Após ouvir a água do chuveiro a correr, a rapariga dos cabelos curtos bebericou da sua bebida quente e decidiu levá-la consigo até à varanda, onde poderia deliberar a proposta feita à minutos, na companhia de uma vista da qual os seus olhos ainda não se haviam cansado. Charlotte ainda não havia saído à noite nenhuma vez desde que chegara e, ainda que ela não fosse propriamente o tipo de pessoa que precisa de uma discoteca para se divertir, ela também gostava disso e, genuinamente, sentia falta da emoção de conhecer pessoas novas, locais novos e sair da sua zona de conforto.

Ao ouvir a porta da casa de banho a abrir, entra na sala para informar a sua decisão final. Porém, os seus olhos percorrem o tronco nu e definido de Thomás, o qual ela não esperava encontrar daquele modo. As pingas do seu cabelo molhado pousavam nos seus ombros e percorriam lentamente. O seu rosto cora-se ao aperceber-se que ele podia ter notado o seu descaramento, enquanto os seus pensamentos ansiosos sobre as suas ações enchiam a sua mente. Ela apressa-se a falar, atrasando, com isto, a chegada do rapaz ao quarto.

- Talvez vá.

Thomás olhou-a com um ar confuso, ainda que, claramente, entendendo o que ela queria dizer. Ele apenas queria que ela se explicasse, pois, queria entender o que a tinha feito mudar de ideias em quinze minutos visto que, dado o pouco tempo, não tinha sido por ter adiantado trabalho.

- Mais logo, sair convosco...

- Eu percebi, mas porque mudaste de decisão?

- Eu tenho passado os dias a pensar em trabalho e sinto que ainda não aproveitei a cidade. Acho que mereço uma pausa disto e procurar viver mais esta oportunidade de estar noutra cidade, noutro pais...

- Eu concordo. Fico feliz que tenhas mudado de ideias.

Charlotte olhou o rapaz dos cabelos negros nos olhos e sorriu, genuinamente feliz com a boa vontade do seu colega de casa. Thomás sorriu de volta e, após chamar Lucifer com um assobio, dirige-se, na companhia do seu animal demoníaco, para o seu quarto. Enquanto isso, Charlotte apenas aproveita o momento para acabar a sua bebida quente, mentalizando-se da tarde de trabalho exaustivo que ainda tinha pela frente.

-

- Estou pronta.

Thomás olhou para Charlotte, estupefacto com a sua aparência. Deslumbrado com o seu vestido de cetim, avermelhado e justo, tentou não a admirar por muito tempo pois não queria dar a entender algo que não correspondia à realidade, mas, no mínimo, ela merecia ouvir um elogio.

- Estás muito bonita.

As suas palavras ainda demoraram algum tempo a serem pronunciadas ainda que se repetissem por inúmeras vezes nos seus pensamentos. Ele começava a questionar-se se seria normal toda a sua admiração perante a rapariga que vivia no quarto ao lado, mas acabou por afirmar para si mesmo que sim. Thomás, apesar de toda a simpatia e educação, não tinha grandes ideias de relacionamentos. Apenas namorara uma vez e, ainda que essa relação tivesse durado pouco mais de um ano, fora o suficiente para ele não pensar em algo sério tão cedo. Ele apenas queria coisas casuais, sem compromisso.

Assim que estacionaram, Charlotte logo sentiu o ar frio da noite parisiense, que nem com o casaco de cabedal era possível ignorar. Thomás, seguia na frente, encaminhando o caminho à rapariga dos cabelos curtos que, com as suas mãos magras e decoradas de anéis, criavam fricção nos seus braços para os aquecer.

O bar era bastante escuro, porém tinha um aspeto confortável, apesar do barulho de fundo estar demasiado elevado. Os amigos de Thomás já ali se encontravam sentados numa mesa pequena com alguns copos de cerveja espalhados pela mesma. Ainda antes de se sentarem, Thomás apresenta a sua colega de casa aos seus amigos que, mal sentiram a sua presença, a encararam.

O Desassossego da AlmaWhere stories live. Discover now