017- Noite

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Os olhos de Charlotte logo compreenderam o estado caótico da sua sala de estar, assim que saíra do quarto. Thomás, por sua vez, parecia nem ligar, aproveitando a vista do seu apartamento, debruçado sem preocupações sobre a guarda da varanda. Charlotte aproveitou o facto de Thomás ter o seu tabaco de enrolar sobre a mesa para fazer um para si mesma e dirigira-se até ele para lhe fazer companhia. As suas mãos frias tocaram nas suas costas, por baixo da sua camisa e o seu corpo sobressaltou-se com o contacto.

- Assustaste-me, Char!

Charlotte sorriu e tentou pegar no isqueiro que ele segurava na sua mão esquerda, mas este, da forma como é, acabou por levar na brincadeira e prendê-lo com mais força, de modo provocador, analisando com atenção a reação da morena.

- Já acabaste o trabalho que estavas a fazer? – Thomas inquere, parando com a brincadeira e levando a chama do isqueiro em direção ao cigarro da rapariga. Charlotte assentiu com a cabeça, expelindo o fumo por entre os seus lábios carnudos e rosados. – Estava a pensar em ver agora um filme, queres ver comigo?

- Que estilo de filme é? Não gosto de filmes de terror. – Ela admitiu prontamente, encolhendo os ombros.

- Tens medo, é isso? – Thomás disse com um pequeno sorriso brincalhão, dando-lhe um pequeno encontrão. Charlotte apenas negou com a cabeça, enquanto levava o cigarro novamente até si.

- Então? – ele insistiu.

- Não tenho medo. Honestamente, a maior parte não me assusta de todo, por isso acho-os um pouco desinteressante. – Charlotte confessou, com um pequeno sorriso esboçado. - Mas estraguei-te os planos? Era de terror?

Thomás riu-se e colocou a sua mão sobre a sua cabeça, de um modo carinhoso.

- Não, mas para a próxima já sei o que escolher.

Enquanto ela acabava de fumar, o francês apressou-se a tratar das coisas para ambos verem o filme confortavelmente. O computador foi pousado numa mesa improvisada – a cadeira do seu quarto – pois era a única forma de conseguirem ver o ecrã de um modo aceitável. Além disso, ele lembrara-se também de trazer uma das suas mantas, visto que as noites já começavam a arrefecer e a sala era o lado mais frio da casa, devido à sua grande dimensão. Charlotte colocou-se à vontade, deitando a sua cabeça no encosto do sofá, tocando timidamente com os seus pés nas pernas de Thomás.

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Thomás acordou devido às dores, numa tentativa de se colocar numa posição melhor, mas, devido às dimensões reduzidas do sofá e, acrescendo que a sua colega de casa estava a ocupar dois terços deste, acabara por não encontrar uma posição suficientemente confortável para continuar ali. A sala estava completamente escura e o computador, depois de tanto tempo, acabou por entrar em hibernação. Thomás procurou pelo seu telemóvel no sofá, com a intenção de ligar a lanterna para conseguir ver e, ao mesmo tempo, não acordar Charlotte que, pela sua respiração profunda, também acabara por adormecer.

Pouco passava das duas da manhã, fazendo-o compreender o motivo de a rua estar tão sossegada. A luz fora apontada para o sofá onde refletiu a imagem da rapariga que dormia encolhida, agarrada à manta que anteriormente o rapaz havia deitado sobre o seu corpo. Thomás pensou em deitá-la melhor no sofá, mas, sabendo o quão desconfortável aquele sofá era, por todas as vezes que acidentalmente adormeceu ali, acabou por pegar delicadamente no corpo da rapariga e levá-lo até à sua cama, uma vez que assim ela poderia dormir muito mais à vontade. As mãos quentes de Thomás seguram fortemente as suas pernas e o seu tronco, de modo a transmitir-lhe estabilidade, porém, o seu batimento acelera abruptamente quando a cabeça de Charlotte se encosta sobre o seu ombro.

O Desassossego da AlmaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora