Epílogo - Uma Vida para um Despertar

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Rei Owen estava com seu guarda pessoal descendo as escadas escuras que levam ao subterrâneo do castelo, o único lugar no Castelo de Reagan que ele não gostava de ir. Seus olhos correram pelas paredes de pedra, percebeu que elas iam ficando mais escuras conforme se aproximavam do final. A tocha que segurava queimava como Sol.

Quando chegaram ao final, viram que uma água parada cheia de musgo ia até seus tornozelos. O guarda ao lado do Rei quase vomitou tudo que tinha comido ao perceber sentir o cheiro da água pobre. Ela estava grudenta e cheia de musgo escuro. A porta de ferro a frente da escadeira era seu alvo.

Depois de receber aquela carta de Maika Koupry dizendo o que tinha acontecido com Gabriel, não poderia deixar seu filho adotivo se afundar, precisava de uma solução. E ela estava atrás da porta.

Quando o guarda pegou a chave e a girou na fechadura, algo parecia ter acordado dentro do túnel profundo. Magia. Antes que pudessem colocar o pé para dentro da sala, um bando de ratos saiu correndo pela porta, subindo as escadarias.

― Quanto tempo que não é aberto? ― perguntou o guarda.

― 20 anos ― disse o Rei secamente ao iluminar o recinto a tocha. ― Você lembra do Ataque ao Quatro Reinos?

― Eu tinha 10 anos ― respondeu o guarda. ― Meu pai lutou para proteger o castelo, mas morreu.

― Sim, me recordo ― falou Rei. ― Já fazia dois anos desde a morte de meu pai. Meu irmão já estava desparecido pelo mesmo tempo, então eu já tinha perdido as esperanças. Por isso, decidi criar o Tratado, para que as injustiças não existissem mais. Até o dia que a Bruxas de Heda queriam que a dívida fosse paga com sangue. Por sorte, tínhamos os Quinque Sanguinis ao nosso lado.

― Aquele grupo que protegeu os Seres dos ataques de humanos por mais de cem anos?

― Os próprios ― confirmou o Rei enquanto andava pelo chão lamacento. ― Não eram mais os mesmos de cem anos atrás, mas eram o que tínhamos na época. O ciclo do poder que os conecta precisa ser renovado a cada 25 anos. Immortales, Fur, Fey, Angelus e Specktrum, os Quinque Sanguinis. Eles eram fortes os bastante para ajudar as bruxas a ter uma pouco de juízo e seguirem com o Tratado.

"Por uma coincidência do destino, na noite que o Tratado seria assinado, Kaime Mrak tinha me feito de refém, e revelou o plano das bruxas bem ali no saguão de castelo. O pandemônio se espalhou. Um dos Quinque Sanguinis foi gravemente ferido, assim os outros sentiram, e a magia que os ligava reagiu e explodiu o local.

― Podemos dizer que foi uma grande vitória ― expôs o guarda.

― Não para todos ― corrigiu o Rei. ― O poder que os ligava tem relação angelical, então, como todos os anjos quando ficam fracos se tornam bebês, eles também se tornaram, literalmente. Immortales foi único que não, pois seu corpo já estava morto.

― Ele era um vampiro ― completou o guarda.

― A magia bloqueou, mas ele sentiu a dor de cada deles ― explicou Rei Owen ao chegarem do outro lado do recinto. A chama da tocha mostrou uma parede cheia de símbolos de pedra. ― E depois tivemos algumas complicações com os outros Quinque Sanguinis. Fur e Specktrum.

― Eles não conseguiram voltar, não foi?

― Como eram humanos, ficaram na forma de bebês.

Owen parou de falar um momento e começou a tocar símbolos em uma sequência. Todos que ele tocava brilhavam em um verde bem forte. Depois de tocar em treze símbolos, a parede se desfez em questão de segundos. O resto da sala foi revelado, uma mesa de pedra no meio de um ambiente escuro. Naquela mesa um corpo acorrentado permanecia.

― E o que aconteceu com eles? ― perguntou o guarda.

― Bem, como eram humanos, tinham que crescer no tempo dos humanos ― respondeu o Rei. ― Mas também, teriam os poderes do Quinque Sanguinis. Não poderiam passar a ligação para outro grupo, pois o feitiço só pode ser desfeito depois de 25 anos. O poder estaria preso, mas ainda estaria ali.

O guarda olhou para corpo na mesa conforme se aproximavam, o Rei Owen acendia as tochas envolta do corpo na mesa de pedra. O corpo era de um homem, com certeza, seu corpo era pele e osso, como se tivessem sugado toda a vida dele. O guarda ficou feliz por ver que as partes intimas estavam cobertas por um pano. Os cabelos estavam brancos e bem ralos, os olhos estavam fundos e a boca aberta em um pequeno círculo.

― Quem é esse?

― Depois que Immortales viu que seus amigos não iriam retornar ― explicou o Rei ―, ele pediu para ficar aqui esperando até o dia que seus amigos estivessem prontos.

Sem o guarda perceber o Rei Owen puxou adaga do cinto, passando-a pelo pescoço do homem que só estava ali para proteger. Sangue vermelho escorria pelo pescoço do homem que agonizava tentando tampar o buraco.

― E eles estão ― disse o Rei na mesma hora que pegou o guarda pelo pescoço, colocando a ferida na boca do corpo.

Conforme o sangue escorria pela boca do vampiro, a pele foi ganhando mais carne e cor. Os cabelos ficaram mais vivos em um castanho claro, e os dentes cresceram, se tornando presas no pescoço do guarda. Os gritos do guarda eram altos o suficiente para todo um país ouvir, mas gradativamente foi acabando, assim como sua vida.

Depois que o corpo do guarda não tinha mais nada de sangue para dar, seu corpo estava como um tronco de árvore velha.

O vampiro abriu os olhos.

Por fim, o Rei disse:

― Seja bem-vindo de volta, Morgan Kylos. 

FIM DO PRIMEIRO LIVRO

Místicos - As Crônicas De Myustic - Livro 1Where stories live. Discover now