Capítulo 21

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Chegamos ao "dia seguinte", mas a precisão de Zelena desta vez não fora assim tão boa, pois chegamos bem no momento no qual Jefferson se despedia da filha, Grace. Eu não sabia o porquê, mas ele estava pedindo que ela fosse passar a tarde fora, claramente e implicitamente implorando à filha que não chegasse perto da casa durante às próximas horas. Quase fomos vistos, principalmente por ela, que já estava saindo pela porta, desanimada e preocupada com o pai, enquanto corríamos para trás da pequena casa.

- Por que ela está saindo? – perguntei à Zelena, sussurrando. – Minha mãe não vai fazer mal à ela, não é? – acho que na minha voz estava obvio meu tom triste e preocupado, mas com certeza do jeito que arregalei meus olhos, a mensagem ficou ainda mais clara e Zelena respondeu, rapidamente tentando me tranquilizar.

- Não, sua mãe não fará mal à ela ... pelo menos não diretamente. – sussurrou minha tia de volta para mim. Mas essa conclusão de frase não me trouxe muita esperança. Menos ainda me trouxe qualquer segurança de que o que tinha por vir seria algo animador. Mas, afinal, eu não tinha ideia do motivo pelo qual eu estava achando que alguma parte daquilo poderia ser boa.

Pouco tempo depois minha mãe chegou, entrou na casa e os dois já se encontraram para dar início à uma jornada nada animadora da parte dele, mas que parecia cheia de excitação da parte dela. Ele usava o mesmo sobretudo de cor alaranjada escura do dia anterior e o mesmo lenço. Não tinha se dado ao trabalho de pentear o cabelo, estava bem desarrumado na verdade. Mas convenhamos, por que mesmo ele estaria arrumado quando claramente estava sendo arrastado para algum lugar, sendo obrigado a colaborar com algum plano nada agradável da Rainha Má? Até eu estaria nem aí para os frizz no cabelo e se alguma peça da minha roupa estaria rasgada ou amassada naquele momento. Tanto faz. O que mais importava ali era fazer o que ela mandasse e rezar para sair vivo e inteiro de onde quer que fosse que estivessem indo.

Só para variar ela estava linda. Um vestido colado até a cintura e que a parte da saia comprida se enchia na região do quadril, de cor preta tão linda e brilhante que muitas vezes parecia que o vestido era preto misturado com prateado. Por baixo, uma de suas calças pretas de couro. O batom vinho de sempre combinava perfeitamente e a fazia parecer estonteante. Como eu disse: linda, só para variar.

Estávamos assistindo toda a cena por fora da janela, tentando ouvir o que dava ou até ler lábios para entender o que estava acontecendo, quando Jefferson pegou o chapéu com o qual normalmente viajava e fez menção de jogá-lo no chão, para abrir seu portal.

- Blanck! – chamou tia Zelena e eu pulei e quase me desequilibrei, levei o maior susto porque não estava esperando que ela quisesse bater papo em um momento que parecia tão crucial como aquele.

- O ... que ... foi? – eu realmente tinha me assustado com o grito-sussurrado repentino dela.

- Lembra aquele feitiço que treinávamos na época que estávamos juntas na Floresta Encantada? Aquele feitiço do elástico?

- Sim! Lembro sim. Você quer que eu lance aquele feitiço ... agora? – fiquei um pouco surpresa, mas não me demorei muito nesse sentimento de choque, pois provavelmente a resposta seria "sim" e eu tinha que me preparar para lançar o feitiço que ela pedira.

- Sim. – ela respondeu, conforme esperado. – No momento que eu der o sinal, você lança. Se prepara. Será nos próximos segundos.

- Alguma razão para você não lançar o feitiço e ela sim? – Cora quis saber e eu também olhei para Zelena para ouvir a resposta.

- Simples. – ela olhou para Cora e fez uma expressão de explicação óbvia. – Blanck sempre foi muito melhor do que eu lançando esse feitiço. – eu sorri, era verdade e, naquele momento, me senti tranquila em estar ao lado de Zelena.

Voltei minha atenção novamente à cabana e o chapéu de Jefferson já estava no chão, rodopiando loucamente, se estendendo cada vez mais, abrindo um portal para onde quer que eles estivessem indo. Ele lembrou Regina que a quantidade de pessoas que entrasse pelo portal do chapéu, deveria ser exatamente a mesma quantidade de pessoas que voltaria daquela viagem. Zelena achou que seria uma boa hora para fazer uma piada:

- Ah é verdade. A quantidade que vai tem que ser a mesma quantidade que volta. Que pena, eu tinha pensado em deixar mamãe onde vamos.

Precisei tampar a boca com uma das mãos ou teria gargalhado inesperadamente. Cora revirou os olhos e fez uma careta. No segundo que me recuperei do riso, Zelena sussurrou alto o suficiente apenas para que Cora e eu a ouvíssemos:

- Agora!

Ergui uma das mãos e fechei os dedos em um movimento brusco, como se estivesse puxando uma corda. Instantaneamente, como se um elástico tivesse nos puxado com máxima força, nós três fomos parar a centímetros de distância de Jefferson e Regina, que naquele momento pulavam dentro do chapéu, indo para algum lugar onde só eles e Zelena sabiam.

Tia Zelena se referiu ao feitiço como elástico porque, além puxar a pessoa (ou naquele caso, as três pessoas) para o lugar onde apontávamos, também jogava de volta exatamente na mesma proporção e rapidez. Dessa forma, raramente a pessoa de quem chegávamos perto, realmente nos via ou percebia que tínhamos estado bem ao lado dela há menos de um segundo atrás.

Aquela fora uma excelente ideia, pois no segundo que todos chegamos no tal destino daquela viagem, fomos as três (Zelena, Cora e eu) jogadas bem longe de Jefferson e da minha mãe, sem que eles nem ao menos notassem que viajamos juntos através do chapéu.

Mesmo sendo jogada metros para trás com força, consegui me equilibrar e segurar Cora pelo braço para que ela não caísse de costas no chão (sinceramente, dessa vez eu não ia conseguir segurar a risada). Estávamos em um enorme salão circular, fechado e com muitas portas ao redor. Milésimos de segundos após colocarmos os pés no chão, Zelena puxou um feitiço que nos manteria invisíveis por alguns segundos. Ótima ideia! Obrigada mesmo, tia Zelena.

Jefferson foi em direção a uma das portas e passou por ela logo depois de olhar para Regina e dizer que aquela era a entrada correta, convidando-a com os olhos a se juntar a ele. Zelena retirou o feitiço que nos mantinha invisíveis e nós três passamos pela mesma porta logo em seguida.

Eu estava realmente preparada para dar os parabéns pela forma sensacional com a qual Zelena nos fez chegar ali. Mas quando abri a boca, não consegui falar uma palavra sequer. Zelena estava serena e tentando prestar atenção em tudo (alguém tinha que ser o adulto responsável naquele momento) enquanto eu estava em choque, sem acreditar no que estava vendo e com medo de verbalizar onde com certeza estávamos. Enquanto isso, ao reconhecer o local ao seu redor, é claro que vovó estava mais do que sorridente, estava vibrante e eufórica, pois ela tinha dominado aquele lugar durante muito tempo.

Tínhamos acabado de chegar ao País das Maravilhas.

Blanck 2 - A transformação do malOnde histórias criam vida. Descubra agora