Capítulo 1 - Um Dia Chuvoso E Outro Ensolarado

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11 de setembro de 2011



Para Quinn,

Eu me sinto estranha fazendo isso. Escrevendo para alguém que não conheço — e que provavelmente nunca irei conhecer —, na esperança de criar um vínculo que não possuo nem mesmo com pessoas que vivem ao meu redor. Suponho que isso diga muito sobre mim. Ou sobre eles. Não sei ao certo. Ultimamente, tudo parece estar bem confuso. Como se eu não conseguisse mais distinguir a linha entre o certo e o errado; entre realidade e sonho. Devo estar soando maluca. Mas, em minha defesa, todos nós somos um pouco loucos. Alguns são apenas mais do que outros.

Perdoe-me por não estar fazendo sentido algum. Devo tê-la confundido no primeiro parágrafo com minhas divagações, e tentarei ser mais clara daqui para frente, mas não posso fazer promessas. Minha mente gosta de viajar para vários lugares ao mesmo tempo, e eu acabo sempre falando demais. Ou, no caso, escrevendo demais. Permita-me, então, começar de novo.

Olá! Meu nome é Rachel Berry, e eu tenho dezesseis anos de idade. Não sei por que dizer isso é importante — a idade, não o nome —, já que não faz a menor diferença para nós duas, que estamos tão longe uma da outra quanto duas pessoas podem estar. Não me refiro à distância física. Até porque nem ao menos sei onde você está servindo. Suponho, entretanto, que seja em algum lugar bem distante. Distante o suficiente para que a faça sentir saudades de casa, e a querer se comunicar com uma adolescente que vive todos os dias na cidade onde nasceu, ao lado dos pais, e possivelmente sequer é grata pelo tempo que pode passar com eles. Uma garota que não deve nem apreciar realmente o significado de se estar em casa.

Em parte, você está certa. A cidade onde moro é insignificante para mim. Não vejo a hora de deixa-la para trás; de sair para o mundo, conhecer pessoas com mente mais aberta. Pessoas que não vão fazer eu me sentir insegura em meu próprio lar. Espero que você não tenha uma visão tão ruim de mim por querer ir embora. Mas, desde que me lembro, esta cidade não tem sido nada além de cruel comigo, e com a minha família.

Você deve estar se perguntando o motivo. Acho que podemos colocar logo isto em "pratos limpos". Se vamos mesmo nos comunicar por muito tempo, é melhor que você saiba minha história — ou pelo menos parte dela —, de forma que você pode escolher querer prosseguir em correspondência comigo, ou não. Então, aqui vai uma versão resumida: meus pais se casaram porque minha mãe ficou grávida de mim. Foi coisa de uma noite. Entretanto, uma vez que a gravidez foi descoberta, tanto a família de minha mãe, quanto a de meu pai, insistiu para que o casamento acontecesse. As duas tinham motivos diferentes, embora. A da minha mãe, para que a família não ficasse mal falada; a do meu pai, porque eles esperavam que o casamento o mudasse.

Devo esclarecer uma coisa: meu pai é gay. Ele só realmente se assumiu para a família quando se divorciou de minha mãe; mas, então, eles já sabiam. Esperavam que a convivência com uma mulher o "curasse", e ele pudesse voltar a ser um "homem normal". Em suma, a família do meu pai é composta por babacas preconceituosos.

Assim que eles se separaram, mamãe e eu nos mudamos para Nova York. Ela recebeu uma boa proposta de emprego em um escritório de advocacia, e começou a seguir seu verdadeiro sonho: o de advogar. Ela nunca pode fazer isso em Lima, Ohio, a pequena cidade onde nasci, e onde atualmente moro. Portanto, NY foi para nós duas um recomeço. Meu pai, todavia, permaneceu em Lima. Ele teria ido conosco, se não tivesse se apaixonado. Os dois passaram a viver juntos, e papai não quis mais ir embora. Nós nos víamos com frequência, contudo. Eu passava todos os verões ao seu lado e de seu companheiro — um cara muito gentil e legal —, e ele me visitava em todos os feriados. Tínhamos um bom arranjo.

Cartas Para Quinn (Faberry)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora