007 - Olhares

35 12 16
                                    

A noite, apesar de fria, não deixava gelar os corpos daqueles jovens que caminhavam pelos trilhos da cidade da luz, iluminados apenas por simples candeeiros de rua, até à discoteca que Oliver havia sugerido momentos mais cedo. Charlotte sorria, descontraída com a situação, agora muito mais à vontade com aquelas pessoas. O álcool havia desembrenhado os seus pensamentos e, ainda que com alguns erros (dos quais ela nem se apercebera), falava sem parar, confiante e verdadeiramente entusiasmada. Não tinha dúvidas de que havia tomado a decisão certa quando afirmara que queria sair.

Charlotte caminhava ao lado de Thomás e sentia-se tão livre que não havia palavras que ela pudesse usar para descrever a sensação. Ela nunca havia tido grandes amigos, algo que quando era mais nova lhe custava muito pois apercebia-se que as pessoas, por muito que ela desejasse, nunca permaneciam durante muito tempo na sua vida. Atualmente, ela já se havia habituado a esse desapego, ao facto de ela ser a única coisa que precisa na sua vida para ser feliz, mas a companhia daquelas pessoas, que até há umas horas lhe eram completamente estranhas, faziam-na preencher um vazio que nem ela sabia que existia. 

Thomás, também ele, se encontrava divertido com a ocasião, esperando que a sua colega de casa estivesse bem. Ele recordava-se do dia em que a vira a chorar na varanda e do quão mal se sentiu quando ela expôs o quão sozinha e perdida se sentia. Agora ela sorria, olhando distraia para o céu, possivelmente à procura de estrelas que nunca apareciam devido a toda a luz existente em seu redor.

Uma vez que chegaram ao bar, dirigiram-se ao bengaleiro, para guardar os casacos e, enquanto os amigos de Thomás se dirigiram para o bar, a rapariga puxou o rapaz consigo para o centro do mesmo, com o intuito de se divertir mais com ele. A música "Sugar" passava numa altura absurda e Charlotte, num transe completo, balançava o seu corpo em frente a Thomás, verdadeiramente feliz com o momento presente que se encontrava a viver.

- Estou a ver que te estás a divertir. – Thomás constatou, após analisar a rapariga. Os seus cabelos curtos e negros balançavam com os seus movimentos alegres e acelerados, sem nunca se desfazer do sorriso.

- Muito! Obrigada por me teres convidado!

E num impulso, os braços magros da rapariga britânica envolvem o corpo de Thomás que, por momentos, ficara sem reação. O seu perfume, ainda bastante marcante no seu corpo, fizeram os seus braços envolver a sua cintura delgada, procurando, inconscientemente, prolongar o afeto. 

Charlotte sentiu o seu corpo estremecer com o contacto, só então processando o que fizera acontecer. As suas mãos, envolta da nuca de Thomás, subiam agora para o seu cabelo e permaneceram ali até o seu rosto se afastar morosamente do seu peito. A rapariga olhou-o nos olhos e engoliu em seco, não sabendo se havia feito o correto.

- Eu acredito que deva ser difícil estares aqui sozinha... 

Charlotte olhou-o séria nos olhos, sem conseguir pronunciar nenhuma palavra.

- Eu vou estar aqui para o que precisares.

Thomás encarou-a depois de lhe ter pronunciado essas palavras ao seu ouvido, para que ela pudesse compreendesse e soubesse que ele estava a falar a sério. A sua voz, grave e desgastada dos cigarros, fizeram os olhos de Charlotte fechar e um suspiro saiu por entre os seus lábios. Os seus pensamentos atribulados e destorcidos do álcool fizeram-na pensar em coisas inapropriadas, principalmente para a ocasião. A sua língua passou nos seus lábios secos, mas não tinha saliva para os conseguir molhar. A sua pulsação acelerara com o contacto dos lábios do rapaz na sua orelha e engolira em seco, procurando não dar continuidade a tais pensamentos devassos e impudentes.

- Claro. Obrigada! – Ambos se ficaram a olhar e, logo procurou uma desculpa para se afastar. – Acho que devíamos ir beber algo para festejar. 

O Desassossego da AlmaWhere stories live. Discover now