Capítulo 33

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Fiquei parada pensando durante alguns segundos. Pedi um tempo para colocar as ideias no lugar e Zelena não pareceu demonstrar qualquer barreira quanto a isso, pelo contrário, apenas me pediu que não saísse das vistas delas, mas que eu poderia me distanciar um pouquinho, alguns metros, para organizar tudo o que eu estava sentindo naquele momento, com aquela cena, com aquele contexto, com aquela informação e aquela possibilidade.

- Tome. Beba um pouco. – Cora me ofereceu algo.

- Obrigada. Ah ... o que é? – perguntei antes e ingerir, mas sem muita expectativa em relação àquilo.

- Chá. – sorriu ela. – Apenas chá de ervas. Costumava me acalmar então eu carrego sempre um pouco comigo, mesmo ... – ela fez uma pausa e deu uma risada. - ... depois que morri.

Esbocei um sorriso. Achei realmente engraçado, mas minha cabeça não estava processando naquele momento outras informações além de tudo aquilo que acabara de aparecer. Bebi um pouco do chá, mas apesar do gosto não ser ruim, senti o gosto um pouco amargo e realmente não sou muito de sabores amargos, então tomei mais uns três ou quatro goles pequenos, para não parecer mal-agradecida, e devolvi o chá para a minha avó.

Segui caminhando pela floresta e fiquei há cerca de quinze metros de distância da minha tia e da minha avó. Subi em uma árvore, não muito alto, e sentei em um dos galhos baixos, com as costas apoiadas no tronco, como fazia antigamente quando queria ficar sozinha e pensar, mas me sentindo acolhida, pois sentar em galhos nas árvores me lembrava muito o meu pai e como ele tentava ensinar Roland a subir nelas. Peguei as fotos com a minha mãe de dentro do meu bolso e fiquei observando-as, acariciando o papel no local onde estava o rosto dela e lembrando como havia sido importante, relevante e bom estar ao lado dela pelo pouco tempo que fiquei há alguns meses em Storybrooke, quando ela descobriu que tinha uma filha, lembrou de mim e não quis mais me largar, a não ser quando o assunto era ficar com meu pai, que também estava tentando se fazer bem presente durante o tempo que conseguisse me tirar da minha mãe.

Senti uma lágrima bem fina cair pela bochecha e, segundos depois, comecei a passar mal. Um enjoo e uma tontura surgiram de leve e eu já percebi na hora que estava muito confusa, com milhares de coisas na cabeça, pensando em mil possibilidades e provavelmente pelo menos metade dessas tais possibilidades não eram reais ou não eram ao menos possíveis. Fechei os olhos e respirei fundo pelo menos trinta vezes. Nada aconteceu. Não melhorou. Senti um ímpeto enorme de chorar muito mais do que aquela simples lágrima e uma imensa vontade de que aquela viagem toda acabasse. A sensação de estar perto da minha mãe e estar absurdamente longe era enorme e horrível. Eu queria que tudo aquilo acabasse o mais rápido possível, mas não podia desistir. Não agora. Não depois de tudo o que visitamos, não depois de tudo o que passamos, não depois de tudo o que eu passei.

Cada dia ficava mais difícil e agora meu corpo estava reagindo a isso também. Fisicamente eu estava começando a ficar cada vez mais fraca e isso estava destruindo inclusive e principalmente o meu psicológico. Eu sempre fui muito forte, tanto física, quanto psicológica e magicamente falando. Eu sou filha da Regina, uma das mulheres mais poderosas que já existiu. Sou filha do produto do amor verdadeiro entre essa mulher poderosa com um homem que era bom e generoso com quem mais precisava. Isso tudo tinha que significar alguma coisa, e é claro que significava. E eu não iria desistir agora.

Desci da árvore rapidamente e, ao dar dois passos para frente, o enjoo piorou, veio com tudo e eu vomitei. Isso fez com que a sensação de fraqueza e tontura no corpo melhorasse um pouco, mas eu ainda me sentia como se estar ali estivesse me afetando. Coloquei uma das mãos no tronco da árvore, como se me apoiasse nele para me refazer. Novamente fechei os olhos e tentei respirar fundo, me manter em pé e fui me acalmando aos poucos. Após alguns minutos consegui me recompor e fui até Zelena e Cora, que discutiam sobre alguma coisa. Descobri o que era conforme fui chegando perto:

- Temos que ir sim nesse evento. Ainda hoje. – Insistia Cora. – É muito importante, Zelena.

- Podemos ir sim, mas não hoje. Hoje já tivemos emoções demais. – respondeu Zelena. – E afinal, qual é a sua pressa para ir hoje? Vamos cair em um buraco do tempo se não formos agora, por acaso?

- Acha que Blanck não consegue aguentar?

- Não sei nem se eu aguento, mamãe.

- Não seja ridícula, é claro que você consegue. E ela também. Ela é uma Mills. Nossa família é forte e poderosa e pode aguentar qualquer coisa. Temos que ir hoje, Zelena.

- Hoje não vamos a lugar nenhum, mamãe. Assim que Blanck voltar, vamos voltar para casa. Ou ... para o nosso quartinho no castelo. – finalizou Zelena.

- Onde vocês querem ir? – perguntei.

- Temos que ir até um evento muito importante. Tão importante quanto esse que acabamos de ver. – Cora começou e eu praticamente já quis passar mal de novo, porque se passasse por algo tão forte quanto o que passei agora... na verdade não sei nem se eu queria aguentar, essa era a verdade.

- Que evento é esse? – perguntei novamente, pois até agora não tinham me dado a resposta que eu queria.

- Cora quer que visitemos o momento no qual a Rainha Má ameaçou Snow e Charming de acabar de vez com a felicidade deles. Naquele dia que ela apareceu no casamento dos dois e já estava com a ideia de lançar a Maldição das Trevas. – explicou Zelena, mas olhou fixa e severamente para a minha avó ao finalizar. – Mas eu já falei que hoje não vamos mais a lugar nenhum. E fim de discussão.

- Concordo com Cora que é um evento muito importante e quero visitá-lo sim. – comecei e Zelena arregalou os olhos de maneira tão assustadora para mim que precisei apressar o que já tinha em mente e, pela rapidez da reação dela, acho deveria ter dito com mais rapidez. – Mas não hoje. Hoje vamos para casa.

Com essas palavras acabei tirando o imenso sorriso que tinha se instalado repentinamente no rosto de Cora e se tornou uma expressão de frustração com irritação. Não que eu me importasse, ainda mais naquele momento. Enquanto Cora revirava os olhos, sem que eu me importasse é claro, e tia Zelena respirava absurdamente aliviada, sentenciei:

- Vamos embora.

Blanck 2 - A transformação do malOnde histórias criam vida. Descubra agora