005 - O dia seguinte

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Quando o som do despertador de Charlotte soou, instantaneamente foi adiou. Ainda meia adormecida, os seus reflexos foram rápidos o suficiente para apagar aquele barulho e voltar a dormir. Naquele breve intervalo de tempo, e devido ao seu cansaço extremo, inconscientemente, achou que já era sábado e que não havia problema em dormir mais um pouco. Mas o bater constante na sua porta, alguns minutos depois, fê-la despertar, por fim, confusa.

- Charlotte, não vais trabalhar hoje?

Um pico de ansiedade percorreu o todo seu corpo e logo se apressou em olhar para o seu ecrã, para confirmar o dia da semana. Sexta-feira. Toda aquela luminosidade fez com os seus olhos instantaneamente se semicerrassem, revelando o peso da sua fadiga, e a sua cabeça estremeceu com os breves movimentos, fazendo-a logo recordar as memórias tremidas e melindrosas da noite anterior.

- Charlotte? – Thomás insistiu novamente, batendo uma vez mais com os nós dos seus dedos na porta e com uma voz bastante rouca e cansada.

- Sim! Eu adormeci!

Thomás sorriu, do outro lado da divisão, e decidiu dar-lhe espaço, agora mais sossegado por a ter acordado. Por outro lado, Charlotte, estava desesperada e sentia-se numa luta interna entre ignorar o seu estado deplorável e acalmar-se para se conseguir despachar a tempo do seu trabalho. Procurava fazer o máximo de coisas possíveis, no mínimo tempo possível, mas na sua cabeça só via um motivo para, logo na sua primeira semana de trabalhar revelar uma falta de profissionalismo. O problema estava na deslocação pois ainda tinha um longo caminho de viagem até ao metro e deste até ao atelier. Colocou, portanto, o conjunto de roupa mais rápido que os seus olhos viram no seu armário, um simples vestido bege, e apressou-se em passar um corretor de olheiras, pois não queria nada aparecer no trabalho com um aspeto tão esgotado.

Quando saiu do quarto reparou que o estado do seu colega de casa também não era o melhor, algo que a fez sorriu, por compartilharem o mesmo sentimento. Thomás comia a sua torrada e meia de leite, sossegadamente, analisando os passos apressados e desajeitados da rapariga britânica. Os seus cabelos ainda estavam todos desajeitados e o seu vestido não estava propriamente ajustado ao corpo, revelando a sua falta de atenção matinal. Por momentos pensou em chamar a atenção, mas, com medo de ser mal interpretado, decidiu simplesmente guardar a sua observação para si.

- Obrigada por me acordares! Se não me tivesses batido à porta eu ia ficar a dormir porque devo ter adiado o despertador... - Charlotte fez uma breve pausa para respirar e enquanto procurava pela sua bebida de amêndoa no frigorifico. – É que ele já devia ter tocado e eu nem me lembro disso, sequer!

- Se a noite de ontem não tivesse sido tão catastrófica, eu provavelmente não teria notado se ainda cá estavas, mas acabei por confirmar quando vi que tinhas as chaves no móvel da entrada.

- Obrigada! A sério!

Charlotte sorriu timidamente, verdadeiramente sentida com a sua preocupação, e evitou olhá-lo, focando apenas em verter a bebida para a chávena, sem fazer asneiras. Já havia feito asneira que chegue!

- Vá, agora despacha-te a comer! Eu levo-te ao trabalho para não te atrasares.

- Oh, não é preciso, Thomás. Eu vou só beber isto e levo umas bolachas para o caminho, eu consigo!

Charlotte não queria incomodar e fazê-lo atravessar a cidade só para a deixar no trabalho. Além disso, ainda estava envergonhada com a sua queda e com a confusão que causara devido a isso e, naquele momento, ela só queria passar o mais despercebida possível.

- Se estamos assim é por minha culpa, por isso, eu insisto.

Charlotte sorriu, olhando-o nos olhos pela primeira vez esta manhã, ainda que o contacto não tenha durado muito tempo. Ele parecia-lhe muito bem-disposto, apesar do aspeto, e, em certa parte, ela estranhou. Sentia constantemente ser um incómodo e questionava-se como é que ele conseguia ser tão atencioso com ela.

O Desassossego da AlmaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora