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Acordou com a suave sensação da brisa fazendo balançar seus cabelos

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Acordou com a suave sensação da brisa fazendo balançar seus cabelos. O céu estava escuro e salpicado de estrelas, o bastante para iluminar a relva e os galhos das árvores se agitando preguiçosamente pela ação do vento. A temperatura era amena e agradável e a lua se destacava redonda e prateada no horizonte.

Antes que Calendra pudesse se convencer de que estava diante de uma pintura impressionante, os sons da noite ocuparam seus ouvidos: um riacho ruidoso, grilos e sapos, os pios de uma coruja. Perto da margem de águas cristalinas, um cervo inclinou a cabeça com sua imensa e majestosa galhada para saciar a sede.

Seus lábios se repuxaram em um sorriso, feliz por aquela não ser uma visão de morte e tragédia, mas, sim, de algo belo. Observou com atenção aquele cenário se estendendo diante dela até que não suportou mais a posição de espectadora. Agarrando as saias do vestido, ela se aproximou cuidadosamente do local em que o cervo estava parado, mergulhando seus pés na água. Para sua surpresa, sua presença não incomodou o animal, que permaneceu despreocupado enquanto bebia do riacho. Depois, quando por fim terminou, trotou até o pasto e começou a devorar o capim.

Calendra não sabia o que pensar a respeito daquilo. Enquanto sentia a água gelada bater nas canelas, mirou o cervo com as sobrancelhas franzidas, curiosa. Por mais que estivesse em meio a uma visão, certamente o comportamento dele não parecia natural. Aquele tipo de animal tinha o instinto de preservação muito aflorado, principalmente na presença de seres humanos, pois era sua caça favorita; mas aquele não demonstrava receio ou medo. Podia-se dizer, inclusive, que estava cômodo com o fato de ela estar ali.

Uma rajada de vento mais forte soprou de repente, fazendo as folhas das árvores caírem com rebuliço, girando até tocar o chão. A imagem chamou a atenção de Calendra para o denso bosque que se estendia em uma linha quase perpendicular perto dali. Os carvalhos imensos e de galhos compridos faziam sombras para dentro da mata, tão escuras que Calendra não conseguia enxergar mais de um palmo para frente. Entretanto, estava certa de que ouvira uma voz soar de lá, trazida quando o vento soprara daquela direção.

Deu alguns passos para fora da água, mas logo estacou no lugar, insegura se deveria continuar seguindo aquele caminho ou não. Sabia muito bem o que a voz que ouvia significava. Ela seria atraída pelo lamento, pelas lágrimas, até encontrar uma cena terrível. Não sabia se estava preparada para encarar o que estava no meio daquelas árvores e, além do mais, temia se perder lá dentro.

Pelo canto do olho, notou que o cervo se movia pela grama, e o que mais a impressionou foi que, ao invés de se afastar, ele andou calmamente ao encontro dela; aquela silhueta altiva se aproximando cada vez mais de onde ela estava parada no leito do riacho.

Temerosa, esticou a mão para tocar na pelagem macia dele, e o contato com o corpo quente foi maravilhoso. Ela afundou os dedos ali, acariciando-o com carinho na base dos flancos. O cervo curvou a cabeça levemente ao sentir o toque, mas logo se afastou para longe outra vez. Calendra não entendeu de imediato o que ele pretendia; só compreendeu quando ele se voltou para ela, encarou-a com aqueles seus profundos e grandes olhos castanhos e aguardou.

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