Capítulo 3 - Na Cidade de Canthum

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Amanda estava comprando frutas em uma das barracas ao lado do Teatro de Hena, enquanto isso, Delfim conversava com um belo rapaz de cabelos castanhos. Amanda olhou a amiga conversar com ele de canto e percebeu que os cabelos de Delfim estavam por trás da sua orelha direta.
Amanda soltou um sorriso enquanto colocava quatro maçãs na sacola.
O Sol na Cidade de Canthum está quente por ser apenas nove da manhã, pensou Amanda dando 14 rubias ao vendedor. Ao voltar para a amiga, percebeu que o rapaz já tinha ido embora.
― Quem era aquele? ― perguntou para Delfim. ― Por curiosidade, ele era um bruxo, não era?
― Como você sabe? ― indagou Delfim a pegar uma maçã da sacola.
― Ah, talvez seja pelo fato dele também ter uma tatuagem no braço esquerdo, a mesma do Clã Lunos ― respondeu Amanda ao partirem para a saída da cidade. ― Você só se interessa por rapazes de clãs diferentes, para aprender suas magias. Eu já disse a você...
― Nunca se meta com outros clãs ou as entidades desses clãs. Assim vai perder o acesso a sua magia ― Delfim remendou fazendo uma careta. ― Eu sei disso! Não sou tão burra de mexer com outras entidades que não seja minha. ― Ela deu uma mordida na maçã. ― Por falar nisso, Heda mandou isso para você... ― e apontou o dedo do meio.
Amanda com os poderes que tinha levantou um pouco de poeira do chão jogo-a na cara de Delfim. Amanda correu da amiga com medo de uma revanche enquanto ria sem parar. As ruas da Cidade de Canthum era retas o suficiente para ver o portão da cidade no horizonte. Amanda sentia o vento correr pelos cabelos curtos. Seus olhos bicolores ― o esquerdo era prateado com a Lua e o direito castanho como a noz ―, olharam para trás, Delfim não estava mais correndo atrás dela.
― Surpresa! ― Uma voz gritou a frente de Amanda e ela acabou passando por cortina de poeira levantada por Delfim.
As duas riram sem parar enquanto Amanda limpava sua roupa cheia de poeira amarela. As pessoas ao redor  ao mesmo tempo riam e acham um pouco estranho duas amigas correndo, seguiam suas vidas. Canthum era uma cidade pacífica, mas as pessoas eram um pouco estranhas. 
― Espere até você dormir ― disse Amanda por fim fazendo uma careta. ― Você tem medo do que mesmo? Aranhas, né? ― Amanda moveu as mãos criando pequenas aranhas de luz prateadas nas mãos.
― Não se atreveria ― disse Delfim dando um passo para trás.
― Não me tente ― Amanda puxou Delfim pelo braço para ir em direção do portão cidade.
A Cidade de Canthum, ao olhar de Amanda, era uma das maiores entre as Quatro Cidades: Benon, Canthum, Metrópole e Trice. Essa que Amanda estava em especial era muito maior em relação ao espaço geográfico, ficava em uma região que tomava parte do litoral norte do país. Viajar para Canthum estava sendo uma bela experiência. E ainda mais com Delfim, sua amiga de colégio vinda da Metrópole.
― Agora que temos algumas frutas para comermos até o próximo vilarejo ― Delfim afirmou. ― Acho que não vamos passar fome.
― Lógico que não ― Amanda confirmou. ― Você sabe que a próxima compra será sua, não sabe?
― Como poderia esquecer ― Delfim revirou os olhos. ― Ou eu posso simplesmente transformar essas pedras ― abaixou pegando algumas do chão ― em rubias. É um truque simples... E quando estivermos a um quilometro de distância do vendedor, elas voltam a ser pedras. Podemos comprar a venda inteira.
― Isso seria roubar ― Amanda cruzou os braços e levantou uma das sobrancelhas. ― Sem contar, que isso vai contra seu...
― Código de conduta dos clãs... Sei disso!
― Então, fim de papo.
Ao chegarem o portão de saída da cidade. Amanda e Delfim se deparam com uma porta enorme escancarada onde pessoas com carroças e mercadorias de fora da cidade passavam. Guardas paravam cada carroça verificando mercadorias que entrava e saiam. Elas foram paradas por um guarda de cabelos curtos, quase que raspados, seus olhos eram pretos como noite, sem as pupilas. Bruxos de Zachriel.
― Boa tarde, senhoritas ― disse o homem com uma voz humana, ao contrário de sua aparência. ― O que levam na sacola?
― Maçãs, e alguns morangos ― respondeu Delfim.
O guarda olhou no fundo dos olhos de Amanda.
― Motivo da partida? ― perguntou.
― Estamos indo para Drang para estudar, senhor.
O homem semicerrou os olhos.
― Ocupações místicas?
― Bruxa ― disse Delfim.
― Espectral ― respondeu Amanda.
O homem arregalou os olhos para Delfim.
― Qual o seu clã? ― perguntou, e logo puxou seu bloquinho de notas para anotar. Amanda não se espantou ao perguntarem o clã de Delfim já que todos tinham certo preconceito com as bruxas do clã de Delfim. Pelo que Delfim contava, os Heda foram os únicos que não era a favor do Tratado, e causaram muito pânico uns anos depois que ele foi assinado.
― Clã Heda. ― Delfim fechou a cara assim que respondeu.
― Muito bem ― disse o guarda anotando. Ele olhou para Amanda. ― Você pode passar ― ele voltou o olhar para Delfim. ― Você, fica na cidade até quando decidirmos a sua saída.
As duas amigas se olharam.
― Como assim?
― Houve um assassinato ao norte da cidade ― respondeu o guarda seriamente. ― Bruxos do seu clã foram mortos violentamente, e ninguém do clã deve sair. Você deve conhecer as regras impostas pelo seu clã. Então, você fica.
Delfim levantou as sobrancelhas parecendo surpresa. Não por ter que ficar na cidade, mas pela morte inesperada de alguém de seu clã. Amanda sabia que Delfim tinha deveres com o clã Heda, não que ela estivesse seguindo todos. Mas... Ainda sim, fazia parte dele.
― Ok, senhor ― respondeu Delfim em uma referência. ― Vou até o posto do meu clã. ― Ela voltou o olhar para Amanda. ― Você pode seguir viagem, eu vou ficar bem. Te alcanço no caminho.
Amanda sabia que não podia discutir, ela não tinha poderes para isso. Também que Delfim estava mentindo.
― Tudo bem ― disse Amanda abraçando a amiga. ― Nos encontraremos no Vilarejo do Dragão. 
Amanda assentiu e deixou com que Delfim ficasse na cidade. Quando estava quase se aproximando do portão, virou para ver se Delfim ainda estava lá. Mas ela já tinha ido embora.
        Vá para o vilarejo, disse uma voz na mente de Amanda. Era voz doce de Delfim. Me mande uma mensagem de fogo. Vou te manter informada.
        As coisas estavam para mudar, isso Amanda tinha certeza. Mas, para um lado ruim.

Místicos - As Crônicas De Myustic - Livro 1Where stories live. Discover now