015- Relações

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Os cabelos da britânica esvoaçavam com a brisa fresca de Paris, enquanto os seus pés finalmente relaxavam um pouco depois de tanto caminhar. Louis estava sentado ao seu lado, saboreando o seu gelado de limão, algo que a rapariga chegou a provar, ainda que não se tenha arrependido da sua escolha, caramelo salgado, sendo esse um dos seus sabores favoritos. Apesar de os dias mais curtos e frios já se começarem a notar, naquele dia ainda havia um calor de verão que aquecia os seus corpos, sentados naquele imenso jardim, perfeitamente arranjado. Louis pedira a Charlotte para sair devido a uns problemas amorosos, na esperança desta lhe dar bons conselhos, mas, a verdade, é que acabou um pouco desiludido percebendo que ela não entendia muito do assunto. Contudo, não podia deixar de notar o seu esforço, sentindo que ela genuinamente só o queria ver bem e feliz.

- Parece que as relações já não são o que eram, entendes?

Charlotte ouvia-o com atenção, mas de todo que não entendia. Louis falava de como antigamente as pessoas namoravam, procuram uma solução para que tudo funcionasse e culpava a sua geração de ter pouca paciência para as relações. Porém, as visões de relações antigas eram algo obrigadas pelos pais, um pouco arranjadas e cheias de conformidades, por isso, a sua visão não era igual à do seu amigo. Contudo, também não queria entrar nesse assunto muito a fundo, pois já tinha notado o quão desanimado ele estava.

- Agora as pessoas já não têm o medo de expor a sua sexualidade, ele pelo menos não tem, eu sei disso. Mas fico mesmo magoado porque depois de tanta conversa, parece que nunca quer assumir nada sério, parece que se contenta com isto... e eu não. Tenho vinte e sete anos, gostava de começar a minha vida com alguém, ter algo mais sério.

- Já tentaste falar com ele sobre isso? – Charlotte inquiriu, realmente sem saber como puder ajudar mais.

- Já tentei começar a conversa, mas ele sempre que nota que eu quero falar sobre isso ou muda o assunto, ou simplesmente brinca com a situação. Ele parece que não leva a vida a sério.

Louis suspirou, olhando para o seu gelado, que já começava a derreter pelo cone. Charlotte ficava triste por ver o seu amigo daquela forma, mas ela estava a tentar o seu melhor para ser positiva relativamente a um assunto que nunca sequer chegou a ser ponderado na sua cabeça.

- Posso fazer-te uma questão mais pessoal?

- Claro! – ela exclamou, completamente à vontade perante o amigo.

- Tu não queres namorar, pois não? – Charlotte arregalou um pouco os olhos, surpreendida com a questão. Porém, não o levara a mal. – Eu nem estou a dizer só agora, estou a dizer para o resto da tua vida.

- Não. – ela admitiu, de uma forma muito confiante.

- Mas há algum motivo? - Charlotte pensou um pouco a fundo, mas não sabia ao certo como se exprimir e, vendo o desconforto no olhar da rapariga, Louis procurou explicar um pouco melhor o motivo da sua questão. – Eu não quero passar a minha inteira sozinho, tenho medo de crescer e ver que cheguei a uma casa vazia, sem ninguém para compartilhar o meu dia. Eu não estou a julgar-te, jolie, eu só queria verdadeiramente compreender-te.

Charlotte encolheu os ombros.

- Acho que nunca tive esse medo. Eu sempre passei grande parte da minha vida sozinha, então, cresci habituada à solidão. Eu sinto que não preciso de ninguém para me sentir bem, eu não me quero dar ao luxo de me entregar a alguém e ver esse amor desaparecer aos poucos.

Fora a primeira vez que ela admitira tal fraqueza sua em voz alta, mas era verdade, ela receava apaixonar-se pois apenas iria sofrer, uma vez que nunca seria capaz de se abrir e de compartilhar os seus sentimentos.

O Desassossego da AlmaWhere stories live. Discover now