009 - Apatia

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A ausência do seu companheiro de casa fez-se sentir até ao dia seguinte. A porta do seu quarto, que se encontrava em frente ao de Charlotte, ainda estava fechada e sem qualquer luz visível na frecha do chão. Confusa pela situação, sem saber se devia bater à porta para questionar se estava tudo bem, decidiu ir preparando o seu pequeno-almoço, considerando que ele apenas se estaria a deixar dormir por um pouco mais tempo que o costume. Talvez tenha tirado férias...

Charlotte sabia que ele estava em casa pois as suas chaves continuavam no chaveiro, contudo não conseguia confirmar de que ele estivesse naquele quarto sozinho. Assim que termina a sua torrada, decide pegar na sua chávena de chá e levá-lo para a varanda. As pessoas na rua andavam de uma forma rápida, agitada, e o dia ainda mal tinha começado. Charlotte preferia, por esse motivo, olhar em frente, ver o esplendor que tinha perante ela, mas, inevitavelmente, o seu olhar espreita por cima do seu ombro, mirando a porta do francês, que ainda não havia dado sinais de vida. Um suspiro sai entre os seus lábios assim que termina a sua bebida quente e acaba por decidir que seria melhor certificar-se de que estava tudo bem. Às tantas, ele só adormeceu...

Hesitante, leva os nós dos seus dedos em direção à porta, de um modo não muito forte, também para não o sobressaltar, caso ainda esteja a dormir. A sua voz pronuncia-se, ainda que pouco segura de si mesma.

- Thomás? Já é tarde, adormeceste?

- Eu hoje não vou trabalhar. – Soou, num tom bastante distante e baixo.

Charlotte assentiu com a cabeça, não deixando passar ao lado uma certa distancia e frieza na voz do seu colega de quarto, e, ainda que a preocupação tomasse parte de si, acabou por sair de casa. Ela hoje iria ter um dia em cheio e não poderia chegar atrasada.


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Charlotte não se conseguia concentrar naquela manhã e, naquele dia particular, as horas pareciam teimar em não querer passar visto que ela sentia que já se encontrava ali sentada há horas e ainda nem era altura da pausa habitual do meio da manhã. Tudo parecia extremamente calmo e sossegado até Charlotte levantar o seu olhar e ver a rapariga loira, aproximar-se da sua mesa num passo apressado. Primeiramente, Charlotte achou que alguma coisa de urgente no trabalho havia acontecido, mas quando viu Manon a apontar para o telemóvel, numa ansia tal, logo colocou de lado tal hipótese.

- Charlotte, preciso mesmo de falar contigo!

- Olá para ti também! – exclamou para Manon que parecia ofegante com a sua pequena corrida até à sua secretária.

- Bom dia, jolie. – E sem grande rodeio, Manon passou logo ao motivo que a levava ali, àquelas horas. - Ontem escreveste o último nome do Thomás corretamente?

A britânica estranhou a questão, encolhendo com os ombros enquanto pensava seriamente se teria ou não escrito bem. A verdade é que ela nunca havia prestado atenção a isso, uma vez que nunca havia sido preciso para nada da sua vida prática e, a prova disso consistia no facto de ela já nem sequer se lembrar de como lhe havia escrito ontem. Na altura não considerou isso muito importante, mas a verdade é que agora não conseguia entender o motivo de tanta urgência e aflição.

- Não sei, porquê?

- É possível que seja escrito assim?

Manon revela então o nome "Moreau", escrito no bloco de notas do seu telemóvel. Charlotte não conseguia compreender aquela atitude tão em êxtase perante o último nome do seu colega de casa, mas, tendo em conta a recente obsessão de Manon, considerou, tal como no dia anterior, que seria tudo "normal".

- É capaz, acho que sim. Mas porque é que estás tão obcecada com o último nome dele?

- Achas que ele pode estar ligado àquele caso das notícias?

O Desassossego da AlmaWhere stories live. Discover now