Capítulo 1 - A Porta do Templo

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A vida de Gabriel Griffen não estava sendo fácil para aqueles que achavam que era. Mesmo sendo um príncipe, não gostava ser chamado de um. Isso tinha relação com sua origem reaganiana e os poderes que escondia do próprio do povo.


Ele cavalgava em seu cavalo pelas planícies próximas a Metrópole com seu espada colada no cinto. Sentia o vento soprar seus ouvidos conforme avançava para o Templo de Ariel ― que não ficava muito longe da cidade. Estava indo prestar suas preces para a Divindade. O grama baixa da estrada que levava estava verde tão verde que dava a impressão de nunca iria amarelar.


O Sol estava coberto por nuvens espessas fazendo com que o clima ficasse abafado em quase toda a região de Reagan. Quando chegou ao Templo, viu que um grupo de pessoas estava na porta, entre elas estavam sacerdotes, humanos devotos e alguns seres sobrenaturais que tinham fé na Divindade.


― O que está acontecendo aqui? ― perguntou Gabriel enquanto descia de seu cavalo. Seus cabelos castanhos estavam bagunçados devido ao vento da cavalgada. Todos se viraram para ver quem perguntara e, quase que instantaneamente, todos se ajoelharam dizendo: Meu príncipe. ― Me digam o que está acontecendo?


― A porta do Templo de Ariel não está querendo abrir, meu príncipe ― respondeu um sacerdote, Gabriel sentiu uma leve raiva ao ser chamado assim. Os olhos do velho eram quase brancos devido a cegueira, Gabriel conhecia aquele sacerdote, seu nome era Jebkid. ― É como se estivesse selada por dentro e não conseguimos abrir. A madeira parece estar colada.


Gabriel ficou perplexo com aquela situação. Como que o Templo de Ariel foi selado sem a ordem de ninguém? Os sacerdotes que por ali viviam pediram ao bisavô de Gabriel para que que construísse o Templo, então o Rei Hollow colocou uma porta sem tranca, como os sacerdotes tinham solicitado.


As portas do Templo eram feitas de madeira escura, marcas de proteção davam voltas e mais voltas. Protecti, azarin, vaik. Gabriel passou a mão onde seria linha que dividia as duas partes, mas somente sentia uma energia vindo dali. Uma energia que lembrava que a morte, uma energia estranha. Ele já havia sentido aquilo uma vez. Heda.


Sentiu seu coração acelerar.


Sentiu o laço do seu poder afrouxar e querer sair para fora. Não podia deixar isso acontecer ali


― Vou pedir para que alguns guardas venham abrir a porta para vocês ― disse Gabriel indo em direção ao sacerdote Jebkid, o velho tinha a pele quase toda enrugada. ― Eles também irão proteger o Templo.


― Muito obrigado, meu príncipe.


Gabriel montou em seu cavalo e com um aceno partiu para a Metrópole.


***


Ao chegar na cidade e passar pelo portão viu que as pessoas se preparavam para o Dia de Reagan, o dia que comemoravam o nascimento do Primeiro Rei de Reagan. As pessoas ao longo da cidade colocavam bandeirinhas com o símbolo de Reagan, um dragão prateado. Gabriel não gostava muito dessa comemoração em especial, porque estavam comemorando o dia da morte de um rei. Se as pessoas ficavam mais felizes em manipular os fatos, ele não tinha nada a ver com isso.


Enquanto andava em direção ao castelo começou a pensar em como aquela porta tinha sido selada. Ele ainda conseguia sentir a magia em seus dedos, não era original daquele mundo. Ele pensou nas Bruxos e Bruxas do clã Heda, que viviam em espalhados pelo Grande Continente, já que a magia deles era considera uma das mais poderosas no mundo mágico.


Ao entrar em seu quarto no castelo, tirou o colete marrom que vestia e ficou somente com a calça de sarja. O tempo que ficou no quarto começou a pensar em uma maneira de contar ao seu pai sobre o ocorrido.


Com isso, Gabriel começou a pensar que durante toda a história do Grande Continente sempre existiu o preconceito das pessoas em relação a magia. Já que poucos conseguiam manipulá-la e, aqueles que nasciam com ela ou vinham dela como vampiros, fadas, lobisomens, elfos, bruxas e feiticeiros começaram a ser caçados por simplesmente terem acesso a ela. Então, durante três gerações: o tataravô, o bisavô e o avô de Gabriel caçaram os Seres Sobrenaturais para acabar com o medo das pessoas. O pai de Gabriel, não seguiu a mesma linha de seu pai e se uniu aos outros três reinos do Grande Continente para resolver o problema que seus antepassados tinham criado.


Então, resolveram criar o Tratado de Unificação, um tratado dizendo que nenhum rei ou rainha mataria ou caçaria um ser possuidor de magia. O dia em que o Tratado foi assinado passou a ser considerado o Dia da Unificação, um feriado onde todos festejariam a conquista de um novo mundo. Coincidentemente, 7 dias depois do Dia de Reagan.


E um ano depois do Tratado ter sido assinado, o pai de Gabriel, Owen Griffen VIII, teve um filho, possuidor de magia.


Owen não nunca temeu a magia, mas temia o povo que tinha medo dela. Então, contar para a ele, que sempre escondeu a magia do filho do próprio povo, seria bem desafiador. Gabriel iria esperar até o jantar para contar.


***


Ao longo do dia, depois de pedir para que guardas supervisionassem o Templo de Ariel, Gabriel ficou treinando esgrima no jardim principal ao lado de seu amigo, Cameron Hamniel. Os dois eram uma arma de destruição quando estavam praticando algum esporte. Ele era um dos poucos amigos de Gabriel, tinha mais dois irmãos que moravam do outro lado da Metrópole, e como não podiam viver no castelo, viviam sozinhos com ajuda financeira de Cameron.


Ele também era o responsável pela segurança do príncipe. Também era uns dos únicos que sabia dos poderes de Gabriel.


― Fiquei sabendo do ocorrido com o Templo ― disse Cameron depois do treinamento de duas horas. Seus cabelos encaracolados eram castanhos como mel e estavam grudados na testa devido ao suor. ― Não entendo o porquê de selarem a porta, os devotos a Ariel não fazem mal a uma mosca.


― Eu sei disso ― respondeu Gabriel jogando a espada no chão. ― Mas quando toquei a madeira da porta, senti uma magia diferente. Algo que não sentia há muito tempo.


― Magia do Pacto? ― Cameron pareceu gelar. ― Será que Bruxas de Heda estão atacando novamente?


― Tivemos um momento de paz com cinquenta por cento das bruxas ― afirmou Gabriel. ― O Tratado dizia que elas não seriam mais atacadas, mas algo dentro delas ainda quer vingança pelo que os nossos antepassados fizeram a elas. A sede de sangue delas é enorme. Acho que deve ser isso.


Cameron ficou quieto enquanto batia os dedos sobre a perna. Ele estava escondendo algo.


― O que foi? ― Gabriel disparou. ― O que você descobriu?


Cameron suspirou.


― Depois que você saiu nessa manhã para ir ao Templo ― começou a contar. ― Fomos chamados para ir a Zona Montra, parecia que tinha acontecido um assassinato... ― Cameron parou.


― E quem foi assassinado?


― Uma família.


― Humanos?


― Bruxos ― respondeu Cameron secamente. Seus olhos estavam parados, como se estivessem congelados no Tempo. ― Foi horrível! O sangue estava espalhado por toda parte, as partes do corpo tinham sido colocadas em todos os lugares da casa... ― Ele quase colocou o café da manhã para fora.


Gabriel Griffen congelou. Alguém tinha quebrado o Tratado.


― Se as bruxas fizeram isso com o Templo, é porque queriam chamar a nossa atenção ― Ele pegou a espada do chão. ― Preciso contar para o meu pai antes que isso tome proporções muito maiores.


E ele iria fazer isso


Místicos - As Crônicas De Myustic - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora