolinha com essência fajuta de queijo — E você não está melhor do que eu, está se entupindo de cafeína logo cedo.

— Café faz bem — Luke tomou mais um gole, findando sua xícara — Além do mais, é gostoso.

— Meu salgadinho também é — o olhei de maneira óbvia.

Ele riu enquanto caminhava até a pia, fiquei lhe observando de costas. Céus, como ele havia mudado tanto em dois anos.

Estava mais alto e mais atlético, até sua postura estava diferente, seus ombros retos e firmes insinuavam que Luke estava sempre a postos, como se vivesse em modo alerta, sempre pronto para lutar.

A camiseta cinza ressaltava músculos que eu até então não havia notado, músculos fortes e bem definidos, que se retorciam de acordo com seus movimentos enquanto lavava a xícara.

Acho que talvez a inescrupulosa da Camille Feller tinha razão, seus músculos se moviam com uma certa graça, era prazeroso de olhar, ficar admirando aqueles braços fortes e...

— Meli? — Luke estralou os dedos na minha cara — Está acordada?

Pisquei algumas vezes para voltar em mim, senti minhas bochechas queimando como se estivessem a ponto de incendiar. O que diabos eu estava fazendo?

— O que você quer? — tentei soar desinteressada, mas com certeza foi pouco convincente, enfiei o restante dos salgadinhos em minha boca, pelo menos assim não correria o risco de falar o que não deveria.

— Estava olhando para o nada e babando — ele riu — Tem certeza de que dormiu bem?

Mostrei minha língua amarelada enquanto desempoleirava da bancada para jogar meu pacote de salgadinhos fora. Dei uma checada em minhas mãos, elas estavam amarelas cheias de farelo, mas esfreguei na roupa mesmo.

Luke me encarava com um sorriso brincalhão relampejando em seus lábios.

— O que acha de treinarmos um pouco? — disse apontando para a janela — Vou ficar mais um tempinho por aqui, queria aproveitar para lhe ensinar mais algumas coisas.

— Agora? — franzi o cenho.

— Nesse momento — e caminhou em direção a porta, estacando sob ela e se virando para mim — Só vou até o carro pegar minha espada que esqueci lá, te encontro nos fundos em alguns minutos, pode ser?

Concordei com um aceno e o observei sumir pelo corredor.

Quando foi que ele havia ficado tão bonito assim?

Cale a boca, Melissa, pensei. Cale.A.Boca.

Fui em direção aos fundos de casa matutando comigo mesma sobre lhe perguntar acerca da conversa com Delilah, o que era tão sério a ponto de fazê-la chorar? E quem era a garota do "eu sei muito bem do que você é capaz de fazer por ela"? Será que ele estava gostando de alguém? Mas, de quem seria, algumas de suas amigas semideusas do "Team Cronos"?

Nosso quintal era bem grande, todo delimitado por uma cerca graciosa de madeira enfeitada por algumas trepadeiras ocasionais, com uma piscina generosa que se estendia por toda a lateral direita da casa, algumas espreguiçadeiras e uma mesa gigantesca que só usávamos em dia de churrasco se espalhavam pelo piso amadeirado. Depois, havia uma pequena escada que dava acesso a área gramada, onde só havia grama () e algumas poucas árvores ocupando o restante do terreno, que terminava com uma pequena portinhola que daria acesso ao bosque de Kalorama Heights. O bosque não era grande coisa, só uma invenção de algum político que queria agradar seus amigos e colegas de trabalho (leia-se: angariar votos).

Caminhei até a grama e fiquei um instante sentindo a luz do sol queimando minha pele, fechei os olhos, me concentrando nos sons. Conseguia ouvir as árvores farfalhando por causa da brisa suave de verão que percorria o céu, passarinhos cantarolavam de um jeito tão empolgado, pareciam anunciar a chegada de algo incrível.

Abri novamente meus olhos e fitei os dois anéis que habitavam minha mão esquerda.

Ali, em casa, eu quase me esquecia de toda essa loucura de pai divino. E confesso que gostava de me sentir normal outra vez, sem toda aquela tensão de monstros e poderes.

Eu gostava dessa minha vida pacata, era gostoso ser uma mortal ignorante.

Certa vez ouvi de algum lugar que a ignorância é uma benção, eu estou realmente começando a acreditar nisso.

Encaixei meu dedo sob a pequena pedra azulada que brilhava da exposição ao sol, pressionando levemente, uma luz azul cobriu momentaneamente minha mão. Quando ela se findou havia uma bela espada dourada cravejada de água marinha reluzindo a minha frente.

Minha espada.

Eu acho que estou um pouco reflexiva demais hoje, sinto muito por você ter que ler isso de forma compulsória.

Mas, ao olhá-la me veio à cabeça o que Cronos dissera sobre Luke. Ele sabia que eu era poderosa, por isso me protegia. Será que isso era verdade? E, se fosse, era por isso que estava mentindo para mim? E porque diabos todo mundo queria me proteger? Será que não me achavam capaz de lidar com meus próprios problemas?

Por que diabos tinham tantas perguntas sem resposta?

— Pronta? — Luke surgiu ao meu lado empunhando sua espada.

Afastei todos aqueles pensamentos da minha cabeça.

— Eu nasci pronta — dei-lhe um sorriso resoluto.

— Então — ele esticou suas mãos, alongando-se — Vamos lá, me desarme, Meli.

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