004 - Experiências

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O prazo da entrega tinha chegado e Charlotte não podia estar mais orgulhosa do seu trabalho. Apesar de ter recebido algumas críticas, isso não a deitou abaixo pois estava demasiado entusiasmada com toda a dedicação e empenho que tivera em apenas dois dias. As suas pausas foram feitas sempre com a ótima companhia dos seus colegas e ela sentia-se mesmo feliz por ter encontrado pessoas tão acolhedoras e simpáticas.

Agora que estava, finalmente, livre de responsabilidades, visto que não lhe haviam dado mais nenhum trabalho com um prazo de entrega tão reduzido, a rapariga planeou uma tarde de compras, porém, só Manon se mostrou disponível.

As duas raparigas passaram primeiro em casa da estrangeira para que ela pudesse trocar os sapatos, pois, caso não o fizesse, não iria ser possível aguentar o resto do dia, e, aproveitaram a ocasionalidade para lancharem por lá. Manon parecia muito simpática e Charlotte sentia que as coisas na sua vida estavam a melhorar aos poucos.

O barulho das chaves a entrarem na fechadura faz-se ouvir, alguns minutos após se sentarem a lanchar, e o olhar das duas raparigas dirige-se para a mesma, que se abre ligeiramente. Thomás olha para Charlotte com um pequeno sorriso e, logo depois, olha para a rapariga desconhecida, sentada em frente da sua colega de casa.

- Boa tarde! – cumprimentou, formalmente, enquanto pousava as chaves no móvel junto da entrada.

- Boa tarde. – ambas as raparigas disseram com um pequeno sorriso expressado nos seus rostos.

Thomas dirige-se para o seu quarto e o gato, que se escondia num canto da sala, simplesmente a ignorar a outra dona da casa, logo o segue, claramente feliz por o ver.

- Charlotte!! – Manon exclamou, boquiaberta, enquanto batia com a mão na mesa.

- Hm? – Charlotte não entendeu o que se tinha passado. Olhava para a rapariga loira com um ar de desconfiado, procurando entender o que lhe havia escapado.

- Não me tinhas dito que o teu colega de casa era assim tão giro!

Charlotte arregalou os olhos e assentiu com a cabeça. A expressão espantada de Manon fez a britânica rir-se, porém não ligou muito ao seu comentário.

- É muito giro, sim!

- Tem namorada?

- Honestamente, nem sei. – Charlotte afirmou, com uma certa indiferença, enquanto dava uma trinca na sua torrada. - Nós nunca falámos desse assunto.

- Como assim tu tens um rapaz tão lindo a viver no quarto ao lado do teu e ainda não lhe perguntaste se tinha namorada?

- Manon! Fala baixo! – disse Charlotte, esperando que o seu colega de casa não conseguisse ouvir o que estava a ser comentado – Porque não estou interessada! Eu não tenho interesse nenhum em namorar e, mesmo que não fosse para isso, acho que, definitivamente, não iria ser com a pessoa com quem tenho de conviver, pelo menos, durante um ano.

- E vais deixar aquilo ser desperdiçado?

- De certeza que, com o aspeto dele, não está a ser desperdiçado, – riu-se – mas já pensaste no quão estranho seria? Envolver-me com ele e depois termos de fingir que nada aconteceu. Nem consigo imaginar!

- Podia ser que desse em algo.

- Manon, não. Eu não quero que dê em nada, mesmo! E também não é como se eu estivesse desesperada! Mais vale não complicar. – Charlotte estava-se a sentir um pouco desconfortável com a insistência no assunto, procurando, por isso, desviar a atenção da conversa. - Mas já vi que tu ficaste interessada...

- Ai, se fiquei...

Manon olhou para a porta fechada do quarto de Thomas e, de seguida, para Charlotte com um pequeno sorriso esboçado. Charlotte apenas se riu. Nem nunca lhe havia passado pela cabeça algo do género e, apesar de conseguir reconhecer a beleza e o charme de Thomás, ficava arrepiada só de pensar no quão estranho seria passar por essa situação. Ai, não, há demasiados peixes no mar.

O Desassossego da AlmaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora