Capítulo 5

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- Estou pronta. – eu disse, cheia de coragem vinda não sei de onde, já que eu estava deixando minha mãe, com quem quis me reencontrar a minha vida inteira e que finalmente se lembrava de quem eu era e me amava de verdade, e eu não fazia a menor ideia de quando a veria novamente.

- Onde é que você foi? Pelo amor de Deus, você sumiu do nada!

- Se acalma, vovó. – debochei e dei uma risada. – Estou de volta e estou pronta. Vamos nessa.

Coloquei meus óculos escuros e um sobretudo preto que roubei... quer dizer, peguei emprestado do guarda roupa da minha mãe assim que sai do quarto dela minutos atrás. Ela tinha pelo menos cinco. Não ia sentir falta desse com tanta facilidade. Coloquei em um dos bolsos as fotos que tiramos juntas e minha mochila nas costas. Minha enorme mochila nas costas.

Cora olhou rapidamente, mas não conseguiu ver o que eu coloquei nos bolsos. Fora isso, ela quis saber o que eu levava naquela mochila imensa e respondi que algumas poções e ervas importantes eram necessárias para ter em momentos de emergência. Não daria para ficar indo e voltando entre reinos em busca de ingredientes para compor todas as poções que talvez precisássemos. Melhor ter sempre um pouco comigo, só no caso de algo acontecer. E nós sabemos que algo sempre acontecia.

Fomos até o meio da floresta e lancei, em todos na cidade, o feitiço de esquecimento que planejamos na noite anterior. Nesse momento Cora soltou:

- Está feito. Agora vamos embora.

- O que está feito? Eu só lancei o feitiço para eles se esquecerem de quem eu sou.

- Exato. Agora me diga, se eles se esqueceram de quem você é, como eles pegaram Zelena? – fiquei alguns segundos pensando nessa questão, que me pareceu muito mais complicada do que eu achei que seria, então minha avó me olhou nos olhos e me disse, tranquilamente sorrindo. – Eles não a pegaram.

Quase tive um ataque cardíaco misturado com um derrame. Como assim eles não a pegaram? Meu Deus! Por acaso eu acabei de alterar a história de forma que Zelena se safava e ainda poderia machucar a todos? Machucar minha mãe? Fiquei paralisada com aquele pensamento e, pior, com aquela sensação.

- Eu sei o que você está pensando agora. – Cora começou a caminhar, o que me fez acompanhá-la correndo para o seu lado. – "Por acaso eu acabei de alterar a história de forma que Zelena vai se safar e ainda pode machucar a todos? Machucar minha mãe?" E a resposta é sim. Lançando esse feitiço você acabou de soltar Zelena e ela ainda vai causar alguns estragos. Mas... – ela começou, vendo que eu entrei em choque e parei de caminhar, e as explicações foram dadas, graças a Deus. – Era a coisa certa a ser feita. Blanck, o que você fez pela Regina foi maravilhoso e ela nunca vai esquecer. Ela te ama de verdade. É um amor puro e sincero e que nunca vai acabar. Mas o curso das coisas não deveria ser assim. Você ainda não deveria voltar para a vida dela. Seu pai precisa morrer para que as coisas sigam da maneira como devem seguir. E daí, só então você pode voltar para a vida dela em um tempo no qual não cause nenhum tipo de estrago temporal, não altere nada do que deveria acontecer e a história possa se escrever da maneira correta.

- Meu pai... precisa morrer? Eu achei que estávamos indo salvar a vida dele nesse processo de salvar o final feliz amoroso da minha mãe.

- E vamos. Mas não quer dizer que ele não tenha que morrer antes disso.

- Você quer dizer... eu entendi direito? – nossa senhora, aquilo fazia muito mais sentido do que eu gostaria que fizesse e Cora confirmou.

- Que vamos voltar ao passado para mudar o evento que proíbe sua mãe de ser feliz no amor, depois vamos um pouco mais para frente para quando seu pai morre... pelo amor de Deus hein, garota, se controle quando o ver morrer...

- ... para podermos pegá-lo no submundo e trazê-lo de volta... – minha boca estava escancarada com aquela novidade e meus olhos estavam tão arregalados que pareciam que queriam saltar para fora do meu rosto.

- ... para o futuro. Lá para frente, não para agora, mas para o futuro. Para o momento no qual tanto você quanto ele possam realmente fazer parte da história de maneira que não interfiram em nada do que deve acontecer daqui para frente.

Ela nem esperou que eu processasse tudo aquilo e continuou andando, como se estivéssemos discutindo o que faríamos para o almoço e eu discordasse dos vegetais. Por que será que eu tinha tanta vontade de dar uns tapas na minha própria avó? Será que esse sentimento era normal mesmo? Eu estava preocupada porque imagina se me descontrolasse em algum momento e descesse a mão nela? "Oh senhor, por favor, não permita que isso não aconteça", pensei.

- Meu Deus, isso tinha que ser tão complicado dessa forma? – voltei a caminhar do lado de Cora.

- Pois é! Querida, eu até pensei que a vida amorosa de sua mãe fosse se acertar quando ela reencontrou o Doutor Facilier, mas daí ele...

- Doutor quem? – fiz uma careta, sem entender nada, depois aquele nome me veio na cabeça. – O conhecido "Feiticeiro Voodoo"? Minha mãe teve ou vai ter um caso com ele? – congelei no mesmo lugar, coloquei as duas mãos no rosto na altura dos olhos e Cora parou bem ao meu lado, tentando entender o que estava errado. – Essa imagem nunca mais vai sair da minha cabeça! Você, por favor, pode não me falar mais nada a respeito desse absurdo? Obrigada! – e voltei a andar, desta vez um pouco a frente dela, que ficou alguns passos para trás tentando entender o que tinha feito de errado ou o que tinha de errado comigo.

De qualquer forma, seguimos por dentro de um portal em direção a não sei onde, pois para o primeiro lugar que iríamos Cora era quem estava liderando. Mas assim que pisamos onde quer que fosse, já do outro lado do portal, eu sabia onde estávamos. Não tinha exatamente certeza, mas eu sentia onde estávamos: dentro do castelo da Rainha Má, alguns anos (ou melhor, algumas décadas) atrás.

*****

- Estamos... no castelo da minha mãe. Ela vai nos encontrar aqui, Cora! – esbravejei, mas não tão alto porque não sabia em qual parte do castelo estávamos e quem poderia nos escutar.

- Estamos, sim. Estamos exatamente dentro do quarto da Branca de Neve. Ou Mary Margaret, como preferir chamá-la.

- O quê?! Meu Deus! Você nos trouxe para o quarto da Branca de Neve? Mas você está... – eu ia começar a gritar que ela estava louca quando percebi algo muito estranho no lugar. – Mas esse quarto... está vazio. Não tem mobília, não tem nada.

- Você realmente acha que sua mãe iria guardar as coisas dela, Blanck? Cá entre nós, entre você e eu, acho que a mais louca é você. – debochou ela, com razão. – Sua mãe nunca vem aqui. Estamos cem por cento seguras. Eu nos trouxe aqui justamente por ser um lugar neutro e um excelente ponto de encontro, considerando que Regina nunca vem aqui e nunca deixa ninguém vir também. Agora, pare de ser essa chata, chega de reclamações e vamos pensar em quais momentos de maldade da minha filha vamos colocar na nossa lista para presenciar e nos preparar.

Nem me dei ao trabalho de responder. Ela estava certa. Droga, eu odiava quando ela estava certa.

Blanck 2 - A transformação do malOnde histórias criam vida. Descubra agora