Capítulo 22: Casa

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De: Quinn Fabray (qfabray)

Para: Rachel Berry (rachelberry)

Assunto: Casa


Querida Rachel,


Espero que você não se importe por eu ter tomado a iniciativa de escrever, mas o tempo que tenho de acesso ao computador é limitado, e não sei quando poderei estar entrando em contato de novo. Além disso, eu sinto sua falta. Sei que parece estranho dizer isso, já que não faz tanto tempo desde a última vez que nos falamos, só que... Não sei, acho que estive precisando de alguém esses dias.


As coisas aqui não tem ido muito bem. Os rapazes que brigaram fizeram as pazes, só que o clima entre todo mundo continua estranho. Provavelmente porque foi um daqueles tipos de situação que faz com que você tome partido, e apesar de ninguém ter dito em voz alta... Bem, a tensão é grande. É em momentos como esse que sinto mais saudades de casa.


Às vezes me pego sonhando com balsas, flores, ou o cheiro da minha casa. Fico relembrando pequenos momentos de minha infância; relembro o som da risada do meu irmão, a chuva molhando meu rosto, ou como Sam e eu apostávamos corrida na rua de nossa casa, sem nos importar se estava fazendo chuva ou Sol. Lembro do inverno, e de como fazíamos guerra de bola de neve — eu, Sam, e nossos pais —, ou como nos verões íamos ao clube próximo a nossa casa, e passávamos a tarde toda na piscina. Sinto tanta saudade disso. Saudade da liberdade; de não ter preocupações; de sentir como se o mundo fosse tão fácil, tão simples, tão bonito. Sinto saudade da sensação de estar em casa, independe de onde estivesse, porque eu tinha pessoas ao meu redor que eu amava, e que me amavam de volta, incondicionalmente.


Eu gostaria de ter uma penseira, como aquela que Dumbledore tem em seu escritório. Gostaria de pegar todas as boas lembranças que tenho, e colocá-las em frascos. Gostaria de guardá-las em um local mais seguro que minha mente; um local onde eu não corresse o risco de perdê-las. E gostaria de poder vê-las sempre que quisesse. Claro que não seria o mesmo que viver tudo, mas... Bem, observar seria o suficiente. Observar traria aqueles sentimentos de volta, mesmo que por poucos instantes. E isso é tudo o que preciso. Instantes.


Se você pudesse conservar apenas uma memória sua em um frasco para assisti-la quando quisesse, qual você escolheria? A minha seria a do último Natal que tive ao lado dos meus pais. Ainda me lembro de acordar naquela manhã com os gritos do Sam ecoando pela casa. Desci as escadas, quase correndo, animada com os presentes que eu mesma estava prestes a ganhar — e parei no último degrau, admirando a cena. Sam sentado no carpete, com um carrinho de controle remoto a sua frente. Nossos pais sentados no sofá, abraçados, olhando-o como se ele fosse o presente deles; como se ele fosse a coisa mais preciosa que tinham no mundo. E então minha mãe ergueu a cabeça e me viu ali, parada, e ela me olhou do mesmo jeito que estava olhando para o meu irmão. Naquele momento, eu senti. Senti que nós éramos tudo o que eles tinham. Tudo o que eles poderiam querer. Senti aquela sensação boa preencher meu peito, e foi tão quente e acolhedora. Acho que aquela foi a única vez que realmente vi o tamanho do amor que meus pais tinham pela gente. Fiquei tão emocionada que comecei a chorar, e Sam começou a chorar, e meus pais começaram a chorar, e ninguém sabia porque estávamos chorando (risos). Foi um momento único. Especial.


Se algum dia eu perder a memória, essa é a lembrança que eu gostaria que permanecesse em minha mente. Ainda que eu esqueça meu nome, minha idade, quem sou, se eu lembrar desse momento, então eu saberei. Saberei que independentemente de quem seja, eu fui amada. E não é isso que realmente importa?

Cartas Para Quinn (Faberry)Where stories live. Discover now