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Tudo que Calendra ouvia ao redor era o silêncio

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Tudo que Calendra ouvia ao redor era o silêncio.

Assim que constatou o fato de estar sozinha, cerrou as pálpebras e relaxou os ombros, permitindo a si mesma sucumbir à exaustão. Seus joelhos foram com força em direção ao chão, sendo amparados apenas pelas gramíneas ressecadas que cobriam o solo. Tinha de admitir que a solidão não era assim tão ruim, ainda mais depois de toda a agitação que permeara a gruta há apenas uns instantes. Ouvir os sons de sua própria respiração, das gotas de água a pingar a partir das raízes do teto, formando poças amarronzadas a seus pés, do leve crocitar de Ishtar pousado perto de si, enchia-a de uma sensação de paz como poucas vezes sentira.

Soltou um suspiro cheio de alívio, descendo o olhar para os braços feridos. Dava-se conta apenas naquele instante de como ardiam, parecendo que estavam em chamas. Deles, o sangue escorria livremente, encharcando o tecido que servia de bandagem. Calendra não sabia o que fazer para estancar o sangramento, e a única pessoa capaz de lhe ajudar estava muito distante para atendê-la.

Mesmo assim, não se importou. Seu coração parecia inchado dentro do peito, preenchido de alegria e leveza. Era como se as palavras de sua avó, as quais ainda deslizavam pelo ar como as notas de uma canção, tiveram o surpreendente efeito de acalmá-lo. Se soubesse antes que aquilo aconteceria — ou que sequer fosse possível —, talvez não tivesse hesitado tanto em aceitar o seu destino.

Entretanto, como nada em sua vida era um sossego completo, não tardou para ouvir atrás de si uma risadinha. O som a pegou de surpresa pela improbabilidade, fazendo seus temores voltarem com intensidade. Com cautela e muita lentidão, foi girando o corpo na direção da entrada da câmara. Sentia-se tremer sem controle, a boca ressecada de pavor. De olhos estreitados, lançou uma espiadela para a escuridão, deparando-se com dois pontos brilhantes que a encaravam silenciosamente desde as sombras.

Seu corpo foi tomado pelo mais completo choque. Enquanto aquele par de olhos a observava, pensou nas possibilidades. Sabia que estava encurralada ali dentro. Não havia maneira de escapar. Além disso, sentia-se tão enfraquecida que duvidava sequer de que fosse capaz de se levantar e correr sem desmaiar.

Por isso, permaneceu lá, estática no mesmo lugar, apenas a observar os movimentos da criatura que estivesse ali. Esperou e esperou, mas nada aconteceu. Os olhares de ambas estavam fixos um ao outro, investigando, testando... um instante depois, porém, soou novamente a sua risadinha, uma que reconhecia de algum lugar.

Logo em seguida, a criatura aproximou-se um pouco mais, a ponto de que Calendra conseguisse divisar melhor os seus contornos. Ela tinha baixa estatura e um sorriso medonho se esticando na pele do rosto, o qual reluzia no espaço escuro.

De repente soube quem era aquela criatura.

— Pelo fogo em brasa! Sooúl, você me assustou! — Calendra levou a mão ao peito, sentindo o coração bater feito louco contra suas costelas. A velha se limitou a rir, preenchendo o ar com sua voz sinistra, tanto que Calendra se perguntou como não a percebera antes. Deu alguns passos na sua direção e chegou mais perto de onde se encontrava. À medida que andava, trazia consigo uma luz amarelada e vibrante, como a de uma fogueira. No entanto, ali não havia fogo algum. A luminosidade parecia vir da própria gruta.

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