24 de Outubro - parte 1

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Compreensão! A palavra do dia. Senti a decepção percorrendo o corpo. Uma estranha chama consumia meu espírito. Aquilo levava uma grande tristeza ao coração, que, agora, quase nem batia. Era um tum tum fraco. Quase morto. O mesmo que sentia ao lembrar de minha mãe. Do fato de ela não ligar mais para mim. Então permaneci a manhã inteira tentando compreender o que havia acontecido. Não vi ninguém. Vincento foi o único a falar comigo por telefone. Ele ficou bravo, muito aflito, com o sumiço de ontem. Procurou-me por toda a parte, pois eu havia prometido voltar. Não o culpava. Que besteira fiz em não voltar e nem ligar. Agora estava envergonhada. Senti-me a pior amiga possível. Tinha motivos para isso, não é?

      Resolvi dedicar o resto do dia ao meu objetivo. Sentia estar no caminho certo. Pelo menos havia conseguido aquela droga de olhar e, logo em seguida, confirmei que o dono dele existia. Mantive-me viva por causa do misterioso rapaz. Aliás, nós, mulheres, estamos acostumadas com isso. Sempre nos mantemos inteiras, pois temos alguma coisa na cabeça, seja trabalho, amor ou filhos. Idiotice, eu sei. Mas sempre dependemos de algo para sermos felizes em nossas vidas. Nunca temos o bastante. Eu dependia da minha suposta missão.Precisava apenas definir um foco.

    Aí se você pensa... Fadas existem?

    Esse parecia ser um grande dilema! Se achasse que sim, se transformava em algo maior. No geral, as fadas eram consideradas seres imaginários, muitas vezes retratadas como uma visão de perfeição. Sendo assim, se de fato existissem, seriam criaturas maravilhosas. Certo? Mas na verdade essa era uma visão errada. Fadas, humanos, bruxas, enfim, todas as criaturas são seres"imaginários" uns para os outros. Ao pensar nisso, as fadas achariam os humanos seres perfeitos, e sabemos que isso não é verdade. Portanto, as fadas não eram assim tão perfeitinhas.

   Pelo menos eu não era.

    Afinal, perfeição não existia no mundo. Ou existia? Não... Nada nunca seria perfeito. Então eu tentava apenas me sentir viva para encontrar aquele misterioso rapaz.

   Cada dia a floresta e o céu pareciam mudar, tomavam outras cores, ares, tornando-se cada vez mais deslumbrantes. O sol nascente mudava a cor do céu, do rosado no amanhecer para o cinza, típico de Londres. Peguei todos os livros, materiais, ingredientes, enfim, tudo o que era necessário. Consegui carregá-los até a floresta. Mesmo abismada com o peso. Sairia de lá só após localizar o homem misterioso. Não aguentaria ficar parada, esperando que ele corresse em minha direção outra vez. Queria respostas.

   Compreensão! Faria meu mal desaparecer. Iria com garra fazê-lo sumir da minha vida. Sentia o início de um novo ciclo. O meu destino incerto me aguardava para recomeçar uma nova jornada. Meu sexto sentido despertava para lutar pelo melhor. Precisava romper com meu tormento. A ruptura precisava ser profunda. Só assim conseguiria seguir em frente. Ao romper com o passado, surgimos para um futuro sem fantasmas.

    Quem não quer uma vida tranquila? Não ao ponto de ser enfadonha, mas sossegada o bastante para se poder apreciar uma bela manhã. Talvez até abrir os braços com a chegada do sol.

    Eu queria.

    Como eu queria.

        Entrei na floresta. Passei por árvores altas que me mantinham na sombra. Elas filtravam a luz do sol fraco e se destacavam como se fossem fogo, por conta do outono. Alcancei a clareira que visitei um dia antes. Identifiquei pelo resto de lenha da fogueira anterior. Também pelas cinzas ainda espalhadas no chão. Procurei novos galhos para reacender o fogo. Ao ver a fogueira em chamas, observei figuras se formarem como bonequinhos de sombra a brincar pelas labaredas. Por si próprio, o fogo sempre foi um elemento mágico. Ele encantava, mostrava força e, sobretudo, simbolizava poder. Transmitia isso. Sentia-me mais forte ao observá-lo.

A FadaWhere stories live. Discover now