Não me veja.

By SSMSantos

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Você já amou perdidamente uma pessoa sem ao menos vê-la? Amar é acreditar sem ver. É sentir, mas sem tocar. M... More

Personagens.
Apresentação.
Sinopse.
Alessandra - Capítulo 1
Teóphilo - Capítulo 2
Alessandra - Capítulo 3
Teóphilo - Capítulo 4
Alessandra - Capítulo 5
Teóphilo - Capítulo 6.
Teóphilo - Capítulo 8
Alessandra - Capítulo 9
Teóphilo - Capítulo 10
Alessandra - Capítulo 11.
Teóphilo - Capítulo 12.
Alessandra - Capítulo 13.
Teóphilo - Capítulo 14.
NÃO É CAPÍTULO.😳
Alessandra - Capítulo 15.
Teóphilo - Capítulo 16.
Alessandra - Capítulo 17.
Teóphilo - Capítulo 18
Alessandra - Capítulo 19.
Teóphilo - Capítulo 20.
Alessandra - Capítulo 21.
Teóphilo - Capítulo 22
NOTA.
Alessandra - Capítulo 23.
Teóphilo - Capítulo 24.
Alessandra - Capítulo 25.
Teóphilo - Capítulo 26
Alessandra - Capítulo 27
Teóphilo - Capítulo 28
Alessandra - Capítulo 29.
Teóphilo - Capítulo 30.
Alessandra - Capítulo 31
Teóphilo - Capítulo 32.
Alessandra - Capítulo 33
Me Ajudem!
Teóphilo - Capítulo 34.
Alessandra - Capítulo 35
Alessandra - Capítulo 36
Teóphilo - Capítulo 37.
Alessandra - Capítulo 38
Teóphilo - Capítulo 39
Alessandra - Capítulo 40
Teóphilo - Capítulo 41
Alessandra - Capítulo 42
Teóphilo - Capítulo 43
Alessandra - Capítulo 44.
Teóphilo - Capítulo 45
Alessandra - Capítulo 46
Teóphilo - Capítulo 47.
Alessandra - Capítulo 48.
Teóphilo - Capítulo 49
FELIZ ANO NOVO!
Alessandra - Capítulo 50.
Alessandra - Capítulo 51.
Teóphilo - Capítulo 52
Alessandra - Capítulo 53
NÃO É CAPÍTULO.
Alessandra - Capítulo 54
Teóphilo - Capítulo 55
Teóphilo - Capítulo 56
Teóphilo - Capítulo 57
Teóphilo/ Alessandra - Capítulo 58
Desculpas.
Alessandra/Teóphilo - Capítulo 59
Alessandra/Teóphilo - Capítulo 60.
Teóphilo - Capítulo 61
Teóphilo e Alessandra - Final.
Agradecimentos.

Alessandra - Capítulo 7.

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By SSMSantos


Inverso de 2018.

– Amor, cheguei! – Falo assim que abro e fecho a porta da sala, mas não obtenho resposta. – Amor? Desculpe, me atrasei um pouco, mamãe precisou de mim. – São quase oito da noite. Caminho até a cozinha, pego um copo no armário, abro a porta da geladeira, pego a garrafa de água e encho com o líquido gelado. Eu amo água gelada, minha mãe sempre reclamava quando meus irmãos ou eu bebia a água nesta temperatura.

Sorvete então?

Nem pensar!

Mamãe sempre foi muito cautelosa com relação a tudo, principalmente quando o assunto era resfriado, ela sempre foi de colocar as coisas na cabeça, de encucar tudo e ficava preocupada com qualquer coisa que falavam para ela. Mamãe sempre foi uma pessoa que se preocupava com todos, ela é o tipo de pessoa altruísta e eu sempre admirei isso nela. Mamãe é uma mulher que não dependia de nada e nem de ninguém para fazer nada até que um dia tudo mudou e se transformando em um verdadeiro caos.

Lembro-me do dia em que tudo virou o que é hoje.

**

Estava trabalhando na escolinha quando a diretora bateu na porta de minha sala.

– Com licença Alessandra, você poderia vir até minha sala? – Estranhei, pois isto nunca aconteceu antes, nunca fui chamada para ir à diretoria nem mesmo quando era aluna.

– Claro. – Olho para meus alunos e vejo todos concentrados fazendo suas lições. –Turminha vou na sala da diretora e já venho ? Vou pedir para a dona Jurema ficar aqui na sala um pouquinho cuidando de vocês. – Uns assentiram outros continuaram a escrever em seus cadernos cheios de orelhas.

Encontrei dona Jurema a inspetora de aluno a caminho da direção e pedi para ela ficar em meu lugar por alguns minutos. Quando cheguei na porta da sala vi meu pai sentado em uma das cadeiras, com seu olhar fixo no chão e os dedos das mãos cruzados. Estranhei sua ida até meu trabalho pois isso nunca aconteceu, na verdade eu achava que ele não sabia onde eu trabalhava devido ao seu próprio serviço, mas pelo visto me enganei.

Dei um toque na porta e dona Marília ergue seus olhos em minha direção, porém papai continuou distante.

– Pode entrar Alessandra, sente-se por favor. – Ela me pede enquanto continuo com meus olhos em meu pai.

– Pai, o que o senhor está fazendo aqui? O que ele veio fazer aqui Marília? – Ele não me responde, olho para a mulher a minha frente e vejo-a engolir em seco.

– Bom...– Ela cruza os braços em cima da mesa e solta o ar pela boca de forma ruidosa. – Alessandra, não sei como falar de outra forma, mas... – Seus lábios formam uma linha fina ao serem pressionados, ela solta mais uma vez o ar pelas narinas. – Sua mãe, ela...ela não está bem e seu pai veio te buscar para leva-la ao hospital. – Arregalo os olhos.

– Como assim hospital? – Olho para o homem ao meu lado. – Pai, o que aconteceu com a minha mãe? – Ele continua com os olhos fixos no chão. – Pai, fala comigo. Pai... – Ele ergue os olhos e vejo ali um homem quebrado, destruído. Engulo em seco, levanto-me da cadeira e me ajoelho em sua frente. – Pai...Por favor, fala pra mim que aconteceu. – Vejo lágrimas grossas caírem de seus olhos. Me lanço em seus braços e ele chora livre.

– Eu, eu... – Seu choro é forte e isso aperta meu peito ainda mais. – Eu tentei filha, eu juro que tentei, mas quando eu cheguei em casa, ela estava, estava.... – Ele volta a chorar.

– Tudo bem, vamos para o Hospital. Onde a levaram? – Pergunto me levantado do chão limpando as lágrimas de meus olhos.

– Ele disse que ela foi levada para a Santa Casa de Misericórdia daqui da cidade de . Acho bom vocês se apressarem. – Assinto e saio pegando meus pertences e levando meu pai quase que arrastado para fora da escola. Noto seus movimentos lentos e descoordenados como se tivesse bebido e isso me deixa irritada.

– O senhor bebeu não foi. – Ele nada diz. – A bebida não resolverá seus problemas senhor Jamal, pare de agir como um pobre coitado e seja pelo ou menos uma vez na vida o homem da casa. – Suspiro ao ouvi-lo fungar. Isso me deixa extremamente irritada.

Depois disso, seguimos por trinta minutos do meu trabalho até o hospital em um silêncio total dentro do veículo, algumas vezes ouvia meu pai suar o nariz. Fiquei pensando em tantas coisas, como ela está, será que morreu, o que aconteceu com ela?

Mamãe é uma mulher excepcional, uma esposa maravilhosa, uma mãe querida e amada por todos os filhos, mas mesmo sendo assim, papai sempre a deixou para trás, sempre a deixou em último plano.

Depois que viemos morar com vovó eu pensei que ele mudaria, qual não foi nossa surpresa quando um dia ele chegou em casa totalmente bêbado e sem seu carro, pois o havia perdido em uma aposta e, infelizmente tem sido assim até o dia de hoje. Nada mudou, tudo continua do mesmo jeito. Sei que ele ama minha mãe, mas nem todo o amor do mundo consegue sobreviver há anos vivendo em último plano, sem ter sua voz ouvida, seus conselhos sendo levados a sério e seus esforços não tendo o devido valor. Mamãe é uma guerreira, uma mulher como poucas que leva literalmente o casamento nas costas, esperando ver reconhecimento e um pouco de aprovação do companheiro de tantos anos que diz ama-la, mas não dá o devido valor.

Estacionei e desliguei o carro, olho para frente e fico ouvindo o fungar de papai ao meu lado. Olho para ele que está de cabeça baixa.

– Vai me contar o que aconteceu, ou vou ter que esperar mamãe melhorar para que ela me conte o que de fato aconteceu para que ela esteja internada aqui. – Seguro o volante impondo certa força. – Vamos papai, me conte logo. – Peço e ele suspira.

– Eu estava trabalhando quando cheguei em casa.... – Corto seu monólogo.

– O senhor pensa que está lidando com quem pai? – Sinto raiva borbulhando em meu sangue. – Vai me dizer a verdade ou não? – Peço e ouço seu suspiro mais uma vez.

– Eu...fui demitido. – Diz de cabeça baixa. Suspiro meneando a cabeça.

– Há quanto tempo? – Ele coça a barba por fazer e depois passa as mãos nos lábios.

– Seis meses. – Fico espantada ao ver onde sua falta de vergonha e caráter o levaram. – Fui demitido pois meu antigo chefe descobriu o que fiz. Fazia alguns meses que eu pegava dinheiro da empresa e gastava em jogos e bebidas. Eu... pegava uma quantia da empresa e transferia para minha conta, coisa pouca. Mas aí o pessoal do RH viu um desfalque e descobriram que era eu quem roubava, contaram para meu chefe e, para não me prender ele disse que eu trabalharia esses meses sem receber nenhum salário como pagamento da dívida e assim que terminasse eu poderia me retirar sem direito a nada. Fui demitido e tive que trabalhar para pagar o que roubei. – Papai continua de cabeça baixa. – Sua mãe disse que desconfiou, pois, fazia muito tempo que não coloca dinheiro dentro de casa, ela veio me questionar ainda mais, aí tivemos uma discussão, ela passou mal, chamei uma ambulância que a trouxeram para cá. – Fico olhando para o homem a minha frente e desconheço, não sei quem ele é e o que fez ao meu pai.

– É impressionante como a cada dia o senhor se mete em mais e mais confusão. – Suspiro. – Não sei por que a mamãe ainda questiona sobre o senhor colocar dinheiro dentro de casa se isso nunca acontece? – Olho para ele que sobe seu olhar e franze o cenho.

– Por que você está falando isso? Eu sempre ajudo dentro de casa, se não fosse por mim vocês morreriam de fome. – Solto um riso anasalado e meneio a cabeça.

– O senhor está de brincadeira comigo né? Desde que eu me entendo por gente senhor Jamal, o senhor nunca trouxe seu salário para dentro casa, muito menos trouxe o que comer, todo seu salário ficava do portão para a rua. Sabe quantas vezes eu ouvi a mamãe brigando com o senhor por conta disto? Inúmeras vezes pai! E sabe quantas vezes vi a mamãe chorar, inúmeras vezes. Quantas e quantas vezes a vi trabalhar, ficar até tarde da noite fazendo bolos e salgados e depois sair pelas ruas para vender, pois o senhor não fazia sua obrigação como homem e muito menos como marido e pai de família! O senhor não se importou com nada além de si mesmo pai. A mamãe trabalha feito burro de carga e você sempre a deixa de lado, sempre menospreza tudo o que ela faz. – Suspiro e abaixo meus olhos para o volante. – O senhor é um péssimo administrador, um péssimo esposo e um viciado de merda e, se o senhor não parar agora será tarde demais. – Olho para ele que está de cabeça baixa. – Espero que mamãe esteja bem e se ela tomar alguma atitude sobre vocês e pedir divórcio, fique sabendo que eu a apoiarei em tudo. – Respiro fundo. – Vamos entrar logo naquele hospital, quero ver como mamãe está. – Abro a porta e saio deixando-o para trás.

Entro, peço informação e logo sou encaminhada para uma sala de espera, sento-me e fico aguardando alguma notícia. Não vejo sinal algum de papai, isso me deixa tão...

Papai é um homem bom, mas se deixou levar por seus vícios e isto está destruindo a nossa família e principalmente seu casamento. São mais de trinta anos de união conjugal e, quinze anos que eles vivem assim entre brigas e discussões sobre esta vida que papai leva.

Uma vez, fiz uma pesquisa e vi que papai sofre de transtorno do jogo compulsivo. Por inúmeras vezes em suas brigas ouvia mamãe pedindo para papai procurar um tratamento, mas ele sempre zombava dela dizendo, que conseguiria parar com a jogatina quando bem quisesse, que era para mamãe deixa-lo se divertir e que ele não era um viciado muito menos um compulsivo em bebida alcoólica e jogos de azar.

A pessoa que sofre deste transtorno do jogo compulsivo vive uma verdadeira montanha russa, com altos e baixos, perdas significativas e os ganhos com os jogos são efêmeros. Elas podem perder mil vezes, mas se ganha uma, então ela esquece tudo o que já passou de ruim e continua apostando. Quantas vezes vi pessoas irem em casa e pegar nossa TV, nossos computadores e impressoras e até mesmo o carro de papai já se foi. O pior de tudo é ver que toda esta compulsão não está levando-o a lugar nenhum apenas a ter prejuízos e sofrimentos em todas as áreas de sua vida e o pior de tudo levando-nos junto. Espero que ele acorde a tempo antes que algo muito pior aconteça.

Coloco meus cotovelos sobre meus joelho e apoio minha cabeça em minhas mãos, fico nesta posição para tentar descansar minha cabeça que está a mil. Ainda não soube de notícias de mamãe e já se passa das doze horas. Pego meu celular e faço uma ligação.

Oi Alessandra, já está chegando? – Ouço Marcos dizer. Desde o dia do acidente com vovó nós nos aproximamos muito mais. Quase todos os dias ele aparece em casa para visitar vovó e assim fortalecemos nossa amizade e depois disso temos "ficado" como dizem por aí.

Marcos começou na empresa como um funcionário, um operário. Como vovó foi chamada para trabalhar como uma espécie de coordenadora na fabricação dos queijos com o leite cabra, ela chamou mamãe e eu para compor o quadro de funcionários do local. Na verdade, nós trabalhamos como supervisoras e, foi assim que conheci e me aproximei de Marcos eu o ajudei em tudo dentro da empresa até ele chegar na posição que está, nos tornamos amigos e agora demos um passo a mais em nossa relação.

Temos saído bastante, nos conhecido mais e vejo que ele é um cara bacana, não tem família por perto, veio de São Paulo para tentar uma vida melhor em Minas Gerais vindo direto para Carmo do Rio Claro. Seu sonho é grande e sei que com seus esforços ele conseguirá chegar aonde quer. Marcos é um preto lindo, alto, cabeça raspada, barba cerrada e sempre bem feita. Ele é um pouco acima do peso, mas seus músculos diz o contrário, enfim ele é maravilhoso. Um cara romântico, divertido, agradável, cordial, simpático e encantador.

Ainda não rolou nada mais íntimo além de beijos e algumas mãos bobas, eu tenho medo de me entregar ainda sou virgem, não quero ficar para titia, mas também não quero pegar qualquer um e viver uma vida de sofrimento.

– Oi, ainda não e também não sei se vou ao serviço. – Passo minha mão esquerda em minha testa, segurando-a. – Mamãe está internada, ainda não sei o que houve. Estava na escola quando papai apareceu por lá e disse que ela foi levada de ambulância para a Santa Casa. Agora estou aqui aguardando um médico vir para me dar alguma notícia sobre seu estado de saúde. – Ouço seu suspiro. – Sabe Marcos eu não sei, mas eu acho que mamãe não vai aguentar. – Meus olhos marejar.

Não diga uma coisa desse preta, sua mãe é uma mulher forte sei que ela sairá dessa. – Ouço barulho de folhas. – Vou tentar acelerar as coisas por aqui e passo por aí. Assim que der te mando uma mensagem te informando que já saí da empresa. – Ouço um arrastar de cadeira.

– Não precisa Marcos... – Digo

Preciso sim! Minha garota precisa de mim e eu estarei aí por ela. – Mais uma vez sinto meus olhos marejados. – Ei! – Ouço-o chamar de forma carinhosa.

– Oi, me desculpe Marcos. Eu...eu.... – Ele me corta.

Você é minha garota e eu cuido do que é meu amor. – Ele diz e solto o ar em uma risada anasalada. – Estarei aí o quanto antes. Se cuida, beijo nessa boca gostosa. – Sorrio.

– Outro. – Desligo e fico aguardando alguém me chamar para dar alguma notícia sobre o estado de mamãe. Depois de quase uma hora que estou aqui papai aparece, noto seu estado de embriagues ainda pior. Ao longe vejo um médico, levanto-me e sigo em sua direção.

Pergunto sobre mamãe e por incrível que pareça é ele quem está cuidando do caso dela. Doutor Eduardo nos conta que mamãe teve um AVC ou um derrame cerebral. Fico sem reação, enquanto o médico vai falando eu me sento na poltrona e fico olhando para o chão.

– Dona Maristela sofreu um tipo de derrame chamado AVC isquêmico que ocorre quando há um entupimento do vaso sanguíneo por acúmulo de placas de gordura nas paredes ou até mesmo por um coágulo entupir o vaso sanguíneo e impedir o fluxo de sangue. Assim que ela deu entrada fizemos uma tomografia de crânio. Iniciamos um tratamento assim que vimos o resultado dos exames com os medicamentos como tPA que é um anticoagulante que minimizará os danos cerebrais, antibioticoterapia, e por conta da confusão mental que a acometeu, demos calmante para que não ocorra mais complicações e assim, prevenir mais acidentes vasculares cerebral em dona Maristela. Ela chegou bem confusa e agitada, por isso demos um sedativo para que ela descanse um pouco. – Doutor Eduardo nos explica e nos aconselha a ir para casa descansar e vir amanhã no horário da visita. Ele se despede nos deixando naquela sala de espera fria e sem vida, papai se move sentando-se ao meu lado.

– Alessandra, filha vamos para casa. Não podemos fazer mais nada por sua mãe. Aqui ela será bem cuidada pelos médicos e enfermeiras. Amanhã voltaremos. Tenho certeza de que sua mãe estará bem. – Ele estende sua mãe e toca meu ombro. Quando sinto seus dedos em mim uma raiva me toma e isso me deixa fora de mim.

– Se não fosse pelo senhor, ela não estaria aqui, se não fosse por sua vida de vícios e jogos mamãe estaria bem e não precisaria se matar de trabalhar para fazer o seu trabalho, se não fosse pelo merda de homem que você é ela não teria sofrido UM AVC. TUDO ISTO QUE ESTÁ ACONTECENDO É SUA CULPA PAI, SUA CULPA! – Levanto-me e fico olhando para o homem que um dia pensei ser meu herói e que hoje não passa de um bêbado, um viciado. Ele apenas olha para o chão, apoia os cotovelos nos joelhos e cruza os dedos das mãos. – Eu estou indo embora e se quiser vir comigo venha logo, não tenho todo o tempo do mundo para aturar seus fingimentos de que se importa com alguma coisa. – Minha garganta aperta. – Eu estou cansada pai de ver a mãe se rastejar para pôr dentro de casa o que era para você por. A partir de hoje o senhor vai se portar como um homem, um marido e pai de família a arcar com tudo, tudo mesmo. E se isso for muito para o senhor... – Ele ergue seus olhos. – Pede para sair. – Me viro e saio da recepção indo em direção ao estacionamento. Entro dentro do carro e minutos depois papai entra e em silêncio sigo para casa.

Não trocamos uma só palavra até chegarmos em casa. Vovó me pediu notícias, expliquei tudo para ela. Vovó ama minha mãe como se ela fosse sua filha. Deixei-a chorosa em seu quarto e fui em direção ao meu, liguei para Aurora relatando tudo o que aconteceu e depois liguei para os gêmeos. Nenhum deles podem vir devido ao trabalho e faculdade, terei que mover céus e terra para que mamãe não tenha com que se preocupar e principalmente tenha uma boa recuperação. Ela precisa de paz e descanso e espero que papai tome vergonha na cara e comece a fazer as coisas do jeito certo agora.

Tomo meu banho, me seco, me troco e logo recebo uma mensagem do Marcos. Aviso que já estou em casa e quarenta minutos depois ouço a buzina de seu carro. Como estou na cozinha preparando o jantar saio e o recepciono. Recebo um abraço apertado e tão carinhoso que me faz sentir tanto carinho que desabo em seus braços. Marcos me aperta em seus braços fortes e acaricia meu cabelo com uma de suas mãos. Sinto seus lábios em meus cabelos.

– Vai ficar tudo bem minha preta, vai ficar tudo bem. – E foi assim, a partir daquele dia que eu soube que Marcos seria o homem da minha vida.

**

Hoje faz dois anos que Marcos e eu moramos juntos. Temos uma vida boa de quase casados. Continuo trabalhando na escola, somente na empresa que eu saí. Marcos disse que agora que ele está com um cargo maior ele pode muito bem nos sustenta. Na verdade, ele queria que eu largasse as aulas também e ficasse apenas em casa "cuidando de nosso lar" como ele disse. Eu não quero isso, quero continuar lecionando pois eu nasci para fazer isso e eu adoro meus pequeninos. Algumas vezes penso que Marcos me quer presa dentro de casa e quando pergunto sobre isso ele sempre diz que estou blefando e desconversa. Não quero viver à custa de ninguém. Vivenciei como mamãe sempre batalhou para termos as coisas e isso me incentivou a buscar o que eu quero.

E falando em mamãe, assim que ela teve alta e foi para casa eu a ajudei em tudo para que sua recuperação fosse a melhor possível. Foi um longo caminha até sua reabilitação para melhorar sua qualidade de vida. Depois do incidente com vovó e depois com mamãe, o dono da empresa, pediu para dona Guiomar e seu Alberto virem em minha casa novamente, ele decidiu aposentar mamãe devido ao seu quadro debilitado de saúde. Primeiro foi vovó e agora ela. A aposentadoria foi integral para ambas, mas nenhuma das duas quis deixar de trabalhar na empresa, a diferença é que hoje elas passam menos tempo no trabalho, apenas supervisionam e voltam para casa.

Por conta da agilidade do corpo médico mamãe não teve muitas sequelas a pior foi sua fala, seu lado direito de seu corpo e rosto foram afetados também. Uma equipe multidisciplinar com fisioterapeuta, neurologista, fonoaudiologia e fisiatras ajudaram a melhorar as sequelas que ela sofreu e hoje, mesmo que com pouca força ela se movimenta, faz seu tricô, seu crochê, seus doces, mas nada como antes. Mamãe usa uma bengala para se locomover, ela anda por todos os lugares algumas vezes precisa de ajuda, mas como boa teimosa que é não pede ajuda e prefere se esforçar muito mais do que receber auxílio de alguém. Fiz papai procurar um serviço, na verdade conversei com senhor Alberto e ele conseguiu uma vaga de trabalho no setor administrativo na fábrica grande da Graham Lacty. Senhor Jamal, tem cuidado de mamãe, sempre pergunto a vovó e ela me conta que meu pai mudou muito. Ainda não confio nele e em sua mudança, mas espero que seja verdadeira.

Pego minha bolsa e caminho pelo corredor da casa sentido ao nosso quanto. Começo a ouvir uma música em um volume baixo. Diminuo o ritmo de meus passos e sinto um frio na barriga. Marcos diz odiar música, sempre quando vamos sair ou mesmo quando voltamos do serviço em seu carro ele sempre deixa o rádio do carro desligado. A primeira vez que liguei o rádio, ele se alterou bastante e até brigou comigo dizendo que odiava música. Fiquei super sem graça, desliguei o rádio e fiquei na minha. Ele me pediu desculpas e de lá para cá eu evito ouvir músicas ao lado dele pois ao contrário de Marcos eu amo cantar e dançar mesmo não sendo tão boa assim. Ele diz que música é coisa de gente que não tem o que fazer e gosta de ganhar dinheiro à custa dos outros imbecis, como os fãs são chamados por ele.

Sigo o caminho e toco a maçaneta da porta do quarto e quando abro a porta me deparo com um cenário que me desmonta. Marcos está de joelhos e ao seu redor está cheio de pétalas de rosa vermelha, olho para a cama que se encontra da mesma forma. Ao redor, no chão está com velas acesa espalhadas, volto meu olhar para o homem e meu coração dispara.

– Oi minha preta, você tem feito meus dias os mais fantásticos e maravilhosos, desde quando entrou em minha vida eu tenho uma razão para lutar e querer sempre o melhor e é tudo por você e para você minha preta, por isso quero saber se você quer se casar comigo? – Meus olhos marejam e lágrimas rolam dele, sinto meu peito inflar tamanha alegria. – Preta aceita logo para eu poder desligar esse rádio por favor? – Tombo a cabeça para trás e gargalho.

– Sim, eu aceito me casar com você. – Marcos se levanta desliga o rádio e vem até mim, coloca o anel de noivado em meu dedo e me puxa para si e me beija tirando todo o meu fôlego, me deixando a sua mercê.

– Eu amo você minha preta. – Ele diz me pegando no colo e depositando meu corpo gordo em cima da cama. Marcos se afasta e começa a tirar sua camisa, sapatos, meias e sua calça ficando apenas com sua box preta. Ele é um gordinho forte e musculoso, tem uma pele macia e cheirosa. Ele se deita em cima de mim e eu como não sou boba passo minhas mãos em tudo aquilo. O homem gostoso! – Essa noite será apenas para te satisfazer minha preta e eu quero amar você. – E foi isso que ele fez, ele me amou não só aquela noite e sim todos os dias que se seguiram e eu, bom, eu me sentia feliz.

Marcos é o amor da minha vida, pelo ou menos era isso que eu imaginava.

Ele me ama demais!

Ele me ama tanto que suas carícias começaram a me machucar, ele me ama tanto que suas palavras começaram a me ferir fazendo meu coração e alma sangrar, ele me ama tanto que tudo o que acontece de ruim é apenas minha culpa, ele me ama tanto que passei a ser prisioneira em meu próprio corpo e em minha própria casa e em minha própria mente. Palavras como feia, nojenta, repugnante, lixo, ridícula, imbecil, gorda, horrorosa eram forma de tratamento, uma forma de carinho a minha pessoa.

Passei a reclamar de suas atitudes e ele sempre alegava que eu não tinha senso de humor e que eu levava tudo muito a sério. Quantas vezes em casa ou em volta de amigos, ele transformava uma situação, uma atitude ou mesmo um defeito que ele implicava que eu tinha para fazer piada. Quantas vezes ele agia como meu pai. Marcos me ensinava e corrigia minhas opiniões em público e isso impactou em minha autoestima, ao questionar meu intelecto ele me fazia sentir uma completa burra e fora o embaraço e vergonha que sentia por tamanho constrangimento. Ele silenciava meu ponto de vista por meio de gritos. Sua voz agora era ouvida por todos ao nosso redor me deixando acuada e com medo. Para que nosso diálogo não acabasse em briga eu apenas concordava com ele.

E foi assim que Marcos me amou por um longo tempo.

Nossos diálogos agora são soterrados por acusações, humilhações, ameaças e imposição de controle de sua parte. Depois que Marcos conversava comigo me mostrando que eu era mesmo a culpada de tudo, ele me pedia desculpas, e dizia que só ficava alterado porque eu o irritava. Eu havia falhado mais uma vez, então ele relevava o ocorrido e tudo voltava ao normal.

Todas as roupas que eu escolhia ele reclamava dizendo que estava aparecendo demais, depois passou a reclamar de meu aspecto físico, como meu peso, minha estatura, meu cabelo e até mesmo de minhas unhas. Diante de sua desaprovação, busco me adaptar ao gosto dele, renunciando a minha personalidade e com isso passei a sentir vergonha de mim. Perdi minha autonomia de forma gradual, me sinto fragilizada e sem identidade. Eu sou uma vítima, refém de suas vontades e estou assim faz muito tempo.

**

Inverno...

É esta estação em que vivo hoje, um frio congelante, e ele tem trazido a minha vida e ao meu relacionamento tudo o que de fato ele representa, indiferença, frigidez, indolência, sentimentos inexpressivos e insensibilidade.

Eu sei que preciso mudar, preciso me reencontrar, me achar, ver onde me perdi para que eu possa voltar a viver,para que eu possa ser quem eu era antes disso tudo acontecer.

Preciso encontrar a Alessandra de anos atrás antes que seja tarde demais, antes que ela morra neste frio congelante.



 Marcos.



Olá pessoal, tudo bem com vocês?

Não consegui postar mais cedo devido a falta de energia em meu bairro. Um transformador estourou aí, vocês já sabem né? Estou postando através do roteador de internet do meu celular para meu notebook.

Bom, espero que tenham gostado do capítulo.

Um abração apertado e tenham um excelente domingo.

Ah, e obrigada pelas leituras! A cada dia vejo mais e mais pessoas lendo não somente esta obra, as outras também e isso me deixa muito feliz.

Beijo grande e até semana que vem.

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