30 de Outubro - parte 2

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O tempo passado em Stonehenge tinha sido mágico. Ao mesmo tempo preocupante. Tinha muito em que pensar, mas pouco tempo para isso.Precisávamos nos arrumar rápido para o evento organizado pela comunidade mágica.

     Mesmo atrasados, Arthur não se mostrava nervoso. Como conseguia manter tanta calma? No final, não foi difícil para ele se arrumar. Tinha me esquecido de que os homens sempre se arrumam mais rápido. Achava isso injusto. Para eles,tomar um banho correndo, passar uma colônia e vestir o smoking parecia ser o bastante. Na hora de ele fazer o laço de sua gravata borboleta, pensei que ficaria alguns minutos tendo dificuldade. Não é que conseguiu fazer em um segundo? Já eu precisava tomar meu longo banho de sal grosso, conseguir entrar em meu vestido, fazer o cabelo e me maquiar. Iria tomar um tempo enorme. Ainda tinha que fazer isso com ele me encarando, como se perguntando por que eu demorava tanto.

     Tomava meu banho no banheiro do quarto Fairyland, quando ouvi o celular de Arthur tocar. Mais uma vez o celular tocava. Mesmo com o chuveiro ligado conseguia ouvir o som do toque berrante. Seria a tal gerente de sua empresa? Se fosse, não sabia qual seria minha reação. Saí do banheiro, indo para a cama,onde meu vestido vermelho feito pela Madame Vlaskavovish estava estendido. Caramba! Minha carta com o desenho de Patrick não tinha sido entregue para ele, permanecia na cabeceira da cama. Precisava entregar, mas aquela não parecia ser a hora certa.

     Não ouvia a voz de Arthur falando no celular. Aquilo me preocupava. Em poucos minutos, ouvi passos no corredor parecendo vir até o quarto. Arthur entrou se arrastando, como se tivesse indo para forca, o que me fez questionar se aquilo não tinha um porquê. Foi a primeira vez que realmente prestei atenção em como se vestia. Usava um impecável smoking preto de casaco curto com lapelas de seda. Imagina o quanto isso devia ter custado. A calça possuía as laterais no mesmo material da lapela e uma faixa vermelha, como a do meu vestido, estava presa a sua cintura. Não sabia se havia sido escolhida pela costureira, ou se ele tinha escolhido a mesma cor que eu. Sua camisa branca tinha a frente toda trabalhada, a gravata também tinha a coloração avermelhada. Vestia um sapato clássico preto de verniz. Os cabelos estavam jogados para trás, aparentemente com gel. Um cheiro de colônia invadiu o quarto, no momento, cheio de borboletas. Tinha me esquecido, por alguns instantes, do telefonema.

– Desculpe-me, querida. Terei de sair mais cedo. Houve um pequeno incidente na fábrica. Para piorar minha gerente já havia saído para ir ao baile. Ela é amiga do ministro. Mesmo sendo humana consegue ser convidada – disse Arthur, visualmente abatido com a notícia. – Teria como me encontrar lá em meia hora?

       Desapontada, murmurei um "sim". Ele me deu um beijo na testa, saindo às pressas. No entanto, não parecia achar aquilo tão ruim como eu, por isso tentava fingir que tudo estava bem. Mas que tipo de problema podia ter acontecido na empresa? Ainda mais em uma noite de Halloween! O mais interessante foi ele não comentar quem havia ligado, porque se sua gerente não estava mais na empresa, quem tinha esse tipo de contato com ele? Nessas horas percebi não saber muitas coisas sobre a vida de Arthur. Que péssima namorada eu era! Outra vez dizia namorada. Bem... Só não era porque ele não tinha me pedido em namoro. Fiquei pensando se tinha sentido não ser a gerente na ligação. Sabia que não havia motivos para meu ciúme, mas algo me incomodava nessa história. Fiquei chateada de ter que aparecer em um baile como aquele sozinha, sem conhecer ninguém. Por que ele fazia isso comigo? Aliás, em uma situação dessas qualquer mulher sentiria uma pontadinha de tristeza.

       Coloquei o vestido com cuidado, arrumei meu cabelo em uma bela trança lateral, coloquei o chapéu, brincos e o colar com a fada. Passei uma maquiagem suave com apenas um blush vermelho para combinar. Ao ficar pronta, minha autoestima melhorou.

Consegui tomar coragem.

Rumei sozinha para o Palácio de Buckingham.

       Ao entrar pelos portões laterais, escoltada por dois guardas carrancudos, não conseguia acreditar. Tinha entrado mesmo naquele palácio. Desde pequenininha tinha vontade de conhecê-lo. Naquele local, reis e rainhas se entretinham com festas dedicadas em seu nome e onde, atualmente, chefes de Estado eram recebidos.

A FadaWhere stories live. Discover now