Capítulo 38

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Eu não sabia se ria ou se chorava. Se respirada ou se prendia a respiração. Se deixava as lágrimas rolarem ou se segurava (essa parte era a mais difícil). Se falava ou se ficava quieta. Se ficava parada ou se me mexia. E ele ali, parado, tranquilo, sorrindo bem na minha frente. Dizendo meu nome. Dizendo que sabia quem eu era. Como se ele estivesse esperando por mim. Como se estivesse esperando a minha chegada, meu chamado, que eu o invocasse para falar com ele. Eu me senti até um pouco atrasada, como se o tivesse deixado esperando. Meu avô. Pai da minha mãe e alguém que eu acredito que teria mesmo me amado muito. Meu querido avô, Henry. Ele sabia quem eu era.

- É claro que eu sei quem você é, Blanck. Na verdade, eu só descobri sobre você depois que eu morri. Mais precisamente quando sua mãe me ajudou a seguir em frente. Isso aconteceu pouco tempo depois de quando você a conheceu. Para você isso aconteceu há apenas alguns meses, mas eu venho de um momento onde o futuro já aconteceu e ela já me visitou no submundo, junto com seu irmão, Henry.

- Submundo? Vovô, o que o senhor estava fazendo naquele lugar? – perguntei, preocupada com ele, pois conhecia a fama do submundo de ser um local onde as pessoas ficam presas por não seguirem seguir frente justamente por terem algum assunto mal resolvido.

- Eu ainda precisava ajudar sua mãe com certo assunto. Felizmente ela esteve comigo, me ajudou a encontrar o que precisávamos e logo depois disso eu já consegui sair de lá.

Aquilo parecia tão estranho, tão "não verdade". Como poderia meu avô estar preso ao submundo? Mas quando ele trouxe a informação de que ainda precisava resolver algum assunto com a minha mãe, fiquei mais aliviada por ter sido resolvido e ele ter sido bem sucedido em se retirar de lá. Não consegui tocá-lo e nem tentei, justamente pela tristeza que me daria se eu tentasse e não conseguisse. Se eu tentasse tocá-lo e acabasse como passando a mão em uma fumaça como se ele fosse apenas um fantasma. Acho que aquilo me deixaria muito triste, não poder tocar nem abraçar meu avô que depois de muito tempo consegui conhecer.

Meu avô inclusive deu as boas-vindas à minha tia, dizendo que sabia que ela e minha mãe começaram a ter uma boa relação justamente quando foram ambas parar no submundo, claro que por motivos diferentes, segundo eles mesmos comentaram. Ela sorriu e agradeceu as palavras dele. Tudo estava calmo e parecia tão ... normal. Eu estava mais aliviada e tranquila para pedir sua ajuda com o que vinha acontecendo comigo. Na verdade, eu estava lá para tentar entender tudo aquilo e pedir conselhos a ele. Minha ideia a respeito surgiu justamente de meu avô ter visto minha mãe quando ainda era uma moça boa, se tornar cada vez mais rancorosa e amarga, e finalmente acabar como a Rainha Má. Como ele tinha visto toda essa transição, era uma das únicas pessoas que talvez pudesse me ajudar a compreender o que quer que estivesse acontecendo comigo, pois de certa forma era desse jeito que eu me sentia, como se estivesse crescendo algo ruim dentro de mim, ou pior, alguém má.

Não achei necessário apresentar Cora ao meu avô (por que será?), afinal eles se conheciam e muito bem. Dessa forma, simplesmente respirei fundo e parti para o que eu precisava saber, entender, e comecei a perguntar-lhe a respeito do meu problema. Mas foi nesse momento que tudo realmente começou a se desenrolar. Da pior maneira possível.

- Desculpe, Blanck. Mas eu não conheço muito de magia assim como vocês. – ele começou, com um sorriso fraco, olhando de mim para Cora. – Por isso não tenho ideia de como funcione se transformar em outra pessoa.

Que conversa estranha. Se transformar em outra pessoa? Mas do que ele estava falando? Ainda mais olhando para Cora. E ficou ainda mais estranho quando ele questionou:

- Quem é essa? – ele disse apontando seu olhar para Cora. Eu olhei instantaneamente porque achei que tinha alguém ali ao invés dela. Achei que alguém tivesse acabado de chegar e eu não tinha visto, não tinha percebido. – Quero dizer, quem é realmente ela? – ele perguntou calmamente.

- Do que o senhor está falando, vovô? – eu sorri e de canto de olho pude ver Zelena fazer uma expressão de confusão junto com surpresa junto com apreensão, como se estivesse se preparando para uma bomba. Bomba essa que nem eu nem ela fazíamos a menor ideia de qual era e muito menos estávamos preparadas para o que tinha por vir. – Esta? Esta é Cora, vovô. Sua ... sua ex esposa. Não se lembra dela?

Ele ficou extremamente tenso e praticamente mudo. Inclusive a sensação que dava era que ele tinha parado de respirar (o que não fazia sentido já que nem vivo ele estava, então é claro que não estava respirando). Levou cerca de sete ou oito segundos até que ele se pronunciasse, angustiado e um pouco assustado, sem que eu soubesse o porquê:

- Essa ... não ... é ... Cora.

- Do que o senhor está falando? Como não é Cora? É sim, vovô. Olhe direito. – eu não estava entendendo nada. Ele lembrava-se dela, mas não a estava reconhecendo? Era isso? Eu estava totalmente perdida. – Eu sei que ela teve permissão para sair de onde ... bom, de onde quer que as pessoas estejam depois que morrem ... mas é ela, sim. Olhe novamente. É ela. – eu insisti.

- Não, Blanck. Essa não é ela. Cora está comigo onde nós estávamos. Eu acabei de deixá-la lá para poder vir falar com você. Essa ... – ele apontou para a Cora que estava ali parada bem atrás de mim. - ... essa não é a Cora, mãe de Regina e de Zelena. Essa não é a verdadeira Cora.

Blanck 2 - A transformação do malWhere stories live. Discover now