29 de Outubro - parte 2

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Do lado de fora, observava as nuvens carregadas finalmente tomando o céu por completo. Sentia-me bem. Talvez fosse ruim chover como de costume em Londres, principalmente no outono, mas qualquer coisa era melhor do que mais um dia com o sol ardendo os olhos. Um dia de sol era bonito, mas o céu cinzento combinava mais comigo. Não por ser triste, ao contrário, me sentia muito feliz, mas por ser misterioso.

     A rua onde andávamos se estendia por uma grande parte das zonas um e dois, serpenteando como uma cobra negra por entre as casas e monumentos históricos deslumbrantes que turistas paravam para tirar fotos.

    Não tinha a menor ideia de onde iríamos comprar nossas roupas para o baile. Arthur parecia saber o local perfeito. Estava empolgado, andando comigo de mãos dadas e sempre me dando um leve beijo nos lábios. O evento parecia ter trazido boas recordações a ele.

   Chegamos a uma parte da cidade que eu conhecia. Aquele era o bairro de Camden Town, que abrigava um dos maiores comércios de rua da Inglaterra. Por mais que o bairro fosse frequentado por pessoas alternativas, descoladas, com aparência bizarra ou algo do tipo, era possível achar uma roupa de gala por lá.

– Que tipo de loja procuramos? – perguntei.

– Conheço uma senhora que é uma das melhores costureiras que já vi. Ela também é uma bruxa e costuma fazer vestidos especiais para ocasiões como esta. Temos que encontrá-la aqui no mercado para nos levar a sua loja.

– Não podemos ir direto para lá?

– Infelizmente não. Esqueci de te falar que ela é louca de pedra. Só atende pessoas que diz serem "criaturas boas". Muda-se sempre de local para afastar os "maus elementos". Mas é a melhor costureira mágica que existe.

      Andamos pelas ruas de Camden Town onde tudo era diferente e interessante. As lojas possuíam artigos e roupas para punks, góticos e afins. Muitas delas tendo seu interior completamente negro, com pilhas de roupas pretas e correntes para todos os lados. O exterior das lojas era o que mais chamava atenção. Os donos pintavam dragões, escorpiões, sapatos, caveiras e diversas imagens para atrair o público com cores vibrantes contrastando com os interiores. Havia réplicas de chapéus gigantes, robôs, flores e até mesmo pés pendurados nas paredes. O som de risos e música underground vinha de todos os lados. No mercado, o cheiro de comida era forte, uma mistura de pizza com comida indiana. Lá as lojas deixavam de ser tão sombrias, mas ainda mantinham o toque excêntrico de Camden. No final, acabei pensando: Gostava de Camden. Mas ainda não tínhamos achado a bruxa costureira.

     Quase no final de um dos corredores do mercado, avistamos uma velhinha corcunda de cabelos ruivos ralos e boca enrugada, provavelmente de tanto se aborrecer com os "maus elementos". Seu longo chapéu preto de bruxa chamava atenção, mas nem tanto, já que para um local como aquele isso parecia normal. Estava sentada em um trono de metal escuro, segurando um cajado de madeira com uma pedra turquesa em cima. Em qualquer outro lugar seria considerada louca ou estranha. 

    Não em Camden.

– Madame Vlaskavovish? Lembra-se de mim?

    A senhora riu do comentário, mostrando os poucos dentes que ainda restavam em sua boca.

– Filho de bruxos como seus pais é impossível esquecer.

   Notei que um dos dentes era de ouro.

– O mesmo digo a você, senhorita das fadas – complementou a bruxa.

– A senhora sabe quem eu sou?

– Claro que sei! A roupa que está usando, por exemplo, é uma parceria minha com uma fada estilista de sua dimensão. Criei a maioria de suas roupas, querida! Derrick sempre vinha me visitar. Amava seu pai. Ele era muito engraçado. Um bom espírito. Se não fosse casado, teria o roubado para mim.

A FadaWhere stories live. Discover now