Capítulo 41

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- Todas as poções para não envelhecer ... todos os chás para acalmá-la ... todos os chás para fazê-la se sentir melhor ... todas as poções, todas elas, tudo tudo tudo ... – Zelena estava prestes a surtar enquanto eu já tinha surtado há muito tempo, só não tinha deixado transparecer, sabe-se Deus como.

- Sim, todas as poções, todos os chás, tudo o que dei a ela durante todo esse tempo ajudou no processo para chegarmos a esse momento ... glorioso. – confirmou Cora.

- Blanck comentou uma ou duas vezes que as poções pareciam ter um gosto diferente. Eram mesmo as poções para não envelhecimento ou eram outras que você estava preparando e entregando a ela? – perguntou Zelena.

- Um pouco das duas coisas. Eram as poções de envelhecimento, sim. Mas eu as adulterei. É claro que elas tinham que ser as poções certas para o não envelhecimento dela, pois eu não iria escorregar neste ponto e deixá-la envelhecer, dessa forma ela descobriria facilmente que as poções não estavam fazendo efeito e eu não poderia deixar isso acontecer. Mas estavam todas com alguma coisa a mais. Alguns ingredientes a mais. Exatamente os ingredientes que fazem parte da poção que separou a Regina da Rainha Má. Só precisei ter paciência e esperar um pouco mais, pois as doses que eu dava para ela tomar era bem menores do que a poção verdadeira, mas com isso Aileen já estava se preparando por dentro e isso com certeza me ajudou e ainda vai me ajudar bastante.

Antes que Zelena pudesse digerir tudo aquilo e perguntar "como a Aileen teria percebido e estaria se preparando para tudo isso quando na verdade ela era apenas eu", eu já tinha entendido que todos aqueles pensamentos dentro de mim, voando e querendo florescer dentro da minha mente, na verdade eram essa parte de mim que não conseguia se soltar, se desprender e nem ao menos se manifestar. As poções permitiram que ela florescesse persuasivamente de maneira agressiva, como se com uma tesoura ela cortasse todas as amarras às quais ela estava presa a mim durante este tempo todo por conta do feitiço da minha mãe. E finalmente Aileen, agora com seu próprio corpo, estava livre. Estávamos todas chamando-a de Aileen pelo óbvio: como ela era eu, mas em uma versão totalmente diferente e com certeza cruel, o que eu não era, foi automaticamente chamada pelo meu primeiro nome, Aileen, que quer dizer "majestosa, majestade" – pois Blanck é um nome que significa "claro, puro", o que com certeza estava bem longe de ter conexão com a personalidade e o caráter da minha, agora, "irmã gêmea". É como se ela fosse meu alter ego do mau, o que já era bastante assustado por si só.

- Finalmente posso te conhecer. – sorriu Aileen para mim.

Foram as primeiras palavras dela, me olhando com aqueles enormes olhos pretos, que pareciam vazios e ao mesmo tempo intensos e preenchidos com pura escuridão. Ela realmente captava muito bem a expressão "sorrir com os lábios e com o olhar". Seu olhar era penetrantemente assustador naquele momento e parecia tão frio que me arrepiei e estremeci fisicamente com o vento gelado que parecia estar saindo de dentro dela e vindo pairar ao meu redor.

Engoli em seco e respirei fundo, eu não podia deixar aquela situação me dominar. Meu mal-estar passara milagrosamente. Aliás, é claro que não fora milagrosamente, pois o "mal-estar" havia deixado meu corpo e agora tinha um corpo só dele, bem na minha frente, me encarando, me afrontando pessoalmente.

Ela tinha preso um rabo de cavalo alto e seu cabelo preto bem comprido descia por cima da parte da frente de seu ombro esquerdo. Batom vinho avermelhado cor de sangue com um delineador preto desenhado perfeitamente. Usava um vestido apertado na cintura de cor azul bem escuro culminando em alguns pontos vinho que pareciam perfeitas manchas de sangue e se uniam ao azul de maneira elegante e luxuosa. Um colar preto e prata com pontas finas e perigosas cobria seu pescoço e ainda descia um pouco. Ela estava absolutamente deslumbrante. E eu parei cerca de dois a quatro segundos para, internamente, me revoltar sobre como as roupas, maquiagem e apresentação pessoal de pessoas más como Aileen e a Rainha Má são absolutamente impecáveis. Para ser má e cruel é pré-requisito ser linda também? Ah faça-me o favor, que palhaçada. Ok, voltei após esses poucos segundos de devaneio para encarar a realidade, que não era nada boa.

- Eu gostaria de poder dizer o mesmo, mas eu nem sabia que essa era uma possibilidade. E confesso que mesmo que soubesse, não teria assim tanto interesse nesse nosso encontro. – respondi diretamente.

Eu estava enfurecida. Enfurecida por ter passado por tudo aquilo a força, enfurecida por ter sido enganada, enfurecida por agora ter que enfrentar minha avó que não era minha avó de verdade e mais essa criatura do mau (dessa vez me refiro à Aileen) que vinha de brinde com a minha cara estampada em uma magnífica maquiagem. Mas depois que todo o susto passou (e teve que passar bem rápido, porque a situação já era ruim, imagine se eu não digerisse tudo rapidamente, teria sido bem pior, com certeza), eu percebi que não tinha medo delas e nem teria. Nem ao menos de Aileen, que como eu disse me conhecia muito bem.

- Agora que tal pensarmos em uma maneira de nos conhecermos melhor? – eu perguntei, olhando-a com meu melhor sorriso maquiavélico, que percebi ser muito bom naquele instante, provavelmente derivado da raiva que eu estava sentindo.

Aileen entendeu que eu a estava ameaçando e, sem hesitar nem ter medo algum, fez menção de dar um passo à frente para me enfrentar. Mas foi imediatamente interrompida por Cora.

- Não se mexa! – Cora gritou e, vendo o semblante confuso e levemente indignado de Aileen, se apressou em explicar. – Ela só está tentando te atrasar, nos atrasar. Quer dar tempo a ela mesma e a Zelena de formar um plano que nos detenha. Precisamos ir. Agora!

Minha avó (resolvi assumi-la desse jeito) era muito inteligente, muito esperta e astuta, o que dificultava (e ainda dificultaria) muito a minha vida, mas era apenas uma questão de me adaptar a isso, pois eu e claramente tia Zelena também éramos.

- Estou tão ansiosa para te ver novamente. Me prepare um chazinho na próxima vez. Assim poderemos nos conhecer melhor, como você parece querer tanto. – Aileen respondeu, inclusive mencionando de maneira debochada os chás que Cora havia me dado durante meses e teria culminado naquele contexto no qual todos nos encontrávamos.

Sem que pudéssemos pensar nem ao menos uma vez no que fazer, Aileen se virou de maneira majestosa para Cora, fez um movimento leve e ágil com uma das mãos e desapareceu com ela em meio a uma fumaça vinho avermelhada, exatamente como sangue em formato gasoso.

Me culpei um pouquinho quando isso aconteceu,pois como eu a conhecia bem, sabia que seria exatamente o que ela faria, poisseria exatamente o que eu faria. E assim ambas desapareceram de nossas vistas,deixando para trás uma Blanck irritada e ansiosa por uma ação, uma Zelenaabsurdamente perplexa e também muito furiosa e um Henry confuso e assustado comtudo o que acabara de presenciar. O único sentimento que nós três compartilhávamosnaquele momento, era o desejo avassalador de desenrolar e resolver aquelecenário ilógico e preocupante que havia se formado bem na nossa cara.

Blanck 2 - A transformação do malOnde histórias criam vida. Descubra agora