29 de Outubro - parte 1

38 5 0
                                    

Havia um tipo de beleza no ato de observar uma pessoa dormindo. Olhos um pouco rasgados e lábios carnudos era o que eu via ao acordar com a luz forte do sol na janela esquecida aberta. O rapaz ao meu lado tinha a pele sedosa, traços simétricos e milhares de outros detalhes que podiam ser minuciosamente observados. Como Arthur era lindo. A noite romântica tinha sido mágica como o primeiro dia que se vê o mar. Como no primeiro beijo ou a primeira vez que se vê um castelo como o de Fairyland. Minhas pernas ainda tremiam, a boca sentia a pressão dos lábios que a tinha beijado por toda a noite. O corpo estava suado como se fizesse 40oC. Não sabia se era do cobertor que escondia meu corpo nu ou se era do calor que o homem observado me transmitia.

          Naquela noite havia me tornado, enfim, mulher.

          Agora meus olhos estavam totalmente acostumados ao novo dia. Em poucos segundos achei minha camisola jogada no chão. Ele, sem notar que eu estava acordada, puxou a coberta para a altura do queixo, e eu ouvi o ruído de sua respiração profunda. Continuei me vestindo, puxando a calcinha perdida do meio do lençol, até que em um movimento repentino ele abriu os olhos lentamente. Não sabia como iria agir comigo após nossa noite de amor, mas queria descobrir.

       A primeira coisa que Arthur fez ao me ver foi sorrir. Aquele sorriso que fazia minhas pernas parecerem gelatinas. Ele sentou e me agarrou pela cintura derrubando-me na cama. Não queria me deixar sair de lá. Ficamos algum tempo nos beijando. A língua quente invadia minha boca com um gosto de pasta de dente de hortelã que não entendia de onde vinha, já que tínhamos acabado de acordar. O movimento do beijo começou suave, mas logo se tornou mais vigoroso. Tive que afastá-lo, delicadamente, senão a noite passada iria se repetir. Por mais apaixonada que estivesse não podia passar o dia inteiro na cama. Tínhamos um longo dia pela frente e, mesmo com o encontro do holograma de Veronika, não podia esquecer as responsabilidades. Apesar de querer ficar para sempre naquele quarto, sentia que minha missão estava cada vez mais próxima. As recentes informações me davam esperança de entender um pouco minha vida.

        Quando eram quase duas horas da tarde, Arthur me chamou no ESCRITÓRIO – IRLANDA. Nas mãos havia um envelope preto com o detalhe de uma abóbora saliente. Sentei-me no canto da mesa em que Arthur trabalhava. Ele abriu o envelope e dele tirou um pergaminho. O rapaz leu para mim em voz alta:

Queridos bruxos(as) e criaturas mágicas,Exatamente às 21h do dia 30 de outubro irá acontecer em nosso grande e magnífico salão de festas a nossa confraternização de Samhain (também conhecida como o Dia das almas ou Dia das Bruxas).Como todos sabem, essa celebração é completamente fechada.Qualquer penetra que tiver a intenção de entrar será posto para fora e terá a memória alterada.Tudo isso para manter nossas identidades em sigilo e para podermos comemorar esse dia tão importante sem transtornos.Então esperamos todos os nossos amigos de sempre em nossa mágica comemoração. É claro que uma confirmação é sempre muito bem-vinda, por isso, esperamos a sua até dia 29.Grave bem todas as informações deste convite, pois ele se autodestruirá após sua leitura.

Grato, Mister Pompílio Glasvack 

Ministro das Relações de Seres Mágicos

          O som da explosão que veio do papel me fez pular de volta ao chão. Quase tropecei na cadeira de Arthur e desabei de joelhos no duro carpete de sisal.

         – Uau! Impressionante – disse recuperada do susto. – Meus pais me enganavam direitinho. Todos os Dias das bruxas eles costumavam sair de casa. Inventavam várias desculpas absurdas. Eu achava que era o dia de eles namorarem, mas na época nem notei o verdadeiro motivo. Como funciona essa festa?

      – Essa é uma festa mais para adultos, por isso fui somente duas vezes com meus pais e outra vez sozinho, após me recuperar do choque inicial. O salão de festas sobre qual eles falam no convite é o famoso salão do Palácio de Buckingham. A rainha adora esse tipo de evento mágico. Como ela sabe sobre nossa comunidade, nos deixa todos os anos organizar a festa lá. Claro que sem a imprensa dos humanos saber.

     Curiosa, queria saber mais sobre a tal festa. Nunca fui muito de ir a confraternizações. No máximo alguma do colégio. Agora um evento mágico parecia interessante.

    – Mas o que acontece em um baile desses? O que eles usam? – Vejo que a curiosidade matou o gato – brincou Arthur. – Nesse baile você vê todas as diferentes criaturas nas roupas de gala mais extravagantes. Há rituais e feitiços. Eles costumam falar sobre como estão seus povos. Esses tipos de assuntos políticos.

     Enquanto Arthur contava, lembrei-me de quando ele disse não acreditar em fadas. Provavelmente por sua memória ter ficado bloqueada. Ele tinha apagado as fadas da mente, mas agora que a havia recuperado, poderia se lembrar de ter visto alguma no baile.

    O rapaz levantou jogando as cinzas do convite no lixo. Animado, me deu um grande e estalado beijo e perguntou:

   – Vai querer ir à festa? Eu faço o que você quiser, princesa.

     Aquiesci mostrando-me animada. Sorria de orelha a orelha. Iria conhecer as outras criaturas mágicas. Estava animada com isso.

    – Então vá se arrumar. Hoje vamos às compras!

     Compras? Como assim? O importante era que ele queria ir a uma festa da sociedade mágica comigo. Iria me apresentar como sua mulher. Pelo menos era o que eu achava. Não conseguia mais controlar minha ansiedade. Estava muito feliz. Então iríamos às compras!

A FadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora