Capítulo 29

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Nas viagens que se seguiram, minha tia ficou de olho em mim praticamente o tempo inteiro, cada segundo, cada situação, cada expressão facial que indicasse qualquer coisa. Para ser honesta eu estava aliviada, pois o que quer que estivesse acontecendo comigo, eu queria que parasse, só não sabia como, e ninguém melhor do que Zelena para entender o que poderia estar se passando e também me ajudar a fugir disso. Eu confiava 100% nela. Também confiava em Cora, afinal ela tinha se mostrado alguém que vinha nos ajudando muito desde que toda aquela bagunça começou, mas digamos que Zelena tinha bem mais a ver comigo do que minha querida avó.

Visitamos lugares bem ... interessantes. Por que eu não estava autorizada, por mim mesma, a dizer que foram viagens legais, sendo que todas elas tinham minha mãe fazendo maldades e o fato de eu gostar de tudo aquilo, com certeza não era algo que eu aceitava com muita facilidade.

Uma das viagens dos dias seguintes que mais me marcou foi quando Zelena nos levou para ver a história de Ariel, a sereia que queria ter pernas humanas para ficar com o príncipe por quem se apaixonou e ele também havia se apaixonado por ela.

Zelena havia passado por aquela lembrança algumas vezes para pesquisar um pouco sobre a raiva que a Rainha Má tinha de Snow e sabia que provavelmente em um desses episódios Regina acabaria sendo pega em alguma armadilha pela enteada, como realmente aconteceu mais para frente. Então conseguimos presenciar várias situações para entendermos a história de diversos ângulos.

Fomos até o momento no qual a Rainha Má assistiu a primeira vez que Snow encontrou Ariel, que a salvou de se afogar quando Snow estava fugindo dos guardas que queriam levá-la à Rainha Má, e por falta de ter para onde ir, para onde correr, pulou no mar apenas para não ser capturada por eles, e Ariel a salvou e se apresentou.

Também pudemos ver quando Ariel e Snow foram ao baile do príncipe, quando a Rainha Má enganou Ariel, se passando por Úrsula, e entregando-lhe um bracelete que lhe dava pernas humanas, mas que na verdade seria uma troca, pois enquanto Ariel tinha pernas humanas, alguém teria que ficar com sua cauda, e a pessoa escolhida havia sido Snow. Ariel pensou estar ajudando Snow a fugir de Regina, pois com a cauda ela poderia nadar para outros reinos e escapar para sempre daquele lugar, assim não seria mais perseguida pela rainha com sede de vingança.

Quando descobriram que na verdade era tudo um plano de Regina, Ariel, arrependida do que tinha feito após ser enganada, atacou Regina e ajudou Snow a fugir dali pelo mar, indo junto com ela. Com raiva do que Ariel havia feito, quando ela foi até o príncipe dizer que aceitava seu convite para ir com ele em sua expedição e também para contar a verdade a ele sobre ela ser uma sereia, Regina retirou sua voz no momento em que ela estava na água gritando pelo príncipe, o que impediu o príncipe de vê-la e ouvi-la. Desde aquele momento, Ariel havia ficado sem voz e muito infeliz por ter perdido sua chance, seu príncipe e sua voz. Todas lembramos que Regina só devolveu a voz de Ariel muito tempo depois, durante o tempo que estavam na Terra do Nunca, quando precisou de um favor de Ariel e, dessa forma, além de devolver sua voz, também lhe entregou o bracelete que lhe dava pernas. Porém, desta vez, não havia a troca com ninguém. Ariel poderia ter pernas sempre que estivesse usando o bracelete sem que ninguém precisasse ficar com sua cauda.

Acho que ter presenciado o início de toda essa história me impressionou das duas formas esperadas: positiva e negativamente. Negativamente porque além de minha mãe ter feito mal, mais uma vez, para Snow, também enganou Ariel e, quando viu que não conseguiu o que queria, também impediu diretamente a felicidade de Ariel com o príncipe. E positivamente, pois novamente alguma maldade de minha mãe havia me deixado empolgada para assistir e, durante e após assisti-la, eufórica em vê-la, linda e deslumbrante, realizar seus feitos contra mais uma pessoa. Ou, no caso, uma sereia.

É claro que eu reportava todos os meus sentimentos e sensações ruins para Zelena, para que ela e eu pudéssemos monitorar e tentar entender o que estava acontecendo comigo. Não sei se adiantava muita coisa, mas pelo menos estávamos percebendo todos os movimentos que eu pudesse dar em direção a qualquer besteira. E achei que ficar de olho em tudo isso era muito importante. E foi mesmo, mas só descobriríamos um pouco mais para frente.

- Pensando em Ariel? – perguntou Zelena.

- Sim. – respondi, sinceramente.

- Em qual parte? Em ter sido ruim sua mãe tirar a felicidade dela ou em ter sido bom ver isso acontecer?

- Ambos. – mantive a sinceridade, achei melhor.

- Sobre o que vocês estão falando? – perguntou Cora, chegando de surpresa.

- Onde a senhora esteve? – perguntei, rapidamente mudando de assunto e realmente querendo saber a resposta.

- Fiquei com fome depois de vermos sua mãe lidar com peixes agora há pouco. – ela respondeu e, antes que eu pudesse fazer qualquer cara de indignação, começou a rir, mostrando que era uma brincadeira. Ri junto. Dessa vez não era porque achava legal que Ariel fora privada de sua felicidade pela Rainha Má, mas simplesmente porque me deu vontade de aliviar toda aquela tensão que estava presente, quase que tão intensa que estava se tornando palpável, no quarto. E não era toda hora (nem todo dia) que Cora fazia piadas para aliviar a tensão. Então vamos aproveitar os pequenos momentos disso.

Percebemos que estávamos mesmo com fome e que encerraríamos o dia apenas com aquele evento, afinal havíamos presenciado vários momentos (de uma mesma história), então parecia que tínhamos feito pelo menos três viagens e não apenas uma.

Aquilo me deu espaço para relaxar meuspensamentos e sentimentos, o que foi ótimo já que, quanto mais longe eu ficavados eventos nos quais minha mãe fazia maldades contra alguém, mais calma enormal eu ficava. Digo "normal" porque o meu estado normal com certeza não eraquerer ver a Rainha Má em ação, então eu considerava essas minhas novassensações bastante anormais. É uma pena que nunca durava muito tempo, poissempre tínhamos que sair em viagem para o próximo evento. Afinal, era para issoque estávamos ali. Mas até quando? Até quando estaríamos as três ali? Atéquando eu estaria ali sem surtar e fazer alguma besteira (sim, eu estavaimaginando que eu poderia com certeza fazer qualquer besteira, e provavelmenteisso não demoraria muito tempo)? Até quando aquelas viagens me colocariamnaquela situação? Até quando me sentiria feliz ao ver maldades sendo cometidaspela minha própria mãe contra as pessoas, pessoas boas que não mereciam? Atéquando ficaríamos viajando sem achar a resposta que tanto procurávamos? Atéquando manteríamos o status de que minha mãe não poderia ser feliz de verdade?Até quando eu ficaria longe da minha mãe apenas vendo-a de longe? Até quando?

Blanck 2 - A transformação do malOnde histórias criam vida. Descubra agora