Capítulo 20

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Quando minha mãe chegou em sua carruagem, ou melhor dizendo (como sempre), quando a Rainha Má chegou, vistosa e extraordinariamente impecável, aguardou que um de seus homens abrisse a porta da carruagem para que ela descesse, com seu semblante independente e impiedoso.

Alguns pequenos animais estavam ali por perto e quando ela pisou seu primeiro pé na estrada em frente à cabana de Jefferson, todos correram disfarçadamente para a floresta. É claro que ela nem deu atenção, nem ao menos percebeu, afinal não prestava atenção em nada que não estivesse conectado em seu foco daquele momento.

Seus trajes eram impecáveis, para variar. Um lindo vestido colado ao corpo desenhando-a muito bem e enaltecendo ainda mais seus sutis e rápidos movimentos. Quase pude distinguir a cor do vestido, mas nesse momento ela parou por um instante e parecia que se viraria justamente para o local onde estávamos Zelena, Cora e eu. Então me escondi atrás de um dos enormes troncos de uma das árvores, que estava cheio de musgo e bem escorregadio, tive que tomar cuidado. Imagina se eu tomo um tombo bem na frente da Rainha Má? Além do mico, provavelmente ainda seria presa pela imensa falta de noção.

"Se eu tivesse que subir nessa árvore com certeza nos livraríamos de sermos capturadas pela minha mãe." – pensei – "Mas sermos presas talvez não fosse assim tão mal, pois poderíamos muito bem presenciar e até talvez aprender alguns de seus feitiços e poderes mais legais como prender alguém em uma armadilha, jogar a pessoa longe e até mesmo como ..." – parei de pensar imediatamente. Tomei um enorme susto. Eu estava mesmo pensando em como era "legal" ver minha mãe praticando magia das trevas? E pior de tudo, estava considerando aprender algumas dessas coisas. Já tinha até alguns exemplos de possibilidades passando na minha mente.

Interrompi meus pensamentos muito abruptamente, pois esses pensamentos nem ao menos deveriam estar ali. Eu não tinha pensamento assim desde ... aliás, eu nunca tinha tido esse tipo de pensamento. Que coisa mais estranha eles aparecerem na minha cabeça inesperadamente e sem contexto. Opa, até tinha contexto sim. Estávamos olhando para minha mãe, que naqueles tempos era a Rainha Má sem nenhuma piedade e prestes a presenciar um de seus atos de maldade. Na verdade, eu nem sabia, mas muito provavelmente era isso mesmo. Afinal, por que então Zelena nos traria para este lugar, não é mesmo? Ou será que ela estava nos enganando de alguma forma?

Parei novamente. Desta vez realmente me assustei. Eu estava mesmo tendo pensamentos de dúvida e desconfiança em relação à minha tia, logo depois de ter pensado em aprender as maldades da Rainha Má? Algo estava realmente muito errado naquele local ou naquele momento ou sei lá em que, mas que estava errado, estava e muito.

Mas não tive muito tempo para parar e pensar no que poderia ser, pois me foquei em assistir e entender realmente toda aquela cena. E naquele momento, Regina entrou na cabana de Jefferson, sabendo que ele não estava e nem a filha, para aguardá-los pelos próximos minutos. Tinha certeza de que não passariam mais do que alguns minutos. A precisão da minha mãe sempre foi incrível, beirando a perfeição. Então imaginei que aguardaríamos muito poucos pelo que tinha por vir. E eu estava certa.

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Jefferson e Grace chegaram poucos minutos depois que a Rainha Má entrou na cabana e que me escondi atrás da árvore escorregadia (aquela mesma a qual me imaginei escorregando e levando um belo tombo para aproveitar o momento e passar vergonha na frente da minha mãe).

A pequena Grace estava sorridente e animada chegando com Jefferson. Estava vestida com uma capa muito bonita, toda marrom clara com folhas de árvores e flores desenhadas na capa. Parecia muito feliz. E ele com um lenço amarrado no pescoço e um sobretudo de cor alaranjada escura que parecia quente e confortável.

Quando chegaram perto da casa e viram a carruagem, Jefferson disse à filha quem estava na casa deles e pediu que ela não entrasse com ele. Pude ver a expressão de confusão no rosto dela ao mesmo tempo que via a expressão de angústia no rosto dele. Ela foi para a floresta novamente enquanto ele se dirigia à cabana, para encontrar Regina.

Ao chegar à soleira da porta, respirou fundo algumas vezes e pensou em não entrar. Mas como? Afinal alguns guardas esperavam do lado de fora e já o tinham visto. Enquanto ele decidia se entraria ou não, qual seria a melhor estratégia, enfim, o que fazer naquele momento, a voz da Rainha Má ecoou do lado de dentro da cabana, chamando pelo nome dele, mostrando que sabia que ele estava ali. Desolado e sem um pingo de vontade, ele entrou no casebre devagar.

****

Como minha mãe costumava ser rápida e direta em seus assuntos e compromissos, a conversa dos dois e sua permanência na casa fora muito breve. Cerca de cinco minutos depois ela já estava subindo os degraus de sua carruagem, sorridente. Aparentemente tinha conseguido o que quer que viera buscar com Jefferson. Segundos depois já estava partindo estrada adentro, deixando Jefferson sozinho na casa.

Pensei por poucos segundos sobre o porquê estávamos ali, já que não presenciamos nada do que aconteceu na cabana (Zelena tinha mandado que ficássemos observando do lado de fora até minha mãe sair). Não esperei muito pela resposta. Zelena parecia que li pensamentos. Será?

- Sei que vocês devem estar se perguntando por qual motivo estamos aqui. – ela começou – Mas é por algo simples: eu gostaria que vocês pudessem ver a cena completa, que começou nesse dia e finalizou no dia seguinte. Regina vai dar sua cartada "amanhã". Então que tal uma mini viagem até esse "amanhã" para vermos o desfecho de tudo? – ela finalizou.

Cora não estava com um semblante muito positivo, mas convenhamos que ela não é a pessoa mais sorridente que já existiu, não é? Curiosamente ela olhava muito para mim. Ou seria coisa da minha cabeça? Eu esperava que sim.

Acenei positivamente para Zelena, as três demos as mãos e viajamos quase que tranquilamente até o dia seguinte. Eu estava praticamente me acostumando a essas viagens com certa facilidade. Não sei se isso era bom, ruim ou neutro, mas vamos imaginar entre o bom e o neutro. Otimismo era tudo naquele momento.

Blanck 2 - A transformação do malWhere stories live. Discover now