30 de Outubro - parte 1

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Exatamente como vinha acontecendo em todas as manhãs nos últimos dias, acordei com Arthur ao meu lado. Todo o meu corpo se arrepiou de felicidade ao vê-lo. Agora, se iria mantê-la pelo resto do dia, já era difícil de prever. Todos os dias, encarava o rapaz dormindo; naquele não foi diferente. Sempre tinha medo de acordá-lo, ainda assim ficava aliviada ao ouvi-lo respirar; sentindo-me segura de saber que meu amor dormia tranquilamente. Mas mais uma vez ele acordava com meu barulho. Naquela manhã tinha sido com o som do movimento da minha coberta. Fazer o quê? Sempre fui muito estabanada.


   Assistimos ao nascer do sol pela janela, uma mistura de azul royal com cor-de-rosa. Olhamo-nos apaixonados, ficando claro que todas as esquisitices haviam desaparecido. Uma coisa era certa: estávamos apaixonados.

– Quero aproveitar o dia para lhe mostrar um lugar especial – disse Arthur levantando-se da cama.

   Ao mesmo tempo, o celular do rapaz tocou em um volume ensurdecedor. Enquanto o trim trim trim continuava, procuramos por todos os lugares o aparelho, desde as cobertas até as roupas espalhadas pelo chão, respirando fundo para mantermos a calma. Para minha surpresa, a primeira ligação que Arthur recebia pela manhã era uma bronca, pelo tom da voz do outro lado da linha, ainda por cima de uma mulher. Eram seis e meia da manhã. Não entendi o motivo da ligação. Eu estava sentada na cama morrendo de ciúmes. Queria saber quem havia ligado para ele. O rapaz saiu da cama apressado, dizendo que teria de adiar nosso passeio por algumas horas, e se trancou no banheiro. Fiquei furiosa. Não queria toda a atenção para mim; não queria que ficasse dando satisfações ou perguntando como eu estava me sentindo. Mas ele não me perguntou nem o que eu iria fazer enquanto não voltasse. Ele poderia ficar o dia todo fora de casa. Queria apenas consideração. Conversa. Não era fácil para uma mulher acordar com o namorado – se o podia chamar assim – levando bronca de outra mulher no telefone.

     Depois de ficar quase o dia todo enrolando, conseguimos fazer o tal passeio à tarde. Entramos no carro dele e seguimos viagem para o lugar especial. Dessa vez o passeio foi mais longe. Já imaginava a distância, por termos pegado o carro. Quem em Londres usa automóvel hoje em dia? O trânsito sempre foi um inferno, agora ainda mais. De dez em dez minutos ficava com vontade de perguntar se estávamos chegando. Parecia até uma criança em dia de excursão. Depois de torrar a paciência do garoto, ele apenas falou que estávamos indo para a planície de Salisbury, no sul da Inglaterra. Legal. Tinha tantas coisas para fazer por lá, que seria difícil descobrir qual local visitaríamos.

     Uma hora se passou.

– Estamos chegando? – perguntei.

   Nada de resposta. Duas horas se passaram... Será que era agora? Nada. A conversa até estava me entretendo, mas ela nunca acabaria com minha curiosidade. Ele parecia achar graça nisso. Sempre ria com minhas expressões mal-humoradas ou ansiosas.

   Estava quase ficando entediada, quando vi uma placa que me chamou atenção.

– Estamos indo para o Stonehenge? – perguntei animada, vendo a placa que avisava aos turistas que o monumento estava próximo.

– Você ainda não percebeu? Não vou te dar mais detalhes.

   Mas que saco! Bem... se fôssemos visitar o estranho e indecifrável Stonehenge seria interessante. Nunca havia visitado um lugar mágico com alguém que acreditava em magia. Quer dizer, já tinha ido com meus pais, mas até então eles eram britânicos normais, funcionários do Parlamento.

   O Stonehenge sempre foi meu monumento predileto. Primeiro porque era pré-histórico. Quem não gosta de coisas pré-históricas? Segundo, porque até hoje não se sabia nada de concreto sobre sua origem, bem como sua função. E ainda acreditavam que era usado para estudos astronômicos, mágicos ou religiosos. Perfeito para mim. Também para Arthur. Se estivéssemos indo para Stonehenge o dia seria mágico. 

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