(Sobre)vivendo ao novo │✔│

By GiovanaLazarin0

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Melissa Kanaderes não tem do que reclamar acerca de sua vida, a não ser a dor latente da perda de seu melhor... More

✧ Dedicatória ✧
✧ Nota ✧
Prólogo
I - Lidando com o novo
II - Acomodações
III - Un amico
IV - A luta
V - Novidades na cabeça
VI - Um presente de família
VII - Primeira má impressão
VIII - A festa
IX - Desculpas e... um navio?
X - Tomando a frente
XI - Um navio estranho
XII - Te conhecendo de novo
XIII - (re)começo
XIV - Um motivo maior
XV - Meu primeiro monstro
XVI - Bela destruição
XVIII - Guru do amor
XIX - Um presente necessário
XX - Aprendendo com você
XXI - Karma
XXII - Minha incríveis ideias de jerico
XXIII - Sendo sincera
XXIV - Acerto de contas (e um pouco de água)
XXV - Lar doce lar
XXVI - Verdade seletiva
XXVII - Um sonho estranho
XXVIII - Dolce illusione
XXVIII - Conversa alheia
XXIX - Ponto de inflexão
XXX - Pelo olhar de Luke Castellan
XXXI - Eu enfrento as sósias das Panteras
XXXII - Tudo vai ficar bem
XXXIII - Enfim outono
XXXIV - A cidade eterna
XXXV - Olá, pai
XXXVI - Há um traidor
XXXVII - Rumo inesperado
XXXVIII - Uma dose de impulsão
XXXIX - Meu primeiro espólio
XL - Adeus (ou pior que isso)
XLI - Uma legítima filha do mar
XLII - O alento da guerra
XLIII - Meu encontro com um leão-cabeça-de-bode
XLIV - Uma pausa no tempo
XV - Deja vu
Epílogo
✧ Notas finais ✧

XVII - Pela nossa amizade

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By GiovanaLazarin0

Já havia se passado uma semana desde o fatídico dia da luta.

Aos poucos as coisas foram voltando ao normal no acampamento. Alguns campistas haviam se juntado para consertar tudo o que foi destruído e já estavam bem adiantados na reconstrução.

A maioria dos chalés já tinham janelas de novo, os buracos foram tampados de verdade, as pontes haviam sido refeitas e o armazém de artes e ofícios estava progredindo, já tinha mais uma parede erguida, em poucas semanas estaria totalmente restaurado.

Só que era perceptível que tínhamos sido atingidos pela onda da morte.

Foi uma decisão silenciosa e unânime não falar sobre a batalha da colina. Simplesmente seguíamos nossas vidas, indo as aulas e treinando, como sempre. Também decidiram suspender todos os jogos por duas semanas, não havia clima para diversão e ninguém reclamou dessa decisão.

Eu ajudei como pude, auxiliando a replantar os pés de morango, por mais que fosse um desastre com jardinagem, dei meu melhor em cavar buraquinhos para os pobres coitados esmagados. Carreguei pregos e tábuas para cima e para baixo. Também aparecia na enfermaria sempre que conseguia, ainda haviam muitos feridos, então eles precisavam de toda a ajuda que conseguissem.

Eu também tive muitas longas horas de aula particular com Percy. Ele enfiou na cabeça que eu precisava treinar para conseguir dominar meus poderes, os quais, diga-se de passagem, eu ainda nem tinha. Passei tanto tempo encarando copos de cheios de água que minha cabeça doía só de pensar em fazer isso de novo.

Mas, mesmo com essas muitas horas que passamos juntos, ele parecia distante, parecia preocupado com alguma coisa. Vivia pelos cantos conversando em cochichos, seu semblante sempre estava franzido e inquieto. Certo dia acabei, sem querer, ouvindo ele e Grover conversando no chalé durante a tarde.

— ...ter que ir atrás — ele dizia — Precisamos saber mais sobre isso.

— Não sei se é uma boa ideia pedir uma missão agora — Grover disse nervoso — Acho que Quíron não autorizaria. O que Annabeth te disse?

— Que precisamos ir atrás disso.

— Oh Estige — ele baliu — Eu queria que conseguíssemos passar um tempo em paz, sem toda essa loucura.

Não fiquei para ouvir o restante da conversa, dei o fora dali.

Também tentei falar com Dionísio, eu estava muito curiosa para entender o porquê ele havia feito aquilo comigo. Porém, quando o interroguei ele se limitou apenas a erguer seus olhos tediosos em minha direção e dizer em claro tom de desinteresse:

— Eu fiz aquilo porque você, por si só, já é um desastre com uma espada em mãos. Agora imagine em um campo de batalha, mal saberia quem atacar e quem proteger. Foi um favor que te fiz, Meline, deveria me agradecer.

E voltou a sua Diet Coke, ignorando completamente a minha presença.

Eu já disse que minha vontade era afundar a cara daquele sujeito no soco?

Não vou mentir e falar que ignorei o que ele disse. Não sou hipócrita a tal ponto. O que eu fiz de verdade foi correr até a floresta, me encostar ao pé de uma árvore e chorar, chorar tanto a ponto de sentir meu pulmão queimando. Aquele cara tinha o poder de fazer com que eu me sentisse mais inútil do que normalmente era.

Fizeram uma reunião e decidiram que iriam reforçar a equipe de segurança do acampamento, além de começar a vigiar durante o dia também. Assim, constantemente eu via algum campista de armadura completa e empunhando alguma arma passeando pelas redondezas. Não sei se preciso dizer que me ofereci para fazer parte dos guardas, eu queria ajudar como pudesse. Obviamente me cortaram no talo, disseram coisas como "muito perigoso para uma novata" ou "você ainda precisa melhorar, não sabe nem se defender, quem dirá patrulhar a fronteira do acampamento".

Eu estava tão saturada de tudo que vinha acontecendo, com a minha cabeça tão cansada e tumultuosa que resolvi pegar meu casaco e ir caminhar um pouco, sabia que não deveria, não era muito seguro, mas eu sentia a necessidade de espairecer, de ter um momento de paz. Tudo aquilo iria acabar me levando a loucura.

Caminhei por mais de uma hora na mata, parando de vez em quando para inspirar ar fresco e ouvir o som da natureza. Fechava meus olhos e ficava com o rosto virado em direção ao céu, sentindo alguns raios de sol que atravessavam as folhas pinicarem minha pele.

O silêncio era tão acolhedor que cogitei me mudar para lá, pelo menos as árvores não me xingariam de inútil.

Acabei chegando ao fim da mata, dando de cara com alguma parte bem afastada da praia, dali não ouvia nem enxergava nada do acampamento.

Perfeito.

Tirei meus sapatos e os deixei em um canto junto do meu casaco, senti a areia fazendo cócegas em meus pés. Caminhei até a beira da água e os molhei, molhando também a beirada da minha jardineira jeans. Fiquei ali sentindo a água gelada, observando o movimento repetitivo do mar. Uma brisa refrescante acalentava o ambiente e os meus pensamentos.

Fechei os olhos novamente em uma tentativa de organizar minha cabeça, como minha vida havia virado de cabeça para baixo em tão pouco tempo? Como tudo tinha mudado tão rápido?

Eu sentia que não estava vivendo, estava apenas sobrevivendo a tudo que me acontecia, a todo aquele mundo novo. Eu apenas lutava diariamente para conseguir chegar viva ao anoitecer. Será que seria assim para sempre? Isso é tão desgastante, estar constantemente apagando incêndios cansa. Eu queria viver, contemplar minha vida, queria ter bons momentos, experiências incríveis.

Não queria apenas sobreviver em um jogo de caça e caçador, onde eu sempre era a maldita caça.

Estava tão absorta em meus pensamentos que não vi alguém se aproximando.

— Oi.

Abri os olhos instantaneamente ao ouvir aquilo. Não precisei me virar para saber quem era. Eu reconheceria aquela voz no meio de uma multidão.

— Luke.

Ele caminhou até a beira da água e parou ao meu lado, observando o horizonte.

— Gosto de vir aqui de vez em quando também — disse em tom casual. O olhei pelo canto dos olhos, ele vestia uma bermuda branca de linho e uma camisa social azul de mangas curtas, toda amarrotada. Estava quase parecendo alguém normal, só um cara em uma praia.

— Você continua vindo ao acampamento mesmo depois de tudo?

Ele abriu um sorriso acanhado, apontando para a pequena colina que havia após o fim da floresta.

— Aquele é o limite da propriedade, aqui é mundo mortal.

Luke se virou para mim e me encarou com seus olhos azuis tão escuros que mais pareciam um pedaço do universo. Continuei olhando para a frente, como se ele não estivesse ali.

— Sinto muito pelo que aconteceu ao seu acampamento, Meli.

— É o seu lar também — murmurei amargamente.

Ele não me respondeu, apenas colocou suas mãos nos bolsos e voltou a encarar o oceano à frente. A brisa fazia com que seus cabelos alourados balançassem para lá e para cá.

Uma ideia me ocorreu, uma possibilidade cruel e pesada. Mas, ainda assim era algo ponderável.

— Foi você? — perguntei sem rodeios — Foi você quem atacou o acampamento, Luke?

Ele arregalou seus olhos, incrédulo com o que ouviu. Abriu a boca algumas vezes, mas não saiu nada. Por fim, encaixou seus dedos no ossinhos da cintura e me encarou, com o semblante indecifrável.

— Acha que eu faria algo de mal a você, Meli? — seu tom era carregado de mágoa — Acha que eu colocaria a sua vida em risco? Eu estive lá naquele dia a tarde, acha que seu eu soubesse do que iria acontecer não teria te tirado dali? Não teria te levado para algum lugar seguro?

Cruzei meu braços e virei em sua direção, o fitei por longos segundos antes de erguer minhas sobrancelhas e falar, em um tom um tanto quanto venenoso:

— Não sei — dei de ombros — Ultimamente muito do que eu acreditava conhecer vem caindo por terra. Então, me diga, Luke, até onde você iria em nome do seu senhor supremo?

Luke me olhou abismado por alguns instantes, depois se virou para frente de novo e fechou os olhos, pude ver uma lágrima intrusa passando pela sua bochecha direita.

— Você é impossível, garota — ele balançou a cabeça — Impossível.

— Pelo menos eu sou verdadeira — resmunguei.

Ficamos em silêncio por alguns minutos. Minha cabeça fervia, meu peito parecia ter sido totalmente dilacerado.

Queria fazer tanta coisa, queria sumir dali, queria esmurrar Luke. Queria gritar com ele, queria entender porque ele precisava complicar tanto. Mas, em contrapartida, uma parte minha também queria abraçá-lo e desabafar sobre tudo, queria lhe contar cada detalhe dos últimos dois meses da minha vida e como eles me viraram do avesso, como eles me bagunçaram tanto.

Eu travava um luta interna entre amar ou odiar Luke. Sabia que dependia dele, odiava saber disso, mas não via como pôr um fim nesse sentimento pungente.

Ele sempre foi meu melhor amigo, ele me compreendia de uma forma que nem eu mesma sabia fazer. Era ele quem ia me buscar no fundo do poço todas às vezes que eu caía lá. Ele era a minha luz no fim do túnel.

Eu amava nossa amizade, amava como costumávamos nos dar tão bem. Amava como ele sabia ser exatamente o que eu precisava, como ele ria das coisas idiotas que eu fazia.

E, céus, Luke estava vivo. Eu ainda repetia isso constantemente, parte de mim não era capaz de acreditar em tal benção.

O olhei de novo. Ele parecia magoado, mas em paz, como se estivesse acostumado a lidar comigo, o que era uma verdade. Seu rosto estava calmo e seus olhos observavam com atenção o horizonte azul. Senti um nó se formando em minha garganta, minhas bochechas ardiam como se estivessem entrando em combustão.

Minha vida estava virada de cabeça para baixo. Nada mais fazia sentido, nada era como antes.

Mas, havia uma coisa que eu tinha a capacidade de ter de volta.

Havia um aspecto da minha antiga vida que eu poderia resgatar. Ele estava ao meu alcance, eu só precisava esquecer de tudo que me impedia de fazer isso. Esquecer do acampamento, de Cronos, de toda aquela loucura que havia inundado meus pensamentos e os deixado tão caóticos. Essa decisão estava em minhas mãos.

E parada ali, naquela praia, encarando esse aspecto bem na minha frente eu decidi que esqueceria de tudo, decidi dar uma segunda chance a pessoa que havia feito tanto, sacrificado tanto por mim. Eu acreditaria nele, mesmo estando com medo do que isso acarretaria. Iria dar esse tiro no escuro, em nome dos velhos tempos. Em nome da nossa amizade.

Respirei profundamente, fisgando as palavras em meu âmago e soltando-as antes que meu orgulho me impedissem de fazer tal ato.

— Eu te perdoo, Luke.

— O que? — seus olhos azuis escuros se voltaram para mim, algumas rugas surgiram entre suas sobrancelhas.

Me aproximei dele e passei meus braços envolta de sua cintura, o abraçando.

— Eu o perdoo por tudo o que me fez passar. Perdoo por ter me abandonado, por ter mentido para mim, por ter ido para o lado de Cronos. Eu te perdoo, Luke Castellan.

Senti seus braços me envolvendo e seu queixo se encaixando em minha cabeça.

— Obrigada, Meli — pela maneira como disse aquilo, eu sabia que havia um sorriso em seus lábios.

Non farmi più soffrire stupido ragazzo (não me faça mais sofrer garoto idiota)  ergui meus olhos em direção ao seu rosto — Ou eu juro que eu mesma te matarei, capito? (entendeu?)

— Capito.

Me separei de seu abraço e ajeitei a gola desarrumada de sua camisa. Conseguia sentir meu coração saltitando de alegria com aquilo.

Nos sentamos na areia e o coloquei a par de tudo, desatei a falar e chorar como uma maritaca, acho que nunca falei tanto em toda a minha vida. Mas, quando terminei, eu me sentia mais leve, sentia como as coisas estivessem um décimo mais organizadas.

— Seu aniversário está chegando — observei depois de algum tempo.

— Não quero nada, Meli — um sorriso brincalhão perpassou seu rosto iluminado.

— Eu não estou perguntando se você quer algo — cruzei meus braços — Passei os últimos dois anos chorando nessa data, nem Zeus me impedirá de comemorar da melhor forma que eu encontrar.

Ele não discutiu, sabia que não valia a pena.

Não falei que ele sabia como lidar comigo?

Meus problemas não estavam nem pertos de serem resolvidos, eu ainda precisava lidar com muitas coisas que me tiravam o sono. Mas, ao menos em um ponto da minha vida eu estaria em paz. Eu ainda tinha um porto seguro, Luke estava ali. Com isso constatei que, por mais que apenas estivesse ativamente sobrevivendo àquela loucura, ainda tinha meu melhor amigo comigo, ainda tinha em que me apoiar.

Por ora, isso me bastava.

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