Capítulo 15

125 14 6
                                    

- Você sente saudades da sua filha? Robin... certo?

- Certo. Sinto muitas saudades. – Zelena sorriu.

- Deixa eu adivinhar, você vai dizer que ela se parece muito comigo.

- Oh não, definitivamente não. Tenho certeza de que ela é muito mais rebelde do que você. – concluiu ela rindo, o que me fez rir também. – Precisamos voltar para Cora, ainda temos mais uma viagem para fazer hoje e depois vamos descansar.

- Acho que antes de descansar precisaremos fazer algum tipo de relatório sobre as viagens de hoje e criar pelo menos parte de uma estratégia para as viagens de amanhã.

- Ou manter a mesma estratégia, dependendo dos resultados. – ela completou.

- Sim. É verdade.

- Você realmente parece muito a Regina. – ela arregalou os olhos e fez uma careta, brincando, e depois voltou a rir.

****

Quando voltamos, Cora já estava pronta à nossa espera. Vestida e armada, por assim dizer. Eu não tinha muita ideia para onde poderíamos ir agora, uma vez que quem dava as ordens, principalmente antes de traçarmos uma estratégia melhor, era Zelena.

Cora sugeriu mais um momento no qual Regina fazia mal a alguém, mas Zelena não concordou e disse que tinha uma ideia e gostaria de testá-la antes de voltarmos nossas atenções apenas para os momentos de maldade de minha mãe. Achei estranho, mas Cora não pareceu muito feliz com essa mudança de planos, parecia que o que ela mais queria era ver Regina fazendo suas maldades e nós assistindo. Pensando melhor, Cora ser assim não era nada estranho.

Zelena escolheu um momento e a seguimos até o meio do quarto, onde pegamos a poção, coloquei na mão dela, fizemos uma corrente tripla com nossas mãos e ela disse:

- Respirem fundo e não se soltem. – o que indicava que a viagem não seria muito agradável.

E realmente não foi nada incrível aquela viagem. Praticamente passamos novamente por um furacão. Fomos puxadas para todos os cantos e nossas mãos foram levemente machucadas, como se alguém estivesse dando tapas nelas para que nos soltássemos. Isso era o tempo não querendo que viajássemos por ele, tentando nos desestabilizar e impedir nossa viagem. Foi difícil, mas conseguimos chegar ao local onde Zelena gostaria de nos levar.

Obviamente eu não sabia onde nós estávamos e isso não era novidade. Cora também não fazia a menor ideia em qual local do tempo ela estava pisando e posso dizer que ela não se sentia quase nada confortável com isso.

- Desculpem a viagem indelicada. Eu só vim aqui uma vez. Na verdade não vim exatamente, apenas presenciei através de um espelho no qual eu acompanhava o que Regina fazia durante os anos... quer dizer, décadas. Enfim. Então foi difícil chegar, mas acredito que estejamos no lugar certo.

- Acredita? – Cora encarou Zelena levemente.

- Sim. – sorriu Zelena, sem se importar com Cora. Olhou para mim e disse: - Vamos lá, o acontecimento é um pouco mais a frente.

Estávamos, para variar, na floresta e andamos poucos passos até chegarmos a algumas árvores muito grandes em tamanho e largura. Eram daquelas árvores bem gordinhas, as quais são impossíveis de abraçar e os casais normalmente abraçavam um de cada lado, encontrando suas mãos no meio da árvore. Logo que pensei nessa referência imaginei que se tivesse dito alto esse pensamento, Cora com certeza teria vomitado. Ri internamente e segui em frente com as duas até chegarmos onde Zelena queria, que coincidentemente era bem atrás de uma dessas árvores muito grandes, o que obviamente impossibilitaria a facilidade de alguém no enxergar ali, espionando o que quer que fosse que espionaríamos nos próximos minutos.

É claro que uma das pessoas a chegar ali nos próximos minutos foi Regina. Mas estava sozinha, sem seus guardas reais, sem carruagem, apenas ela. Estava usando um vestido preto daqueles modelos que parecem que foram colados ao corpo e, quando batia a luz, brilhava levemente em um vermelho sangue. Tinha um decote enorme, mas muito lindo que valorizava seu corpo. Aliás, falando nisso, o que era essa fixação que minha mãe tinha por decotes hein? Será que ela nunca ouviu falar em vestidos mais comportadinhos ou aquilo era de propósito? Mas acho que eu nunca saberia essa resposta sem perguntar para ela. Quem sabe um dia mais lá para frente da nossa história eu teria essa coragem toda para perguntar isso a ela. Ri internamente.

Agora, quem realmente eu não imaginava chegando logo em seguida, foram as três pessoas que vieram segundos após minha mãe: João, Maria (as crianças que ela separou do pai na nossa viagem anterior) e o pai deles. Quase tive um ataque cardíaco. Eles estavam em lados opostos da floresta, e finalmente quando se viram, fizeram a maior festa, gritaram e correram para se abraçar. Aquele claramente era o momento do reencontro dos três, daquela família.

Respirei fundo imaginando o que a Rainha Má faria naquele momento, pois com certeza não deixaria que eles se encontrassem e ficassem alegres caminhando e dançando por aí como uma família feliz, afinal, foi exatamente isso o que ela quis impedir quando os separou, há sabe-se Deus quanto tempo atrás. Mas a julgar pela aparência dela e deles, não havia sido tanto tempo assim, provavelmente algumas semanas.

Porem a reação da Rainha Má me surpreendeu completamente: ela se escondeu. Se escondeu. Ficou bem quietinha atrás de uma árvore parecida com a que nós três estávamos escondidas, assistindo toda a cena. Por sorte, ou melhor, por pura excelente estratégia de Zelena, estávamos em um local de onde podíamos ver boa parte do reencontro de João, Maria e seu pai, porém o que mais víamos era minha mãe. Suas expressões, seus movimentos, tudo sobre ela estava a um ângulo perfeito para nós.

Regina ficou ali observando o reencontro deles, sem nem ao menos se mexer direito. Encarava toda a cena muito quieta, como se estivesse assistindo a um filme incrível que estava para ter sua trama desenrolada e seu mistério solucionado a qualquer momento. E foi no segundo que eu pensava nisso que eu vi. Uma lágrima bem fininha caía por seu olho esquerdo, descendo devagar e, provavelmente, dolorosamente por sua bochecha. Ela não se deu ao trabalho de enxugá-la. Sua expressão não era de raiva nem de ódio nem de frustração nem de desprezo nem qualquer outro sentimento desses que a Rainha Má tanto carregava, segundo todos os que estavam a sua volta tanto diziam, durante tantos e tantos anos. Ela tinha dor no olhar. Aquela cena era algo que provavelmente ela queria que tivesse acontecido com ela em sua vida. Era a família que ela gostaria de ter tido. Era aquela felicidade, aquele amor, aquele carinho que sempre faltara em sua vida.

Entendi naquele momento que ela mesma sabia que já tinha causado mal o suficiente para aquela família. Estava ali apenas observando o que ela sempre quis que acontecesse com ela mesma: o encontro e a felicidade de uma família que se ama.

Blanck 2 - A transformação do malOù les histoires vivent. Découvrez maintenant