Capítulo 22

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Sério ... minha querida avó estava mais do que eufórica. Ela estava bizarramente em êxtase. Parecia que parte do seu corpo estava prestes a explodir ... ou implodir, pode escolher qualquer um, de tanto que ela vibrava (não é maneira de falar, ela tipo tremia fisicamente mesmo, de tanto entusiasmo).

Tive que parar totalmente de prestar atenção ao que estava acontecendo para dar atenção a ela, pois tinha medo de que ela fizesse qualquer coisa, que obviamente seria uma grande besteira, que acabasse nos colocando em um beco sem saída e daí sim com certeza, toda a operação iria completamente por água abaixo. E eu não tinha ido até aquele ponto (que eu nem sabia mais que ponto era, para ser sincera) para deixar que ela estragasse tudo. Ah, de jeito nenhum! Antes de ela fazer qualquer bobagem que nos colocasse em risco, eu tenho plena certeza de que pularia no pescoço dela e, dependendo do meu estado de nervos, ainda gritaria "Está doida, mulher?".

Arregalei os olhos para tia Zelena e praticamente implorei mentalmente (e através daquela cara de "pelo amor de Deus") que ela ficasse cem por cento de olho em tudo para saber se aquele evento seria decisivo ou pelo menos essencial para descobrirmos o principal evento praticado por minha mãe que a impedia de ser feliz no amor (e bônus, meu pai tivesse que morrer. Só coisa boa ne?), enquanto meu foco total seria em Cora durante nosso passeio feliz e tranquilo pelo País das Maravilhas. Me peguei pensando em porquê diabos alguém teria nomeado aquele lugar "País das Maravilhas" se só aconteciam coisas esquisitas ou ruins ali. Quem teria sido a mente esperta e brilhante em pensar nesse nome hein?

E eu estava certa em decidir ficar de olho em Cora. Vovó querida se colocava cada vez mais para frente de nós e cada vez mais perto de Regina e Jefferson para acompanhar tudo e todo o caminho por onde passavam. Perdi as contas de quantas vezes tive que segurar seu braço, atrasando-a, para que não chegasse tão perto e fôssemos descobertas. Para ser honesta, não é que perdi as contas, é que parei de contar depois da décima vez mesmo. Cora simplesmente era completamente previsível no que diz respeito a ser indiscreta e irracional. Que dificuldade foi acompanhar e segurar aquela mulher durante aquela viagem. Fora que quase coloquei tudo a perder quando soltei Cora para tomar o meu remédio novamente:

- Toma. – entregou ela o vidro na minha mão sem nem olhar para trás e sem a menor vontade de ter certeza de que eu tomaria. Praticamente estava se livrando de mim me fazendo perder tempo tomando aquele remédio, mas como era algo extremamente necessário e estava praticamente quase perdendo ela de vista, virei o conteúdo do vidro na boca, coloquei o vidro vazio no bolso e tive que correr alguns passos para chegar até ela e, novamente, puxá-la pelo braço. Meu Deus, que viagem!

Aliás, não faço a menor ideia de quanto tempo passamos ali. Só sei que Zelena foi quem prestou atenção em praticamente tudo. Eu só dei de cara com alguns eventos bastante desagradáveis como minha mãe achando que poderia enganar as paredes do labirinto e os guardas que vinham capturá-los, todo mundo tendo que correr (inclusive nós três) por conta da falta de noção da minha mãe tomando as melhores decisões possíveis (só que não) e mais algumas derrapadas excelentes dela e de Jefferson enquanto corriam pelo labirinto atrás do que minha fora buscar naquele lugar.

Mas é claro que a Rainha Má sempre deixava o melhor para o final. Acho que na cabeça dela sempre foi tudo um imenso palco para o grande show de horror que ela fazia questão de apresentar. Realmente é o que eu acho, mas estou aberta a outras sugestões de possiblidades (caso alguém tenha).

O final daquela viagem foi simplesmente majestoso: Regina e Jefferson conseguiram encontrar e roubar uma caixinha que ela tanto queria e saíram correndo para a porta de saída do País das Maravilhas para que pudessem voltar para casa. Mas quando chegaram bem próximo da porta, minha mãe parou para abrir a caixinha junto com Jefferson. Fiquei estarrecida com a falta de noção dela (sinceramente mãe!), porque não tinha a menor necessidade de ela abrir para ver o conteúdo naquele momento. Estava apenas atrasando a viagem deles dois (e sem saber, de nós três também). Sem contar que tinham guardas a caminho, seguindo-os a todo vapor, então tinham que sair dali o mais rápido possível, mas mesmo assim ela parou para abrir a caixa.

Assim que abriu, colocou dentro um pedaço bem pequeno de um cogumelo que pegara naquele jardim e, segundos depois meu avô, Henry, saiu de dentro da caixa ficando no tamanho de uma pessoa normal, e se pôs de pé bem na frente dos dois, Regina e Jefferson. Naquele momento meu estômago se virou inteirinho. Ainda bem que já fazia algum tempo que eu não comia. Aliás, há quanto tempo estávamos lá mesmo? Devia ser muito mais tempo do que parecia, porque além de meu estômago estar dando sinais de desespero, meu coração também deu uma pontada, o que me incomodou demais. De novo aquilo? Mas que desagradável, principalmente naquele momento. Eu deveria mesmo estar com fome. De novo.

Mas voltando ao assunto, meu estômago se revirou porque entendi o que na verdade estava acontecendo. Entendi tudo o que minha mãe havia planejado desde o início. Minha cabeça estava zonza e eu ainda estava tendo que seguir e segurar a minha querida avó, que nesse momento sorria de um jeito que mais parecia que os lados de sua boca em breve se encontrariam com os cantos dos olhos, tamanha era sua felicidade com aquele ato de maldade da Rainha Má. Ela estava muito orgulhosa da filha. Sim, aquele sorriso era puro orgulho misturado com sua própria maldade. Ainda bem que eu estava de olho nela, senão acho que teria se intrometido na cena só para abraçar Regina e parabeniza-la pelo feito.

Tudo o que aconteceu a partir dali foi muito rápido. Jefferson angustiado dizendo que Regina sabia que a mesma quantidade de pessoas que viaja no chapéu na ida é a mesma que tem que viajar na volta. Jefferson pedindo que Regina não o deixasse ali, pois havia prometido à filha, Grace, que voltaria para ela e Regina, virando para responder que aquela era uma promessa que agora estava quebrada e que ele não deveria ter deixado a filha para trás, pois como ele mesmo havia dito, não se pode abandonar a família.

No meio daquilo tudo, não sei muito bem em qual momento, tenho certeza de que vi minha mãe fazer uma cara de arrependimento e tristeza por estar fazendo aquilo, ela só não deixou ninguém ver seu semblante. Depois disso, ela e meu avô entraram pelo portal. Zelena (Deus abençoe essa mulher!) me avisou que aquele era o momento de novamente lançar o feitiço do elástico. Eu lancei o feitiço rapidamente no meio daquele desespero. Ela lançou o feitiço que nos deixava invisíveis milésimos de segundo depois. E, finalmente, nós cinco voltamos para a casa de Jefferson na floresta.

Exceto que os cinco que voltaram para aquela casa não eram os mesmo cinco que foram para o País das Maravilhas. Regina havia deixado, propositalmente, Jefferson para trás. Para salvar o pai, minha mãe havia separado Jefferson, propositalmente, de sua filha.

Blanck 2 - A transformação do malOnde histórias criam vida. Descubra agora