Capítulo 16: Momentos Imperfeitos

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07 de maio de 2012


Querida Quinn,


A primeira vez que me apaixonei, eu tinha treze anos de idade. Foi por minha melhor amiga do Ensino Fundamental, Stacy McAndrews. Ela era a única que tinha coragem de ficar perto de mim, apesar de eu ser a garota esquisita com pais gays, roupas feias, e uma obsessão por musicais e por ser o centro das atenções. Obviamente, ninguém mais queria andar comigo. Stacy, por outro lado, era do tipo de garota que não se importava com o que as outras pessoas pensavam. Aos treze anos, isso é algo bem impressionante.


No dia dos namorados, eu escrevi um bilhete à Stacy. Não assinei com o meu nome, claro, porque eu sabia que ela não gostava de garotas como eu, e porque não queria perder sua amizade. Só queria que ela soubesse que alguém a admirava, que ela era especial. Então coloquei o cartão em seu armário, e esperei que ela me contasse sobre ele, porque ela me contava sobre absolutamente tudo.


Não foi uma das minhas ideias mais brilhantes. Uns garotos me viram colocar o cartão lá. Eles deram um jeito de tirá-lo do armário de Stacy, e o leram em frente a sala inteira. Eles disseram que tinha sido eu. Mesmo que não tivessem provas... Bem, não precisavam. Eu era filha de gays. Em suas cabeças, isso me fazia gay também — o que realmente sou, mas não por causa dos meus pais. Sexualidade não é influência, não é uma escolha. É só quem somos. Uma parte natural de nosso ser. Claro que, aos treze anos, são poucos os que pensam assim. Depois disso, eu saí correndo. A única vez que me lembro de ter chorado tanto quanto aquele dia foi quando descobri que minha mãe foi para o Céu, e eu nunca mais a veria novamente. Você perde alguma coisa. Uma parte da inocência, do seu coração, do seu desconhecimento da dor, da decepção. É terrível, principalmente porque é a primeira vez. Sempre parece que o mundo está desabando, ainda que não esteja.


Stacy me procurou alguns minutos depois. Eu estava no banheiro, escondida, e podia ouvir risinhos vindos de fora. Ela não olhou para mim. Não se aproximou. Disse que não poderíamos mais ser amigas, e eu lhe perguntei o motivo. Não deveria ter perguntado. Stacy ergueu a cabeça e olhou para mim.


"Você é gay", ela sussurrou, como se fosse um crime imperdoável. "Eu não".


Então Stacy, a garota incrível de treze anos que não se importava com a opinião de ninguém, olhou por cima do ombro, provavelmente para ter certeza de que não havia ninguém por perto, e esticou a mão para segurar a minha. Não havia pena em seu olhar. Só um pedido mudo de desculpas.


"Eles vão fazer da minha vida um inferno, Ray. Sinto muito".


Ela se foi. Minha melhor amiga. Minha primeira paixão. A única pessoa com quem eu podia contar em todos os momentos. Eu teria aguentado todas as brincadeiras se ela estivesse ao meu lado. Talvez não afastasse tanto as pessoas como costumava afastar. Talvez não fosse tão desesperada para ter tudo, ser o centro de tudo, conquistar o meu espaço. Talvez.


Lembro-me de ter chegado em casa naquele dia despedaçada. Contei ao meu pai o que havia acontecido, e ele se sentou comigo no sofá e limpou minhas lágrimas. Nunca me esqueci do que Leroy me disse. Ele passou o braço pelo meu ombro e me trouxe para perto, encostando seu queixo no topo da minha cabeça. Encostei minha cabeça em seu peito, e ouvi seus batimentos cardíacos. Foi o que me acalmou. Isso, e a música que ele cantava baixinho em meu ouvido.

Cartas Para Quinn (Faberry)Where stories live. Discover now