Capítulo 28: Barreiras

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Quinn encarou a tela do computador, a expectativa fazendo com que seu coração batesse cada vez mais rápido e mais forte. Suas mãos tremiam ligeiramente, e ela sabia que deveria apertar o botão para iniciar a ligação, mas ela não conseguia. Ela não conseguia. Ela sabia que Rachel estava online — ela podia ver o círculo verde ao lado do seu nome —, porém, o nervosismo estava falando mais alto. A mulher passara tanto tempo esperando por esse momento, e agora que ele havia chegado, ela não sabia o que fazer, como se comportar, o que falar. Era como se sua mente estivesse em branco. Sua boca estava seca, e ela se sentia uma bagunça.


Ela não queria ser uma bagunça. Não na frente de Rachel. Não na frente de alguém com quem ela se importava tanto.


Você precisa se acalmar, ela pensou, respirando fundo algumas vezes. A verdade era que Quinn sentia como se ela fosse uma bagunça. Sua vida, sua história, seu passado. Todas as pequenas ou grandes coisas que a haviam transformado em quem ela era... Não foi um caminho fácil, saudável, feliz. Não é como se Rachel não soubesse disso, ou como se ela estivesse escondendo alguma coisa, mas existia uma grande diferença entre ver e saber. Rachel sabia os fardos que Quinn carregava nos ombros, sabia do tamanho do buraco que existia em seu coração, sabia o quanto a mulher lutava contra os demônios do seu passado. Entretanto, ela nunca tinha visto. Ela nunca vira o desespero nos olhos de Quinn. Nunca vira a dor estampada em seu rosto, ou as lágrimas caindo de seus olhos, ou seu corpo todo tremendo enquanto ela se abraçava, tentando se manter inteira, tentando se manter sã.


Às vezes, Quinn ainda sentia como se estivesse batalhando para manter sua mente intacta. Como se um sopro do passado pudesse derrubá-la. Por isso, ela tentava se esconder diante de camadas de barreiras que a impediam de se abrir, de se sentir vulnerável. E, de alguma forma, Rachel derrubara cada uma delas. A garota se infiltrara em sua mente, em seu coração, de uma forma que ninguém mais fizera. Não parecia justo o quanto uma única pessoa poderia significar tanto. Não parecia certo que uma única pessoa pudesse ter tanta influência sobre ela. Mas, mesmo assim, ela sentia que era certo, que era bom. Tão confuso, Quinn pensou, soltando um pequeno suspiro. Ainda havia uma pequena parte dela que queria se proteger, que queria se manter intacta, que queria impedir que Quinn quebrasse o último obstáculo que a impedia de ficar completamente exposta para outra pessoa.


Entretanto, Quinn não tinha mais forças para se esconder. Antes tinha sido tão simples. Quando seus pais morreram, perder-se dentro de si mesma se tornara sua especialidade. Ela mantinha seus sentimentos trancados, a expressão de indiferença perfeitamente ajustada em seu rosto. Era fácil sorrir, porque seus sorrisos não tinham significado; era fácil se manter inteira, porque ela tinha alguém que precisava botar acima dela mesma, acima de suas necessidades. Durante toda a sua vida, ela teve uma válvula de escape. Uma desculpa que a permitiu se afundar cada vez mais naquela escuridão que ela carregava dentro de si.


E então, Rachel havia lhe mostrado a luz. Àquela altura, os olhos de Quinn já estavam cegos. Ela se sentia frequentemente sem esperança, sem fé, e seu coração se enchia cada vez mais de vazio e solidão. Isso foi a consumindo com o tempo. Tornando-a mais fechada, mais guardada, mais assustada. Ela não tinha mais esperanças em relação ao seu futuro, a sua vida, a ela mesma. Quinn vivia um dia após o outro porque ela precisava. Não havia nenhuma paixão pela vida, nenhuma paixão por estar viva, nenhuma vontade que a fazia querer continuar. Era como se ela estivesse ligada no modo automático. Como se ela simplesmente seguisse em frente, e todos os seus problemas se transformassem em uma bola de neve que só crescia e crescia.

Cartas Para Quinn (Faberry)Where stories live. Discover now