Capítulo 7 - Na Metrópole

43 3 12
                                    

A sala do Rei Owen era consideravelmente espaçosa para um escritório. As tapeçarias retratando a história do continente eram o que mais chamavam atenção nas paredes. Delfim nunca tinha entrado naquela parte do castelo, sempre fora até o saguão, mas sempre em situações diplomáticas.

Não que essa fosse uma situação diplomática, mas estar ali era estranho.

Delfim estava ali, pois depois de sair da reunião com as Bruxas, foi chamada pela líder de seu clã, Honda, para receber uma carta do Rei Owen pedindo seu comparecimento em seu escritório no Castelo de Reagan, na Metrópole. Delfim foi na mesma hora, não pestanejou. Quando um Rei requeria a presença de uma bruxa de forma sigilosa, era para esperar o pior.

O Rei estava em sua mesa lendo um grande livro de capa marrom, seus olhos castanhos iam de um lado para o outro, que nem percebam quando Delfim entrou no recinto. Ela se lembrava da vida daquele homem, de como tinha mudado nesses vinte anos, das coisas que ele perdeu, a família que tinha. Diziam que o que mais sente falta é o irmão mais velho.

― Vossa Majestade ― Delfim parou no meio da sala fazendo uma leve reverência. ― Recebi sua mensagem.

― Pode se sentar ― disse o Rei sem tirar os olhos do livro, mas moveu as mãos em direção a uma das cadeiras.

Delfim assim fez o que ele pediu.

― O que deseja? ― Ela disse cordialmente.

O Rei fechou o livro e o colocou sobre a mesa, arrumou seu colete na cor azul e olhou bem nos olhos da bruxa. Seus olhos eram rígidos, mas traziam um cansaço.

― Ouvi falar muito de você ― a voz dele era forte, trazia um pouco de autoridade. ― Delfim Clair, a bruxa exemplar de Heda. Ouvi falar muito sobre seu conhecimento mágico, tudo que você conhece, os mundos. ― Owen pegou uma folha de papel, ali havia um símbolo, era um triângulo sobre o outro.

Delfim gelou ali mesmo. Como ele sabe?

― Creio que você conheça bem a magia desse mundo, certo? ― O sorriso se formou em seus lábios.

― Acho que conheço, Vossa Alteza ― Delfim sorriu bem falsamente. ― De qual informação precisa?

― Me conte como a magia funciona ― ordenou o Rei. ― A magia em geral.

Delfim parou por um momento para coletar todas as informações que tinha em sua direção. E depois pensou: por que ele quer saber?

― A magia em si, em seu estado puro, é energia. Como a Luz e a Escuridão. ― Delfim começou a explicar. ― Quando a primeira forma de vida foi criada, ela veio da magia. A magia é tudo que conhecemos, a vida e a morte; o bem e o mal. Esse mundo foi feito através dela e todos os outros que fazem parte da grande teia de mundos. ― Linhas de Luz. ― Alguns acreditam que existem mais mundos além daqueles que nós conhecemos.

"Mas falando desse mundo, é padrão em relação as outras. Não podemos tomar nada sem que haja uma compensação para que a Natureza mantenha o equilíbrio da magia.

― As divindades que vocês, bruxas, têm pactos, são manifestações da Natureza, certo?

― Não necessariamente, a nossa magia vem de um pacto com alguma divindade, só usamos os poderes das divindades. Nada além disso. ― Delfim explicou. ― A magia tem várias manifestações, os deuses são uma delas. Alguns acreditam que as divindades foram uma forma que a magia utilizou para criar a vida que conhecemos. Cada deus sendo pedaço de Luz e Escuridão, segundo elas.

― Muito bem ― complementou o Rei em forma de elogio. ― Agora vindo para o meu mundo e a história dele. As Adagas de Angeli, me conte sobre elas.

Delfim ficou um pouco intrigada.

― Você acredita em anjos, não acredita? ― O Rei confirmou que sim. ― Você também sabe que Ariel e Caliban, as divindades que os humanos cultuam, foram anjos em um mundo bem distante, um mundo chamado Caellum. Pois bem, tudo começou quando dois irmãos invocaram anjos de Caellum para cá. Eles queriam que esses anjos dessem seus poderes e em troca iriam utilizar os objetos proteger. Os anjos, Natanael e Alamael, decidiram depositar seus poderes em duas lâminas, duas adagas.

"Mas nada saiu como planejado. Um dos irmãos, Vinci, usou as adagas abençoadas como arma para matar pessoas. Alguns acreditam que Vinci queria matar seu irmão, mas por alguma razão isso não aconteceu. Natanael e Alamael voltaram para cá afim conversar com o outro irmão, Noel, para que impedisse a matança. Então, deram uma outra adaga para desativar os poderes das outras duas, também Vinci teria que morrer com ela no peito.

― Interessante... ― comentou o Rei.

― Mas não acabou muito bem para os dois irmãos. ― Delfim voltou a lembrar da história. ― Noel não iria suportar ter que matar o irmão, sendo assim, depois de desativar o uso das duas primeiras adagas com a última, matou seu irmão e logo em seguida se matou.

"Os objetos ficaram conhecidos como Adagas de Angeli desde então. Dizem que existe uma maldição naqueles objetos, não sabemos a verdade ainda. Ao longo dos anos, as Adagas ficaram sob a tutela dos Seres Sobrenaturais até serem usarem contra Alucard Montana há mil anos.

O Rei não falou nada. Ficou parado um longo momento. Por fim falou

― Depois disso, a primeira e segunda, Alox e Nonex, ficaram por responsabilidade de um dos meus antepassados ― respondeu o Rei. ― Quando tínhamos outro sobrenome... A terceira, Anox, ficou aos cuidados dele. Sabe de quem estou falando, não sabe?

― Sim, senhor. ― Delfim concordou. Já tinha ouvido falar do vampiro. ― Todos que o conheceram diziam que ele era um pouco tanto... excêntrico. Não que fosse uma pessoa ruim, é que ele costumava encher um pouco o saco dos outros.

― Enfim, ele está viajando já faz um tempo e me pediu que cuidasse da Anox. O problema é que ela foi roubada. ― O Rei revelou. ― E acho está para voltar logo.

― E você quer que procure?

― Conversei com Honda, e você é mais capaz para o serviço ― disse o Rei Owen seriamente. ― O que me diz? ― Ela fitou Delfim com atenção e logo em seguida seguindo seu olhar para o símbolo na folha de papel. Seu olhar dizia: se não me ajudar, revelo seu segredo.

― Aceito, Rei Owen. ― Respondeu com firmeza ao se levantar.

Ninguém nunca pode descobrir. Ninguém. 

Místicos - As Crônicas De Myustic - Livro 1Where stories live. Discover now