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Em dado momento, as pálpebras de Calendra começaram a pesar

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Em dado momento, as pálpebras de Calendra começaram a pesar. Ela lutava para mantê-las abertas, tentando ao máximo não perder nenhum fio da conversa, mas os sonhos acabaram espreitando sua mente pouco a pouco, suficientes para fazê-la cochilar sentada.

Quando deu por si, estava com a cabeça apoiada no ombro de seu irmão. Ele usava o dedo para cutucá-la de leve na perna.

— Por que não vai descansar? — Rohden disse em um sussurro em seu ouvido. Havia um sorriso despreocupado lhe beirando os lábios.

— Hum? — Murmurou ela, ainda atordoada.

— Já está tarde. Você deveria ir para o seu quarto dormir um pouco, recuperar as energias. Adilah não sumirá durante a noite, nem os meninos, fique tranquila.

— Mas eu queria tanto ficar aqui e saber mais sobre eles! — Protestou.

— Nada a impede de conversar amanhã, ou depois de amanhã e assim por diante...

— Ouça seu irmão, Calendra. — Tia Marion os interrompeu, com um olhar contemplativo. Ela sorriu para a sobrinha e lhe acariciou os cabelos. — Prometo que não farei mais perguntas sem que esteja presente para ouvi-las.

— Ah, já que é assim, tudo bem. — Rendeu-se ela. — Estou mesmo bem cansada. — Então ela se levantou e abanou o pó das saias, virando-se para todos. — Vou me recolher. Boa noite a todos vocês.

— Boa noite! — Responderam em uníssono. Ela sorriu e se retirou.

Em seus aposentos, Calendra parou em frente à cama e cogitou seriamente se jogar ali sem sequer colocar a roupa de dormir ou escovar os dentes. A maciez do colchão e o calor dos cobertores eram tentadores demais e, mesmo que tivesse passado o restante da tarde descansando no sofá, não se sentia totalmente recuperada.

Com um suspiro frustrado, virou-se de costas para a cama e deu um jeito de se arrumar o mais depressa possível — o que nunca parecia depressa o suficiente, visto que seus ferimentos ainda eram um obstáculo difícil de transpor. Não era como se eles houvessem parado de arder durante o dia, mas estiveram sempre em segundo plano em sua mente. Agora, entretanto, o latejo viera firme, tendo surgido aos poucos apenas para se acomodar como se decidido a não a deixar dormir.

Com muita dificuldade, vestiu o mais leve dos trajes de dormir e se deitou sob os lençóis, apoiando a cabeça no travesseiro. Permaneceu encarando o teto, o sono escapando de seu alcance. Sabia que não deveria ter dado ouvidos ao seu irmão. Ela era a única que sabia quão caro era o seu dia de trabalho em casa, quanto era necessário para Calendra deixar o corpo cansado, até mesmo exausto.

Devido aos cochilos da tarde, sentia a cabeça leve como uma pluma. Fora fácil ignorar os constantes chamados do lado de lá naquele meio tempo, pois havia tantas coisas para pensar e descobrir, mas agora não estava tão certa de como faria para se livrar dele. O lado de lá costumava ser uma pulguinha atrás da orelha, uma presença constante, porém dispensável. Fazia tempo que Calendra não se permitia acessá-lo, com medo do que poderia ser revelado. Sozinha no quarto, entretanto, temia-o.

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